Biblioteca de Manguinhos celebra 115 anos de informação e inovação

por
André Bezerra
,
24/11/2015

Abordando a memória da instituição e importância de seus acervos e serviços prestados à pesquisa e à comunidade científica da Fiocruz, a Biblioteca de Manguinhos realizou seminário comemorativo dos seus 115 anos, na manhã de segunda-feira, 23 de novembro, no Salão de Leitura Henrique Lenzi. O evento contou com uma programação pensada para mostrar como era a pesquisa por informação científica na época de Oswaldo Cruz e como se desenvolveu ao longo dessa trajetória de mais de um século. Além disso, aspectos da pesquisa em documentos arquivados jogou luz à questão da salvaguarda do patrimônio.

A primeira palestrante da sessão foi a servidora aposentada do Icict Alice Ferry, que atuou na Biblioteca de Manguinhos, dentre outros setores da Fiocruz. Jornalista e especialista em informação e documentação, com pós-doutorado em estudos culturais, a pesquisadora demonstrou como Oswaldo Cruz foi um pioneiro da ciência da informação no Brasil, devido às diversas inovações que empreendeu em suas atividades de pesquisa e gestão do conhecimento.

A partir do alto, à esquerda, em ordem horária: Fátima Duarte, chefe da Biblioteca de Manguinhos, Umberto Trigueiros, Diretor do Icict, Alexandre Medeiros, Cristiane d'Avila e Alice Ferry. (Foto: Raquel Portugal - Multimeios/Icict).

“Uma das principais preocupações de Oswaldo Cruz era fazer circular a informação”, explicou Ferry. O cientista brasileiro, em sua história à frente do Instituto Soroterápico e, posteriormente, Instituto Oswaldo Cruz, fez questão de guardar diversos suportes de informação, de acordo com os preceitos mais modernos da organização do conhecimento, privilegiando não apenas livros, mas periódicos, revistas, folhetos, cartazes, fotografias e até filmes. Dessa forma, a Biblioteca de Manguinhos já nasceu como uma instituição inovadora.

Além da formação do acervo, a pesquisadora descreveu outras iniciativas inovadoras de Oswaldo Cruz no campo da informação, como as exposições internacionais, a produção de materiais audiovisuais e as coleções biológicas, que incluem diversas culturas bacteriológicas ou amostras microbiológicas. “Era uma visão muito moderna de que todos esses elementos contêm informação e servem como material para outros pesquisadores”, avaliou.

Ao final da palestra, emocionada, Alice Ferry destacou os esforços abnegados do cientista Oswaldo Cruz. Mesmo convivendo com doença renal, se dedicou em diferentes expedições por territórios brasileiros e à administração da Fundação que levava seu nome, até se mudar para a cidade de Petrópolis por motivos de saúde. “Ele morreu aos 44 anos, mas deixou um legado muito grande. Foram muitas realizações, mesmo doente, pela saúde das pessoas e o desenvolvimento de uma ciência brasileira”, concluiu.

Sistemas inovadores de informação

Em seguida, o bibliotecário Alexandre Medeiros, chefe da Biblioteca do Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz), fez um histórico da informação na formação da Biblioteca de Manguinhos. “Oswaldo Cruz tinha um entendimento de que para se fazer uma nova ciência, era preciso informação, e para isso era fundamental uma biblioteca”, contou. Ela era tão importante para o projeto da instituição, que, quando foi construído o Castelo Mourisco, seda da Fiocruz, a Biblioteca recebeu a sala com maior tratamento artístico do projeto arquitetônico.

Os livros continham selos próprios de ex-libris e recebiam encadernações especializadas. E para manter a informação sempre dinâmica, foi investido muito em assinaturas de periódicos. “A partir daí, foi criado um fluxo de informação chamado de Mesa das Quartas-Feiras”, explicou Medeiros. O procedimento era convocar o corpo de pesquisadores para contribuir na classificação e organização dos conteúdos presentes nos periódicos, em reunião semanal, de forma que a informação se tornava mais acessível e clara aos pesquisadores. “Esse sistema permitiu que o então Instituto Oswaldo Cruz tivesse uma prolífica produção científica, para além da produção das vacinas”, apontou o palestrante. A prática da mesa continuou vigente na gestão de Carlos Chagas e depois foi adotada pelo Instituto Biológico de São Paulo, onde também foi praticada, mas nos dias de quinta-feira.

Por fim, a jornalista Cristiane d’Avila, assessora de comunicação do Icict, dividiu com o público sua experiência de pesquisa nas cartas do jornalista carioca João do Rio, que foi contemporâneo de Oswaldo Cruz e o principal cronista a registrar com precisão as transformações políticas, sociais e culturais daquele período, durante as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos. Sua pesquisa de doutorado se debruçou sobre a correspondência entre o autor e João de Barros e Carlos Malheiros Dias, homens de letras e jornalistas portugueses.

“As cartas revelam a relação de João do Rio com Portugal num momento em que as relações entre esses países eram confrontadas por intensa rejeição brasileira à herança cultural portuguesa”, explicou a jornalista. Para Cristiane, que encontrou as cartas inéditas sob a guarda da Biblioteca Nacional de Portugal, o papel dessas instituições é fundamental para a preservação da memória. “Graças às bibliotecas o material de pesquisa é preservado e acessado", defendeu.

A Seção de Obras Raras da Biblioteca de Manguinhos, que possui três exemplares raros da bibliografia de João do Rio, preparou uma pequena exposição dos exemplares no salão de leitura (Foto: Capa de "A alma encantadora das ruas", uma das obras mais conhecidas do autor, em edição preservada pela instituição).

Umberto Trigueiros saudou os 115 anos da Biblioteca de Manguinhos como um momento também de renovação. “Essa Biblioteca é uma joia da informação em saúde e biociências, e é uma responsabilidade enorme sua preservação e desenvolvimento. Hoje em dia se encontra na fronteira da tecnologia da informação e se reinventa, assim como seus profissionais”, ponderou Trigueiros.

A atividade contou com sorteio de livros para os colaboradores e convidados, e prosseguiu para uma homenagem a Francisco Viacava, do Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict), que recebeu o título de Pesquisador Emérito da Fiocruz.

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Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668

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