ICICT | Fiocruz - Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Estudantes e pesquisadores se reuniram na sexta-feira, 03 de julho, no auditório do Icict para o seminário acadêmico “Ciência cidadã e determinação social da saúde: desafios e perspectivas”, do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/Icict). Organizado pelos próprios alunos do programa, sob orientação da professora Cristina Guimarães, o evento debateu processos abertos e colaborativos de produção do conhecimento em direção a uma ciência aberta e participativa.

A primeira palestrante da sessão foi Sarita Albagli, do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict/UFRJ), especialista em Ciência da Informação. Sua apresentação esteve focada em torno do conceito de ciência aberta, incluindo uma série de questões como processos ligados à cultura livre digital e movimentos de acesso aberto ao conhecimento.

“Pode-se dizer que a ciência aberta é um termo guarda-chuva. Começou pelo movimento de acesso livre a publicações científicas, como uma reação ao surto patrimonialista em torno da produção, que é o aumento elevado dos custos de acesso às publicações e editoras proprietárias. Todo esse movimento que surgiu a partir daí foi se abrindo para muitas outras vertentes e, portanto, vai incorporando outros termos à agenda. Hoje, a gente tem não só acesso livre às publicações científicas, mas também dados científicos abertos, ferramentas científicas abertas no campo do software e do hardware, os cadernos de pesquisa abertos, chamados por alguns de wikipesquisa, ciência cidadã e educação aberta”, explica a pesquisadora.

Para ela, há uma discussão contínua em torno da temática. “Ciência aberta é um conceito em construção. O próprio conceito de abertura está em disputa. A pergunta é se a gente está falando de ciência aberta estritamente no campo científico ou a gente está falando de abertura para um leque maior de atores sociais e uma porosidade, uma interlocução maior da ciência com outros tipos de saberes”, questiona Sarita.

A convidada apresentou iniciativas de pesquisa e redes de troca de conhecimento sobre a questão, como o grupo Wikiversidade Ciência Aberta. A fala foi saudada pela mediadora da conversa. “O conhecimento científico contemporâneo está cada vez mais especializado, mais incorporado ao sistema de especialistas e a equipamentos de alta complexidade e a dialetos que muitos poucos falam. É uma questão para a gente pensar”, comentou a mediadora Mônica Teixeira, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e colaboradora do PPGICS.

Em seguida, se apresentou Luis David Castiel, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). Reconhecido por estudos que abordam os aspectos teóricos e conceituais das ciências da saúde e filosofia aplicada às ciências da saúde, entre outros, o professor lançou um questionamento sobre a relação entre sociedade, ciência, consumo e cidadania. “O quanto o termo cidadão está diretamente ligado ao termo consumidor? E como é que pode haver consumidores cidadãos? Porque, às vezes, você é consumidor e não é cidadão”, apontou.

Ao mesmo tempo bem-humorado e crítico, o professor levantou uma série de questões ético-políticas referentes ao campos científico. “Temos que ver cada ciência, suas finalidades e suas premissas. A minha questão é muito mais problematizar a ciência e ver de que maneira ela pode servir ou não a desejos e anseios de cidadania”, completou.

O debate foi transmitido pela internet e no menu lateral é possível ver todas as apresentações e o debate com a participação dos alunos. A comissão organizadora foi composta por estudantes de doutorado do programa de pós-graduação, como parte de sua formação acadêmica.