Fiocruz apresenta resultados de pesquisa sobre crack e exclusão social

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Informe Ensp
,
14/10/2016

Nos últimos anos o consumo de crack apresentou crescimento considerável no Brasil. Algumas regiões, principalmente os grandes centros urbanos - nos quais existe maior visibilidade do uso da droga - vem buscando alternativas no intuito de minimizar danos e riscos do uso prejudicial da substância. Diante dos altos índices de consumo do crack no país a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) encomendou a Pesquisa Nacional sobre o Crack, desenvolvida pela Fiocruz, com apoio da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da instituição e coordenada pelo pesquisador Francisco Inácio Bastos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). O estudo revelou que o Brasil possui 370 mil usuários regulares de crack nas capitais, sendo aproximadamente 80% deles homens, negros, de baixa escolaridade e renda, com média de idade de 30 anos. Posteriormente a Senad encomendou outra pesquisa, dessa vez no intuito de investigar a relação entre o uso do crack e processos de exclusão e desclassificação social em diferentes esferas e dimensões. Coordenada pelo sociólogo Jessé Souza, professor titular do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a pesquisa aponta que a relação entre exclusão social e uso de crack é fundamental para desenhar políticas e formar linhas de cuidado para pessoas que tenham problemas com drogas. Complementares, as pesquisas apontam o forte estigma e exclusão social dos usuários. Com o objetivo de apresentar e debater os resultados da pesquisa que analisa o crack e a exclusão social, passando por diversos pontos abordados na Pesquisa Nacional sobre o Crack, no dia 21 de outubro, será realizado na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) o seminário Crack e Exclusão Social, a partir das 9 horas.

A atividade será coordenada pelo psicólogo Francisco Netto, membro do Programa Institucional de Álcool, Crack e outras Drogas da Fiocruz e mestre em Saúde Pública pela ENSP, e contará com a participação do psiquiatra e ex-diretor de Articulação e Projetos da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça e Cidadania, Leon Garcia, e de profissionais que atuaram na equipe da pesquisa Crack e Exclusão Social: Roberto Dutra Torres, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), e os sociólogos Brand Arenari e Ricardo Visser, além dos estudantes de graduação da UENF Vanessa Henriques e Filipe Coutinho. Participará também, como debatedora, a médica de Família e Comunidade Valeska Holst Antunes, integrante do projeto Consultório na Rua em Manguinhos.

Disponível on-line, a pesquisa representa parte do esforço articulado entre governo e academia no intuito de aprofundar o debate sobre as pessoas que usam drogas no Brasil e seus contextos de vida. Segundo Leon Garcia, que assina a apresentação do relatório da pesquisa, quando o tema das drogas ganhou destaque no panorama político-midiático brasileiro, em 2010, não foi o álcool a droga que mais impactou a saúde pública e que atraiu as atenções e, sim, o crack, que ocupou o centro do cenário. “Ao uso de crack passou a ser atribuída responsabilidade por crimes violentos e pela suposta degradação moral de parte da juventude brasileira. Jornalistas, lideranças políticas e religiosas não tiveram dificuldade em encontrar especialistas dispostos a corroborar esses e outros mitos, como o que reza que o crack vicia na primeira tragada e mata seus usuários em seis meses. Como se sabe, a primeira vítima das guerras é a verdade. Na assim chamada guerra às drogas, não tem sido diferente”, argumentou Leon.

A pesquisa Crack e Exclusão Social foi estruturada em dois eixos inter-relacionados: a reconstrução das trajetórias de vida dos usuários em diferentes esferas da vida social (família, escola, trabalho, sistema jurídico etc.) e o trabalho de algumas instituições de recuperação dos usuários (CAPSAD e Comunidades Terapêuticas). O relatório está organizado em duas partes, que refletem os eixos mencionados – Classe social e trajetórias de vida e Instituições sociais e trajetórias de vida. Pensada como um conjunto de diagnósticos e propostas, a pesquisa busca oferecer orientações para a formulação de políticas públicas eficazes na área. O estudo aponta que o poder discricionário dos agentes institucionais que controlam o acesso a bens e serviços estatais em contato direto com os indivíduos usuários de crack, torna altamente improvável que as diretrizes e premissas formuladas pelo poder político formal, jurídica e democraticamente constituído, ocupem o primeiro plano enquanto fator estrutural. Os principais resultados da pesquisa serão apresentados no Seminário Crack e Exclusão Social. Participe!

Serviço:

O quê? Seminário Crack e Exclusão Social
Quando? 21 de outubro, sexta-feira, das 9 às 13 horas
Onde? Auditório térreo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) 
Quem pode participar? Aberto a todos os interessados

 

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Vídeo em destaque

Crack, repensar (VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz)

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Trabalho mostra a pesquisa sobre o tema coordenada por Francisco Inácio Bastos e Neilane Bertoni

Para saber mais

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668

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