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O primeiro a falar foi o pesquisador do Icict Francisco Inácio Bastos, que coordena a pesquisa nacional sobre uso do crack, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), do Ministério da Justiça.
Seu primeiro questionamento foi sobre o pensamento corrente que, segundo ele, ao se falar em tratamento do usuário de drogas associa-se à perda de recursos públicos. "Por que não criminalizar também os hipertensos ou os diabéticos?”, ironizou. Bastos alertou para a necessidade de se reintegrar o crack à discussão da saúde. "Sem isso, corremos o risco de perder a capacidade de lidarmos com a droga até do ponto de vista do tratamento e das políticas públicas.”
"Quando se fala de cracolândia, tem-se a ideia de um fenômeno macrourbano. Isto não é real”, explicou Francisco Inácio, que apresentou um panorama geral sobre o cenário do crack nas grandes cidades. A própria mobilidade das cracolândias explicaria esse fenômeno: “As cenas se redefinem, se reconfiguram e se partem. Então, a pessoa que estava ontem no Jacarezinho é a mesma pessoa que encontramos no (morro do) Cajueiro, em Madureira, ou que vai para a (comunidade de) Antares (em Santa Cruz), ou que estará no Parque União”, afirmou.
O pesquisador do Icict alertou para uma concepção confusa e negativa que dominou, inicialmente, o cenário do crack nos Estados Unidos nos anos 1990, quando surgiu a droga por lá. Trata-se da situação dos chamados crack babies – filhos das usuárias de crack, cujo tratamento ignorava doenças maternas preexistentes, como desnutrição, tuberculose, abuso de álcool, e ausência de pré-natal.
Para Francisco Inácio, o crack tem impacto na formação dessa criança, mas é preciso incluir outros fatores, que correm o risco de ser deixados de lado hoje no Brasil. "Temos que pensar de forma sensata, seja no campo da saúde mental, seja na área de assistência materno-infantil”, concluiu.
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