Por dentro do GBD: Seminários do Icict discutem Carga Global de Doença

por
André Bezerra
,
26/08/2015

O primeiro seminário do Centro de Estudos do Icict em torno dos temas GBD (Carga Global de Doenças) e Big Data em Saúde aconteceu na terça-feira, 25 de agosto, com uma apresentação detalhada dos indicadores GBD por um dos coordenadores internacionais do cálculo, o professor Mohsen Naghavi, do Institute of Health Metrics da Universidade de Washington, dos Estados Unidos.

Em sua apresentação, Naghavi, explicou os conceitos básicos dos indicadores, que começaram a ser discutidos na década de 90, e detalhou como foram sendo aperfeiçoados ao longo de duas décadas para chegarem a resultados confiáveis que são utilizados por gestores, governos e autoridades de saúde em todo o mundo na elaboração de políticas de prevenção ou promoção de saúde.

“O princípio central que norteou a construção do GBD é o de que todas as pessoas merecem viver uma vida longa e plena em saúde. A saúde é um direito que deveria ser direito de todos, independente de raça, sexo, idade ou renda. Esperamos que os indicadores auxiliem governos, as autoridades de saúde e as pessoas a definirem prioridades”, comentou o professor no início de sua palestra.

Um dos pontos interessantes do GBD é os indicadores não se limitam a dados absolutos de mortalidade ou morbidade, mas os coloca em perspectiva. “Na nossa linguagem, acreditamos que há um standard de expectativa de vida referente a cada ano, baseado em diferentes cálculos estatísticos. A partir daí, podemos calcular os anos de vida perdidos devido a mortes prematuras”, explica Naghavi. Além disso, o GBD também oferece previsões de tendências visando apontar caminhos para possíveis intervenções e também ajuda a medir a eficicência dos gastos em serviços visando redução de certos agravos e sua eficiência.

Dessa forma, o GBD é um esforço científico sistemático acerca de todos os dados possíveis de se captar, seja a partir de publicações científicas ou bancos de dados nacionais. “Por isso, é muito importante para o GBD a transparência dos dados por parte dos países”, comentou. A versão mais recente publicada dos indicadores é de 2013, cobrindo 188 países, com 306 doenças e 76 fatores de risco, além de mais de mil sequelas relacionadas a problemas de saúde. A cada edição do cálculo, a equipe do GBD revisa e acrescenta dados aos levantamentos anteriores.

Mohsen Naghavi, do IHME/Universidade de Washington. (Foto: Next/Fiocruz)

Entre 2010 e 2013, o empreendimento cresceu expressivamente, contando com um conjunto de pesquisadores que foi de 488 profissionais para 1083 em 2013. Além disso, o IHME conta com um comitê científico formado por profissionais de instituições de referência de países dos cinco continentes e também um conselho consultivo independente, que avalia e aprova todos os produtos resultantes do cálculo GBD.

A partir de 2015, o grande desafio do GBD será iniciar a realizar o cálculo em regiões subnacionais, em parcerias com os governos de alguns países, entre eles o Brasil, por meio de parceria com o Ministério da Saúde e a Fiocruz. Na segunda parte do seminário, a professora da Universidade Federal de Minas Gerais Elizabeth França falou como será o GBD Brasil 2015, uma vez que será responsável pela coordenação científica do projeto.

"Os principais desafios serão quebrar o monopólio das estimativas demográficas e estatísticas e alinhá-las a processos de epidemiologia e outras abordagens de saúde. Também será importante treinar estudantes e pesquisadores e pensar como fazer uma replicação independente dos resultados, e ainda como construir uma capacidade local para análise do GBD", enumerou. Ela também citou o papel da Fiocruz nesse processo. "A dimensão computacional para isso tudo também tem grande importância, por isso contamos com a iniciativa de Big Data do Icict e da Fiocruz", salientou.

Outro debatedor dessa sessão, Iúri da Costa Leite, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fiocruz, apresentou iniciativas anteriores de cálculos de carga de doença no Brasil, em experiências realizadas pena Ensp/Fiocruz em 1998, 2005 e 2008. A primeira e a terceira foram experiências nacionais e a segunda foi um caso de carga doença em um território específico, o estado de Minas Gerais. De sua experiência saudou a próxima etapa do GBD incluindo o Brasil. "Seria interessante a criação de um grupo para discutir a correção dos dados e posteriores usos e análises", avaliou.

Iúri da Costa Leite, pesquisador da ENSP. (Foto: Raquel Portugal)

Métodos de correção

Na parte da tarde, os especialistas se debruçaram sobre o "Método de Correção das causas de morte: A experiência do GBD". A atividade foi saudada pelo Vice-diretor de Ensino e Pesquisa do Icict, Josué Laguardia. "É muito importante essa discussão pois está próxima de um tema muito caro ao nosso instituto, que é trabalhar com a avaliação da qualidade da informação", apontou. Em um discussão mais técnica, Mohsen Naghavi e Elizabeth França compararam metodologias para a correção das causas de morte ou correção de sub-registros de óbitos e a redistribuição das causas mal definidas.

Elizabeth França, da UFMG. (Foto: Raquel Portugal)

No início da manhã, o Diretor do Icict, Umberto Trigueiros, deu as boas vindas aos convidados e participantes ressaltando a importância de esforços como esse em um mundo conectado como o atual. "É de fato a missão do Icict promover que mais dados como esses sejam organizados para a saúde", disse ao abrir a atividade, que foi antecedida por uma breve fala da representante do comando de greve dos servidores do Icict e ressaltou a importância da realização dos seminários como parte das atividades da campanha de mobilização pela valorização do serviço público federal.

A cobertura do segundo dia de seminários está disponível no link.

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Seminários GBD e Big Data em Saúde
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