Preceptores de programas de residências em saúde são tema de livro

por
Graça Portela
,
10/08/2017

A pesquisadora do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), da Fiocruz, Adriana Aguiar está lançando o livro “Preceptoria em programas de residência: ensino, pesquisa e gestão”, que aborda o papel desses profissionais de preceptoria nos programas de residências em saúde e na área profissional.

O livro apresenta experiências e percepções de preceptores de residência e coordenadores de programas em 15 estados brasileiros e em oito províncias espanholas, oferecendo “uma fotografia atual dos avanços e desafios colocados para a formação de especialistas em saúde”.

Com realização do Icict/Fiocruz, do Ministério da Saúde e do Instituto de Medicina Social (IMS), da Uerj, o livro tem apoio da Organização Panamericana de Saúde (Opas), do Ministério da Saúde e do Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva – Cepesc, o livro terá dois lançamentos: o primeiro dia 17 de agosto – quinta-feira, em Recife (PE), durante o VII Encontro Nacional de Residências em Saúde (de 14 a 18/08) e o segundo – dia 23 de agosto – será durante o 55º Congresso Científico do Hospital Univeristário Pedro Ernesto (Hupe), da Uerj, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro (RJ).

Em entrevista ao site do Icict, a pesquisadora Adriana Aguiar falou sobre a pesquisa e as diferenças e similaridades do trabalho desenvolvido por profissionais brasileiros e da Espanha. Leia abaixo a entrevista.

Preceptores e profissionais

O que a levou a se interessar por este tema?

​O fortalecimento ​​do SUS e, portanto, a garantia plena do direito à saúde no Brasil depende de profissionais bem formados. As residências ocupam papel de destaque na qualidade da formação especializada, sendo a supervisão dos residentes exercida por preceptores, sobre os quais ainda temos poucos dados no Brasil. São profissionais muito importantes e trabalham muitas vezes em condições aquém do desejável, sendo necessário aumentar a visibilidade sobre o trabalho que realizam.​

Que resultados a senhora destacaria em sua pesquisa?

Os preceptores trabalham muito e são ainda pouco reconhecidos, especialmente no Brasil. As residências multiprofissionais têm avançado na constituição de processo de trabalho em equipe de forma inovadora e criativa. As coordenações de programas são muito importantes e precisamos de mecanismos de formação para esse contingente, além de ampliarmos o debate sobre as lacunas na legislação brasileira no que se refere à regulação e ordenação da formação especializada.  ​

A pesquisa contou com uma equipe multidisciplinar de colaboradores/autores. Como foi trabalhar com visões tão diferentes da área de saúde e em países tão diversos como Brasil e Espanha?

​Na verdade, o Sistema Nacional de Saúde espanhol​ ​tem vários paralelos com o nosso SUS, e do ponto de vista cultural, também encontramos muitas afinidades. A oferta das residências na Espanha está bem organizada e isso ajudou bastante. Nossa equipe naquele país foi composta de colegas muito experientes, o que facilitou a coleta de dados e sua análise. ​Observei uma convergência de perspectivas entre as lideranças brasileiras que "militam" pela qualidade da residência e os gestores e preceptores na Espanha.

Há alguma diferenciação entre os preceptores do Brasil e da Espanha?

​Em ambos países a sobrecarga de trabalho é imensa, mas a legislação espanhola é mais robusta e as atribuições, direitos e deveres dos preceptores estão melhor estabelecidas. Em que pese o contexto de crise econômica também afetar a Península Ibérica, no Brasil a precarização das relações de trabalho vem se exacerbando, o que impacta muito negativamente a formação de profissionais nos serviços. ​

Que motivos levam profissionais de saúde a cuidarem da formação de novas gerações de, em paralelo com a prestação de serviços em saúde no Brasil?

​É comovente o compromisso de milhares de pessoas que atuam como preceptores, tutores e coordenadores, com a formação das novas gerações ​de profissionais. Desde a criação das primeiras residências médicas, em meados do século XX, existe uma tradição de envolvimento de bons profissionais no ensino em serviços. Ocorre que as demandas só aumentam, com novas formas de avaliação, pesquisa em serviços, inovações educacionais, o que demanda propostas institucionais de desenvolvimento profissional para preceptores e coordenadores. ​

Considerando-se a situação atual, há futuro para a função de preceptor no Brasil?

​Creio que existe uma grande massa crítica, capaz de compreender a importância desse trabalho, mas essas pessoas estão esgotadas. Se persistirem as iniciativas de desregulação da formação e da prática assistencial, o exercício da preceptoria será cada vez menos estimulante. É imprescindível avançar na oferta de vínculos institucionais dignos que permitam aos preceptores se desenvolverem como educadores, além de fortalecerem o trabalho em equipe e em rede.

Créditos: Foto Adriana Aguiar - arquivo pessoal | Capa do livro: Vera Lucia Fernandes de Pinho (Ascom / Icict / Fiocruz)

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Laboratório de Comunicação e Saúde - LACES

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