Seminário do Centro de Estudos "Desafios para a comunicação na saúde" realizado no dia 1º/10

por
Cristiane d'Avila
,
02/10/2014

Os desafios da EBC

O segundo dia de seminários do Centro de Estudos do Icict teve como tema “Desafios para a comunicação na Saúde”. Na manhã do dia 1º/10, Carolina Ribeiro, chefe de gabinete da Diretoria de Produção da TV Brasil/EBC, apresentou a palestra “Desafios na comunicação pública”, em que falou sobre as estratégias de planejamento interno em curso na emissora pública e contou brevemente a história da radiodifusão no Brasil, cujo marco regulatório data de 1962.

“Desde então vimos serem feitas pelo poder público renovações automáticas de concessão de rádios e tevês comerciais, o que proporcionou à Rede Globo, por exemplo, essa rede de retransmissoras nacionais. Depois disso, já a partir da década de 1970, com aprimoramento em 1985, foi iniciado um processo de concessão de outorgas de rádio e tevê para constituintes. Em 1995 houve uma tentativa de regulação. Foi quando o processo de outorgas das rádios e tevês comerciais passou a ser licitado, o que de certa forma moralizou, porém reforçou a concessão a grandes grupos econômicos. Nesse momento se inicia a Lei do Cabo, que avançou na regulamentação dos canais de acesso público transmitidos via cabo, mas não na radiodifusão aberta. Enfim, a historia da tevê e do rádio no Brasil é de muita promiscuidade entre o público e o privado”, ressaltou Carolina.

O resultado desse processo, segundo ela, é que a Empresa Brasileira de Comunicação nasce em um mercado dominado por 242 geradoras e 9.201 retransmissoras comerciais, sendo o legado recebebido da Radiobrás, um dos embriões da EBC, de 10 geradoras e 157 retransmissoras. Como se contrapor a uma visão comercial diante desse cenário passou a ser então o grande desafio da emissora pública, que recebeu um espólio desigual, se comparado à robustez financeira e tecnológica das emissoras comerciais de tevê e rádio.

“Ainda assim temos que reconhecer que na última década tivemos avanços, como a criação da tevê digital, que lançou canais de cultura, educação e cidadania, a ser ainda regulamentada, a criação da EBC e do sistema de radiodifusão pública, e, mais recentemente, a aprovação de cotas de conteúdo nacional independente na tevê paga. Mas ainda é preciso regulamentação para garantir maior diversidade possível do conteúdo veiculado”, apontou Carolina. Segundo ela, o maior desafio da EBC hoje é contrapor a audiência ao ganho em relevância, tornando a emissora um referencial em conteúdo rico e diversificado.

A subversão da lógica da grande mídia

Em seguida, o coordenador da Comunidade de Práticas do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, Thiago Petra, proferiu a palestra “Novas tecnologias e articulação em rede”, em que abordou o trabalho da Comunidade de Práticas e citou diversos exemplos de iniciativas na web 2.0 que se opõem ao conteúdo hegemônico dos grandes veículos de comunicação.

“No Brasil hoje cada brasileiro tem dois celulares, e isso se reflete na comunicação entre as pessoas, que estão criando suas redes de informação. Nesse contexto, o usuário aprende a ser autônomo com a experiência, através do uso de ferramentas que permitem a qualquer pessoa ter participação ativa no processo da comunicação, com o uso de blogs, Wikis, Facebook, Yutube. A Rede de Comunidades de Práticas questiona como se colocar nesse processo”, avaliou Petra.

“Se antes os movimentos sociais e os trabalhadores disputavam espaço na grande mídia ou nos comunicados oficiais, a internet acaba subvertendo essa lógica e a grande mídia acaba sendo um eterno teto de vidro quando se coloca numa situação autoritária”, completou.

Desafios da Comunicação e Saúde

A terceira e última palestra do dia foi apresentada pela pesquisadora do Laboratório de Comunicação em Saúde (Laces/Icict) e professora do Programa de Pós-graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/Icict), Inesita Soares de Araujo, que apresentou o tema “Panorama da pesquisa em comunicação e saúde”. Em sua palestra, Inesita apresentou os panoramas e os desafios da pesquisa no campo da comunicação e saúde e os projetos de pós-graduação desenvolvidos no PPGICS/Icict.

Segundo ela, a pesquisa como parte importante do movimento e do esforço de afirmação da comunicação como lugar de produção de conhecimentos científicos conquistou avanços, no momento em que passou a ser contemplada com editais de financiamento e a criação de grupos de pesquisa no diretório CNPq, com a criação do Laces e a participação permanente de grupos de pesquisa em eventos científicos, com publicações científicas, a conquista de prêmios científicos recebidos por teses e dissertações e a própria criação do programa de pós-graduação. Mas ainda enfrenta desafios.

“A pesquisa em comunicação em saúde é muito recente como campo de investimento politico- metodológico , e surge concomitantemente à criação do Sistema Único de Saúde.  Ainda lutamos pelo reconhecimento da Comunicação e Saúde como campo científico e pela denominação Comunicação e Saúde, pois a denominação em saúde configura uma condição de subordinação da comunicação à saúde”, acentuou.

Em seguida, Inesita apresentou alguns temas das pesquisas em comunicação e saúde no PPGICS e no Laces: mídia e midiatização; comunicação e controle social; comunicação e vigilância em saúde; novos espaços e formatos de comunicação; medicalização; políticas e gestão da comunicação; comunicação e desigualdades na saúde e gestão da saúde e da comunicação na saúde. Dentre eles, destacou um que cresce rapidamente e perpassa os demais: a (in) visibilidade: de pessoas, de temas, de agravos da saúde, de políticas, de demandas, etc.

“Não podemos perder de vista as questões e demandas que nos fazem ir em busca de melhores respostas e caminhos, atentando para os tensionamentos entre os interesses públicos e privados. A comunicação é lugar privilegiado para observar isto, pois há novas vozes da saúde que apontam a explosão e reconfiguração do campo. Quem são essas vozes? Do que falam? Como falam? Onde falam? Observa-se a perda do protagonismo exclusivo da saúde pública”.

Vídeo em destaque

Seminário do Centro de Estudos "Desafios para a comunicação na saúde" realizado no dia 1º/10/2014

Galeria de fotos

Carolina Ribeiro apresenta a palestra “Desafios na comunicação pública”
Thiago Petra apresenta a palestra “Novas tecnologias e articulação em rede”
Inesita Soares de Araujo apresenta a palestra “Panorama da pesquisa em comunicação e saúde”
Público interage com palestrantes no CEIcict “Desafios para a comunicação na Saúde”

Arquivos para download

Apresentação Thiago Petra

"Novas tecnologias e articulação em rede"

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