Por que discutir a saúde do trabalhador?

por
Graça Portela
,
01/11/2013
Umberto Trigueiros

Diretor do Icict

Um dos princípios basilares do SUS é a integralidade da assistência e aí, como não poderia deixar de ser, está compreendida a questão da saúde do trabalhador em seus diversos aspectos, inclusive em sua relação com as questões ambientais e dos riscos do processo de trabalho. Infelizmente, em nossas sociedade, onde prevalece a lógica do lucro, do aumento constante da produtividade e do consumo, o processo de trabalho é marcado por dinâmicas de adoecimento dos trabalhadores por diferentes agravos: esforço repetitivo, tarefas perigosas pela sua natureza, produtos tóxicos e químicos, impactos emocionais, doenças psíquicas entre muitos outros. Portanto, a saúde do trabalhador deve ser uma das grandes preocupações da Fiocruz, tanto do ponto de vista epidemiológico, quanto das políticas públicas, da assistência e prevenção, como da informação e comunicação em saúde, que é o campo específico da atuação do Icict.

A produção e lançamento desta excelente série de documentários (“Paracoco: Uma endemia brasileira”, “Linha de Corte” e “Nuvens de Veneno”) se inscreve dentre essas iniciativas de informação e comunicação em saúde comprometidas com o esclarecimento, prevenção e denúncia de situações endêmicas e de grave risco que atingem principalmente os trabalhadores do campo, mas que afetam toda a sociedade.

 

Ivi Tavares

Coordenadora do Setor de Saúde do MST/RJ

Discutir saúde do trabalhador é muito importante, pois o universo do trabalho e as mazelas que podem causar a saúde devem ter um olhar que vai além de manter trabalhadores aptos a exercer suas funções no trabalho, deve ter um olhar de cuidado, de proteção, de defesa dos direitos desses trabalhadores para não serem explorados, e a vigilância desses males é função não só dos envolvidos com a área de saúde, mas de toda população.

Para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - o MST, cuidar da saúde é ter condições de moradia adequadas, reforma agrária popular, alimentação saudável sem agrotóxicos e condições de trabalho que não causem doenças ao trabalhador, por isso é um assunto muito importante a ser discutido.

 

Carlos Minayo

Pesquisador do Cesteh/Ensp

Os vídeos representam um dos resultados dos projetos que coordeno sobre vigilância em saúde de trabalhadores do agronegócio no Brasil.  Esses projetos visam a contribuir para o fortalecimento das ações da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhadores do SUS. No vídeo "Linha de Corte" queremos mostrar as sequelas para os trabalhadores e para a população em volta do que representa a extração da cana destinada às indústrias sucroalcooleras. O fato dos trabalhadores, na sua maioria migrantes, receberem por produção, pelo número de toneladas cortadas num processo que exige altíssimo número de esforços repetitivos em temperaturas ambientais elevadas, tem ocasionado grande deterioração da saúde -  até morte por exaustão. No vídeo "Nuvens de Veneno", podemos constatar um lado descuidado da política governamental quando estimula o crescimento do agronegócio, visando apenas a balança comercial e desconhecendo os efeitos da utilização intensiva de agrotóxicos para os trabalhadores e as populações circunvizinhas.

Esses são alguns exemplos sobre a necessidade de discutir e pesquisar a saúde dos trabalhadores. Estamos há 30, aqui no Cesthe falando sobre isso. A questão é contribuir e esses meus projetos pretendem contribuir para a vigilância no SUS. Cabe perguntar aos pesquisadores o que eles vêm estudando que suponha um avanço para a melhoria das condições de saúde da população em geral e para todos nós trabalhadores.

 

Sergio Brito

Coordenador de produção da VideoSaúde Distribuidora

São inúmeras as razões, mas eu destacaria que está muito introjetado na cultura do sistema capitalista que a força de trabalho não adoece, não tem impedimentos porque se repõe, se troca, se demite. Além disso, é necessário que as entidades de classe e os próprios trabalhadores tenham a compreensão do valor que tem a saúde para os indivíduos que estão trabalhando.

A contribuição da VideoSaúde, se dá enquanto uma área da Fiocruz que distribui produtos audiovisiuas na área da saúde e afins. O audiovisual é um aliado no processo de se colocar em cena os problemas da saúde do trabalhador. Por exemplo, os vídeos “Paracoco: uma endemia brasileira”, “Nuvens de Veneno” e “Linha de Corte”, e tantos outros que temos em nosso acervo à disposição, são aliados para trazer essa discussão e dar mais visibilidade a ela, contribuindo para que a saúde do trabalhador se torne uma política pública específica para Estado.

Fotos: Vinícius Marinho / Multimeios / Icict

Comentar

Preencha caso queira receber a resposta por e-mail.

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668

Este site é regido pela Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, que busca garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de toda obra intelectual produzida pela Fiocruz.

O conteúdo deste portal pode ser utilizado para todos os fins não comerciais, respeitados e reservados os direitos morais dos autores.

logo todo somos SUS