Tânia Santos, chefe da VideoSaúde, fala sobre a trajetória de Distribuidora, onde trabalha há 20 anos
Tânia Santos – Cheguei à VideoSaúde em 19 de abril de 1993 como bolsista de um programa para recém-formados, quando a Distribuidora era ainda um núcleo de vídeo. Entrei para cuidar do acervo, da preservação à divulgação. Naquele ano foi lançado o primeiro curso de aperfeiçoamento do Icict, Comunicação e Saúde, que comemora aniversário de 20 anos também este ano, e estávamos em fase de construção do Sistema Único de Saúde, que tem a mesma idade da VideoSaúde. Ou seja, começamos assim a pensar o conceito de comunicação no campo da saúde, em como dar voz aos variados atores sociais. Com esse objetivo, instalamos videotecas nas bibliotecas da Fiocruz no Rio e em outros estados, além de em algumas universidades federais, onde as pessoas podiam alugar vídeos sobre os mais variados temas de saúde, produzidos por organizações não governamentais e produtores independentes. Hoje temos hoje uma grande rede de videotecas, sendo que o maior acervo está na Biblioteca de Ciências Biomédicas.
Tânia Santos – Sim, várias. Começamos o processo de discussão sobre as tevês universitárias e nos tornamos um dos primeiros associados do consórcio de instituições que lançou a TV Universitária do Rio de Janeiro. Também montamos a primeira mostra de vídeos e de nosso grupo surgiu o Canal Saúde. Nosso objetivo sempre foi buscar a promoção da comunicação audiovisual para a saúde. Nesses 20 anos, participei do processo de criação de basicamente tudo o que é hoje a VideoSaúde. Por essa diversidade de projetos temos uma rotina muito rica, o que me mantém motivada mesmo após tantos anos de trabalho no mesmo lugar.
Tânia Santos – Captamos produções de várias fontes. Há 20 anos nossos principais parceiros eram instituições de ensino ligadas ao governo federal. Então a maioria das produções dava voz a falas oficiais, do Estado, em longos documentários, de 40 a 50 minutos de duração. Quando chegamos ao início da década de 1990, esse perfil sofre mudanças com o crescimento das ong’s no Brasil, principalmente as voltadas a produções sobre doenças sexualmente transmissíveis, como a aids, que recebiam financiamento externo. Os filmes tornam-se mais curtos, de 15 a 20 minutos, adotam linguagem diferenciada, o investimento em qualidade técnica é outro. Já nos anos dois mil observamos o surgimento das produções independentes, muitas optando por documentários sobre saúde. Essa é a riqueza e a importância de nosso acervo, pois a forma como foi se alterando ao longo dos anos reflete a própria história do filme documentário no país.
Tânia Santos – Assim que ficamos sabendo de alguma nova produção, vamos atrás, ou os produtores nos procuram para distribuirmos os filmes deles. Temos já essa rotina. De acordo com o que nos foi liberado pelo produtor, pela lei do direito autoral, fazemos a divulgação no YouTube, distribuímos cópias, ou exibimos nos canais de tevê com os quais temos convênio. Até o ano passado ainda fazíamos cópias em VHS para a Cruz Vermelha do Rio, que não tinha aparelho de DVD. Procurarmos atender todos e fazer com que o nosso acervo alcance o maior número possível de usuários, pois o Brasil tem realidades bem distintas. Hoje temos mais de três mil usuários cadastrados.
Tânia Santos – Realmente, a VS se tornou um pólo de referência na saúde. Possuímos o maior acervo do país em saúde pública, pois lutamos sempre para oferecermos à sociedade a produção audiovisual sobre saúde das mais variadas fontes, pautados sempre na polifonia, no dialogismo, no compartilhamento. Ou seja, além de Distribuidora, a VS se tornou um arquivo, um centro de documentação e de preservação da memória da produção audiovisual em saúde do país. Somos reconhecidos pelo Ministério da Saúde e por nossos parceiros e se observarmos a trajetória do próprio Sistema Único de Saúde, percebemos como a VS vem acompanhando e também ajudando a construir essa história, desde sua criação por Sergio Arouca até os dias atuais.
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