CICT anuncia primeiros resultados da Pesquisa Mundial de Saúde

por
Ascom
,
29/11/2005

Os brasileiros gastam em média 19% da renda com saúde e muitos acabam se endividando para pagar essa despesa; 14,4% dos cidadãos não têm mais nenhum dente, 10,1% são obesos e 28,5% estão acima do peso; as principais queixas de saúde da população estão ligadas à saúde mental, como o estado de ânimo, problemas de sono e dificuldade de concentração.

Estes são alguns dos primeiros resultados da Pesquisa Mundial de Saúde, apresentada dia 19 de maio durante os 18 anos do CICT. Desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a pesquisa está traçando o diagnóstico dos sistemas de saúde de 71 países membros. No Brasil, a coordenação do trabalho ficou a cargo do CICT e os resultados vão servir de base para orientar as políticas públicas de saúde. Participaram da apresentação a coordenadora da Pesquisa, Célia Landmann Szwarcwald, o presidente da Fiocruz, Paulo Buss, o diretor da Opas, Horacio Toro, e a representante da Abrasco, Rita Barata.

Cinco mil famílias de todas as regiões brasileiras e de todas as classes sociais responderam ao questionário entre janeiro e setembro de 2003. O primeiro aspecto analisado foi o "estado de saúde" da população: 9% dos entrevistados afirmam ter a saúde ruim ou muito ruim e os principais problemas relatados referem-se não só à saúde física, mas sobretudo ao bem-estar mental e emocional. A maior queixa é quanto ao estado de ânimo - que representa preocupação, ansiedade, tristeza ou depressão -, seguido por dores no corpo, problemas com o sono, dificuldade de concentração e outros. "A doença mental foi o que causou o maior impacto e esta parece ser uma tendência no mundo", afirmou Célia Landmann.

Em seguida, foram abordados outros seis itens. A análise dos "fatores de risco" revelou, por exemplo, que 10,1% da população é obesa e 28,5% está acima do peso. No item "problemas de saúde", a pesquisa descobriu que 14,4% dos brasileiros já perderam todos os dentes naturais - entre as mulheres de baixa renda com mais de 50 anos este índice chega a 55,9%.

De acordo com o quesito "gastos em saúde", os brasileiros dispensam em média 19% da renda domiciliar mensal com saúde. Entre os mais pobres, o que mais pesa no bolso são as despesas com medicamentos (61% dos gastos com saúde), para os mais ricos, o maior gasto é com planos de saúde. Aliás, apenas 25,8% dos brasileiros têm acesso aos planos, a maioria, 74,2%, conta somente com os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa revela ainda que 9,1% dos entrevistados já precisaram vender bens ou pedir empréstimos para pagar suas despesas com saúde.

Também foram colhidas informações sobre o "desempenho do sistema de saúde" e sobre a "avaliação da assistência de saúde feita pelos usuários". No geral, 21,8% das pessoas se disseram insatisfeitas e 36% muito insatisfeitas com o funcionamento da assistência de saúde no país. Mesmo entre os usuários de planos de saúde, o percentual de insatisfação (insatisfeito e muito insatisfeito) é alto, chega a 72% dos entrevistados que têm planos privados. "Segundo a nossa interpretação, no setor público, esses percentuais tem a ver com o grau de satisfação do usuário com o atendimento. No setor privado, por outro lado, o usuário sente-se insatisfeito não da maneira como foi atendido, mas por estar sendo obrigado a pagar por um plano de saúde quando este serviço deveria ser um direito", comentou a coordenadora da pesquisa.

O diretor da Opas, Horacio Toro, disse que são investigações como essa que mostram as reais condições de saúde da população. "Os dados mostram avanços no aspecto sanitário, com a redução de doenças e dos índices mortalidade, mais ainda há desigualdades", comentou Toro. "É fundamental que os especialistas da América Latina se reúnam para trocar informações."

Rita Barata, por sua vez, ressaltou que alguns dados nunca tinham sido avaliados em escala nacional, como a "satisfação do usuário" e os "fatores de risco". A representante da Abrasco também fez comentários sobre a metodologia da pesquisa, que, segundo ela, trouxe uma análise muito mais ampla que a tentativa anterior da OMS (ver reportagem complementar Avaliação da saúde mundial começou em 2000). "A atual metodologia permite depreender a complexidade do sistema de saúde; coisa que a outra avaliação, em forma de ranking, não permitia", disse. "E estudos validam a auto-percepção como um método eficaz nas pesquisas em saúde."

O presidente da Fiocruz, Paulo Buss, reforçou que é preciso manter uma avaliação permanente desses dados: "Deveríamos fazer um observatório de análise, que promovesse inclusive o cruzamento com dados do IBGE".

 

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