Uma tese de doutorado sobre geografia da saúde acaba de ser premiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC). A investigação é do pesquisador visitante do Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict), Paulo César Peiter, que examinou a distribuição de quatro doenças transmissíveis - aids, malária, tuberculose e hanseníase - na Faixa de Fronteira Continental do Brasil. Na pesquisa, Peiter divide a fronteira em três grandes arcos (norte, sul e central) e identifica os espaços onde o atendimento é crítico e a incidência das doenças é mais elevada.
O resultado indica que o arco norte – do Amapá ao Acre – ainda é o que apresenta condições de vida mais precárias e o pior acesso aos serviços de saúde, sendo o único dos três arcos com incidência de malária, principalmente nos segmentos amazônicos. Em sua análise, Peiter explica que atividades de impacto ambiental, como a extração da madeira, aumentam a exposição ao mosquito transmissor. “As autoridades de saúde locais dos municípios de fronteira têm procurado controlar a malária em ações conjuntas na zona de fronteira internacional, entretanto este controle sofre freqüentes interrupções como vêm ocorrendo nos últimos anos na fronteira Brasil-Bolívia.Essa é a complexidade do planejamento em saúde nas regiões de fronteira”, argumenta Peiter, lembrando que o Brasil é um dos poucos países latinos com uma política de saúde universal e gratuita.
A aids também é um problema no arco norte devido à mobilidade da população e o crescimento acelerado da região. A pesquisa indica que atividades como o garimpo , que estimulam a maior circulação de pessoas, inclusive entre fronteiras, pode contribuir para a disseminação do vírus nas populações fronteiriças.
Nos arcos central (Rodônia a Mato Grosso do Sul) e Sul (Paraná ao Rio Grande do Sul), Peiter identifica a conectividade entre as metrópoles como fator de expansão das doenças. Nessas regiões, a aids se destaca, inclusive sendo associada ao crescimento da tuberculose, e pode ser explicada pelos fluxos comerciais e pelas rotas de tráfico de drogas. “Nesses casos, a mobilidade é elevada o que dificulta o acompanhamento do tratamento. Ainda nesses dois arcos, a tuberculose aparece em maior escala nas cidades mais populosas e nas comunidades indígenas e a hanseníase coincide com as áreas de maior fluxo migratório”, explica Peiter.
Na pesquisa premiada, Campos do Rio Branco e Madeira-Mamoré foram as regiões mais críticas para as quatro doenças. Já Oiapoque-Tumucumaque, Parima-Alto Rio Negro, Alto Solimões e Alto Juruá apresentam dificuldades no acesso aos serviços de saúde.
A premiação será dia 9 de novembro, em Brasília, e contará com a presença do Ministro da Educação, Fernando Haddad. Os interessados no trabalho podem encontrá-lo através do endereçowww.igeo.ufrj.br/gruporetis [3]. Além desse prêmio, a tese recebeu a menção honrosa do 11º Congresso Mundial de Saúde Coletiva e 8º congresso Brasileiro de Saúde Pública, em agosto, no Rio de Janeiro.
“É uma satisfação ter o trabalho reconhecido. Quero agradecer a orientadora da UFRJ, Lia Osório Machado, a co-orientadora, Luiza Iñiguez, da Universidade de Havana e ao pesquisador do Centro de Informação Científica e Tecnológica, Christóvam Barcellos, pelas valiosas contribuições ao longo do trabalho, comemora Peiter.