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Um cineasta para a saúde pública brasileira

por
Ascom/Icict
,
29/03/2017

Pesquisadora do Icict investiga obra do cineasta Humberto Mauro e sua relação com a saúde pública brasileira


Pioneiro do cinema brasileiro, homenageado em vida pelo Festival de Cannes, o mineiro Humberto Mauro é bastante conhecido por suas produções inovadoras, como o curtametragem Valadião, o Cratera, de 1925, e o longametragem Tesouro Perdido que, em 1927, foi premiado como o melhor filme do ano, no Brasil. No entanto, a sua maior contribuição pode ter sido para a saúde pública brasileira, por meio dos documentários produzidos no Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), entre as décadas de 1930 e 1960. Essa vasta produção – e suas relações com a saúde pública brasileira – são tema da pesquisa de pós-doutorado de Alice Ferry, pesquisadora do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces/Icict).

Para realizar a pesquisa, desenvolvida no Programa Avançado de Cultura Contemporânea do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alice se debruçou sobre a extensa filmografia de Humberto Mauro: no período em que esteve no INCE, o cineasta dirigiu 357 documentários, sendo 97 deles sobre saúde. A partir da visualização dos filmes, de pesquisa nas fichas técnicas disponíveis e da correlação dos documentários com o momento histórico e político em que foram produzidos, a pesquisadora organizou a obra de Humberto Mauro em quatro categorias: filmes institucionais, educação rural, difusão científica e ensino e pesquisa.

A primeira categoria, formada pelos filmes institucionais produzidos pelo INCE sobre o então Ministério da Educação e Saúde, soma 32 títulos – dos quais somente dez estão disponíveis atualmente. Alice destaca que a Fiocruz – à época ainda denominada Instituto Oswaldo Cruz – era tema recorrente dos filmes institucionais do Ministério da Educação e Saúde dirigidos por Humberto Mauro. Um deles é intitulado “Instituto Oswaldo Cruz”. Outro aborda a fabricação da vacina de febre amarela pela Fundação Rockefeller, que funcionava no campus de Manguinhos. Os filmes também exploram a atuação de outras instituições ligadas ao Ministério da Educação e Saúde, como o Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica, que gerou uma série de documentários sobre o abastecimento de água no Rio de Janeiro. O Hospital Colônia de Curupaity, antigo leprosário do Rio de Janeiro, e os Serviços Nacionais de Febre Amarela, Tuberculose e Lepra, criados em 1941, também deram origem a filmes institucionais no INCE.

A pesquisadora explica que a atribuição de divulgar as ações do Ministério da Educação e Saúde seria, inicialmente, do então Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). No entanto, reconhecendo o talento de Humberto Mauro, o ministro Gustavo Capanema optou por transferir a função para o INCE. Alice sugere, também, que a personalidade do médico, higienista e educador Edgard Roquette-Pinto, então diretor do INCE, influenciou diretamente a produção de filmes sobre saúde pela instituição. “Através dos filmes de Humberto Mauro é possível perceber claramente as correlações entre o momento político do país e a ênfase em determinados temas pelo então Ministério da Educação e Saúde”, aponta a pesquisadora do Icict.

Rodados na década de 1950 no interior de Minas Gerais como parte Campanha Nacional de Educação Rural e em coprodução com a United States Agency for International Development (USAID), os seis filmes de educação rural – dos quais cinco estão preservados – buscavam promover a educação em saúde para a população rural do país. As temáticas versam sobre alimentação saudável, consumo de água potável, saneamento básico e controle de insetos vetores, como o barbeiro, transmissor do agente etiológico da doença de Chagas. Durante a fase de produção dos seis documentários sobre educação rural, Humberto Mauro aproveitou as locações e cenários para produzir a famosa série Brasilianas.

A popularização do conhecimento sobre saúde nos centros urbanos também era uma preocupação do INCE. Os filmes de difusão científica dirigidos por Humberto Mauro são caracterizados por transmitir informação científica e tecnológica através de uma linguagem simples e acessível. “São filmes sobre músculos do corpo humano, alimentação, puericultura, oxigênio e a indústria oftálmica, rodados em 35mm, para exibição em cinema”, descreve a pesquisadora.

Mas a categoria mais vasta na filmografia de Humberto Mauro é a que comporta os documentários sobre ensino e pesquisa, destinados a pesquisadores, profissionais de saúde e, sobretudo, estudantes do ensino superior. São 50 títulos, dos quais somente 16 estão disponíveis atualmente, que abordam temas abrangentes, como a biofísica, e estudos científicos específicos, como as descobertas de Evandro Chagas, sobre leishmaniose visceral americana humana, e de Carlos Chagas Filho, sobre o peixe elétrico amazônico conhecido como puraquê. Nessa categoria, também se encontram os filmes sobre equipamentos, práticas clínicas e procedimento cirúrgicos, cujas fichas técnicas recomendam clara indicação: ensino superior.

“A utilização do cinema em sala de aula era uma reivindicação dos educadores brasileiros desde a década de 1920. Acompanhando o movimento internacional do cinema educativo, esses profissionais defendiam esse tipo de produção como um forte instrumento pedagógico. Nesse contexto, os filmes de ensino e pesquisa de Humberto Mauro vieram preencher uma importante lacuna no ensino da saúde no país”, considera a pesquisadora do Icict.

A equipe de produção dos documentários sobre ensino e pesquisa em saúde contava com a participação de ilustres consultores da área biomédica. Alice destaca que muitos desses especialistas eram pesquisadores do então Instituto Oswaldo Cruz. “O espírito inovador de lançar mão de instrumentos alternativos como o cinema para o ensino e a divulgação da ciência já estava presente desde a época de Oswaldo Cruz – e os seus seguidores perpetuaram essa motivação. Entre eles, estão Cardoso Fontes, Carlos Chagas Filho, Evandro Chagas, Miguel Osório de Almeida, Oscar d´Utra e Silva, Otávio de Magalhães e Maurício Gudin, que atuou como consultor do INCE em sete documentários sobre cirurgia e assepsia cirúrgica”, revela a pesquisadora.

Alice lamenta que grande parte da filmografia de Humberto Mauro tenha se perdido. “Dos 97 filmes sobre saúde produzidos pelo INCE, somente 35 estavam disponíveis quando realizei o estudo”, conta a pesquisadora que, recentemente, teve uma agradável surpresa: encontrou, no acervo do Centro Técnico Audiovisual da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, mais cinco títulos, que não estavam disponíveis na época da pesquisa. “Humberto Mauro é uma dádiva para o Brasil e perceber que a realização de minha pesquisa gerou um movimento de recuperação de sua obra é muito gratificante. A intenção, agora, é transformar a pesquisa em livro, incluindo os cinco novos títulos”, Alice comemora.

Cinema e saúde: a filmografia preservada de Humberto Mauro

Filmes Institucionais

Febre Amarela – Preparação da Vacina pela Fundação Rockefeller – 1938

Instituto Oswaldo Cruz – Rio de Janeiro – 1938

Abastecimento d´Água do Rio de Janeiro – Captação – 1939

Abastecimento d´Água do Rio de Janeiro – Fabricação de Tubos – 1939

Abastecimento d´Água do Rio de Janeiro – Represas – 1939

Hospital Colônia de Curupaity – Novas Instalações – 1939

Combate à Lepra no Brasil – Serviço Nacional da Lepra – 1945

Assistência Hospitalar no Estado de São Paulo – 1946

Indústria Farmacêutica no Brasil – 1948

Endemias Rurais – Seus Produtos Profiláticos e Terapêuticos – 1960

Filmes de Difusão Científica

Os Músculos Superficiais do Corpo Humano – 1936

Os Músculos Superficiais do Homem – 1936 (16mm)

Lentes Oftálmicas – Indústria – 1953

O Oxigênio – Suas Aplicabilidades – 1958

Filmes de Educação Rural

Higiene Rural – Fossa Seca – 1954

A Captação da Água – 1954

O Preparo e Conservação de Alimentos – 1955

Construções Rurais – Fabricação de Tijolos e Telhas – 1956

Poços Rurais – Água Subterrânea – 1959

Filmes de Ensino e Pesquisa

Preparo da Vacina Contra a Raiva – 1936

Microscópio Composto – Nomenclatura – 1936

Método Operatório do Dr. Gudin – 1938

Fisiologia Geral – Prof. Miguel Osório – Inst. Manguinhos – 1938

Fluorografia Coletiva – Método do Dr. Manuel Abreu – 1939

Estudos das Grandes Endemias – 1939

Leishmaniose Visceral Americana – 1939

O Puraquê – 1939

Técnica de Autópsia em Anatomia Patológica – 1940

Sífilis Vascular e Nervosa – 1942

Coração Físico de Ostwald – 1942

Miocárdio em Cultura – Potenciais de Ação – 1942

Convulsoterapia Elétrica – 1943

Gastronomia Asséptica – Técnica Operatória – 1948

A Cirurgia dos Seios da Face – 1952

Sistematização de Colpomicroscopia – 1953

Os filmes estão sob a guarda do Centro Técnico Audiovisual da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (pesquisa.ctav@cultura.gov.br [4]).

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