A convite do Instituto Igarapé, o pesquisador Francisco Inácio Bastos, do Laboratório de Informação em Saúde (LIS), do Icict/Fiocruz, foi um dos debatedores durante o lançamento dos guias para ajudar pais e professores a abordar, com crianças e adolescentes, o tema "drogas".
O pesquisador do LIS falou sobre o artigo "Rising trends of Prescription Opioid Sales in Contemporary Brazil, 2009-2015", publicado no American Journal of Public Health (AJPH) em abril de 2018, no qual é um dos autores. Nele, é abordado o crescente volume de vendas de opiáceos, a partir das prescrições médicas, no período de 2009 a 2015 no Brasil.
Utilizados em especial para combater dores crônicas e debilitantes de pacientes com câncer ou lúpus, os opiáceos (ou opióides), também são encontrados diluídos na formulação química de medicamentos como os analgésicos (medicamentos que aliviam a dor), anestésicos (aqueles que reduzem ou eliminam a sensibilidade geral ou local) e até em xaropes para controlar a tosse, podendo ser usados para tratar dores de coluna, enxaqueca, dores nas articulações, dentre outras. O uso constante pode levar à dependência e o abuso desse tipo de drogas, à morte.
Segundo os dados da Anvisa – Agência Nacional de Saúde, expostos no artigo, o número de prescrições médicas de opiáceos vendidos nas farmácias em 2009 foi de 1.601.043 e em 2015, passou a 9.045.945, em números absolutos, representando um salto de 465%. O artigo mostra também que os produtos à base de codeína, para dores moderadas, foram de 95%, pulando de 1.584.372 prescrições para 8.872.501 receitas médicas, para o mesmo período.
Em debate com Ilona Szabó, diretora executiva do Instituto Igarapé, e Luciana Phebo, coordenadora nacional da Plataforma dos Centros Urbanos do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Francisco Inácio Bastos alertou (conforme publicado no site do Instituto Igarapé) para o esse aumento no uso de opiáceos: “E é apenas uma fração do problema, que o governo consegue capturar. Nos surpreendemos também com o crescimento no uso de opiáceos e opióides sem prescrição entre os jovens”.
A diretora executiva do Instituto Igarapé comentando sobre o artigo "Rising trends of Prescription Opioid Sales in Contemporary Brazil, 2009-2015", disse que “nos Estados Unidos, há uma crise de medicamentos prescritos. É o maior índice de mortes por overdose. Aqui não estamos acompanhando essa epidemia. Precisamos exigir melhores dados e transparência para poder fazer prevenção focalizada”. Ela também falou que a pesquisa nacional sobre o uso de drogas, embora “premiada internacionalmente, ainda não foi divulgada ‘por questões ideológicas’. A polarização está impedindo a gente de pensar e resolver problemas com seriedade. Assim, continuaremos enxugando gelo e perdendo 29 adolescentes por dia para a violência”, completou Ilona.
Em entrevista ao jornal O Globo, o pesquisador, que também é um dos coordenadores da Pesquisa Nacional sobre o Uso de Crack, afirma que é necessário acompanhar o uso dos opiáceos e opióides que são vendidos pela internet e sem prescrição médica. “Não acho que vá ser um problema a curto prazo, mas temos que ficar alertas em relação à prescrição, ela tem que ser criteriosa. Além disso, é preciso ficar atento em relação à comercialização ilegal na internet — destaca Bastos.” Bastos também afirma que há falhas no sistema de saúde: “Há uma dificuldade em fazer o “desmame” do medicamento em pessoas que passaram por uma hospitalização e receberam alta. A retirada mal conduzida do medicamento acaba gerando dependência — diz.”
Assista ao debate do Instituto Igarapé no link ao lado e também leia o artigo e as publicações a respeito.
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[5] https://ajph.aphapublications.org/doi/full/10.2105/AJPH.2018.304341
[6] https://igarape.org.br/pesquisa-e-fundamental-para-a-prevencao-focalizada-do-consumo-de-drogas-diz-diretora-do-igarape-no-lancamento-de-guias-para-pais-e-professores/
[7] https://igarape.org.br/precisamos-saber-falar-sobre-uso-de-drogas-com-nossos-adolescentes/
[8] https://igarape.org.br/temas/politica-de-drogas/prevencao/
[9] https://igarape.org.br/protecao-em-primeiro-lugar/
[10] https://oglobo.globo.com/sociedade/uso-de-opiaceos-no-brasil-dispara-mais-de-400-preocupa-medicos-22749758
[11] http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/informativos/edicoes-2018/maio/pfdc-questiona-anvisa-sobre-a-comercializacao-de-produtos-opiaceos/
[12] http://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/10006002623.pdf