A interdisciplinaridade e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) foram tema de debate no segundo dia da Jornada pelos 10 anos do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS). O encontro ocorreu na manhã da terça-feira (13/8), no prédio da Expansão Fiocruz, e contou com a participação dos convidados Leny Trad, professora do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Edson D’Almonte, professor do programa de pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ambos são representantes da agência de fomento vinculada ao Ministério da Educação.
Kátia Lerner, professora do PPGICS, entre os dois debatedores (Foto: Raquel Portugal/ Ascom Icict)
Em sua fala, Leny Trad comentou sobre o campo da saúde coletiva; a interdisciplinaridade e os desafios da operacionalização do princípio, na prática, e nos aspectos relativos à avaliação da Capes; e dos movimentos pela transformação do modelo atual, na perspectiva da saúde coletiva. Destacou que a saúde coletiva procura compreender as formas com que a sociedade identifica suas necessidades e problemas de saúde, bem como busca sua explicação e se organiza para enfrentá-los.
“Consideramos a saúde coletiva como espaço notadamente interdisciplinar de pensamento e de ação dedicado ao conhecimento e transformação de realidades”, afirmou. No entanto, segundo Trad, para pensar em interdisciplinaridade na saúde coletiva é preciso lidar com a compreensão de que cada agente ou ator também traz consigo uma trajetória, um discurso ou um modo de ver e estar: “Suas práticas também vão ter essa marca. Dialogamos, portanto, no contexto dessa diversidade”.
De acordo com Edson D’Almonte, a Capes está interessada em debater a interdisciplinaridade e em entender como as áreas tratam e abordam a incorporação de conhecimentos advindos de campos científicos complementares. Ele enfatizou que a comunicação se reconhece como um campo aberto. Assim, não existe enquanto campo autônomo, sem relação com os outros campos, segmentos e saberes. “Nessa perspectiva, a formação de pesquisadores na área deve contemplar a permeabilidade e a porosidade do conhecimento”.
Leny Trad mencionou que tanto na academia como nos programas de pós-graduação é importante ter uma produção que trabalhe com planejamento, avaliação e gestão. “Apesar da conjunção dessas três áreas nos programas de pós-graduação, há uma hegemonia da epidemiologia no que diz respeito principalmente ao modo com que nossa produção é avaliada”, afirmou, acrescentando que, segundo a avaliação “Perfil das Ciências Sociais Humanas na Pós-Graduação em Saúde Coletiva: pesquisa, ensino e extensão”, coordenada por ela e realizada durante três anos com um grupo de pesquisadores e docentes reconhecidos das ciências sociais, humanas e a saúde, a pesquisa interdisciplinar não é realidade em todos os programas, persistindo grande dificuldade de implementação e institucionalização. O resultado da mostra, recém-divulgada, foi feita com representantes de 60 programas brasileiros.
Leny Trad, professora do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Foto: Raquel Portugal/ Ascom Icict)
Os desafios levantados pelos participantes foram o baixo empenho dos pesquisadores das áreas que compõem os programas em sair do seu nicho próprio e restrito do saber; esforços incipientes dos próprios programas na linha da gestão em promover o trabalho interdisciplinar envolvendo as três áreas; e uma tendência à especialização de programas de pós-graduação da saúde coletiva em função dos critérios da última avaliação da Capes.
Para buscar uma avaliação mais justa, Leny Trad mencionou a necessidade de se observar critérios como produção científica, ensino, relevância, qualidade, inovação e multidimensionalidade. Atualmente, a pós-graduação em saúde coletiva possui 94 programas em funcionamento, sendo 52 acadêmicos. Entre eles, 14 são de mestrado, 36 de mestrado e doutorado e dois exclusivamente de doutorado.
Na última avaliação foi apresentada nova metodologia às áreas de avaliação em relação ao Qualis Periódicos. A fórmula busca critérios que permitam uma comparação mais equilibrada entre áreas de avaliação, observando também a internacionalização. É baseada nos seguintes princípios: classificação única, em que cada periódico recebe apenas uma qualificação, independentemente da quantidade de áreas de avaliação em que foi mencionado; classificação por áreas-mães, com periódicos sendo agrupados de acordo com a área na qual houve maior número de publicações nos anos de referência avaliativo; Qualis Referência, ou seja, lista de periódicos pré-classificados e criada por meio do uso combinado de indicadores bibliométricos e um modelo matemático; Indicadores bibliométricos, que consideram o número de citações do periódico dentro das bases Scopus (CiteScore), Web of Science (Fator de Impacto) e Google Scholar (índice h5).
Este ano, o Seminário de Meio Termo – que problematiza e apresenta o diagnóstico da qualidade de 49 áreas de avaliação – teve conotação especial por ter mudado as fichas de avaliação para a próxima Avaliação Quadrienal, a ser realizada em 2021. O seminário acontece entre agosto e outubro, na Capes, e já reuniu cerca de 400 coordenadores de áreas dos Programas de Pós-Graduação (PPGs) para discussão sobre indicadores, novas fichas de avaliação, evolução dos programas e pontos a melhorar. As fichas propostas serão enviadas para aprovação no Conselho Técnico-Científico (CTC) da Educação Superior.
Nelas, não há mais um quesito específico para a produção intelectual –, composta de produção bibliográfica, artística e técnica. Além da avaliação da produção total – que considera o Qualis – haverá avaliação qualitativa dos melhores produtos, assim como análise da sua relevância científica e social.
A proposta geral é trabalhar com três novos quesitos: programa, formação e impacto na sociedade, com foco principal para a formação discente e acompanhamento de egresso: “Enquanto a produção docente pesava 40%, agora tem um peso muito maior a produção discente e egressos, em detrimento da produção docente. Há, portanto, uma redefinição de pesos, e esse é um padrão internacional. O acompanhamento de discentes e egressos passa a ser um elemento fundamental. O outro, visibilidade e impacto social, econômico e cultural”, apontou Edson, frisando que o programa só faz sentido dentro de um plano institucional.
Edson D’Almonte, professor do programa de pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea da Universidade Federal da Bahia (Foto: Raquel Portugal/ Ascom Icict)
“Dessa forma, deve ser valorizada a pesquisa aplicada à sociedade que proporcione melhoria na qualidade de vida da população e comunidades, gerando impacto em segmentos da sociedade, em mercados, organizações. Ou seja, pensar o sistema de pós-graduação é pensar em mudança. Desse modo, não somente os programas ligados às ciências humanas e sociais, mas também os tecnológicos ou das ciências puras podem ser beneficiados, pois o produto final é a solução de um problema ou gargalo, demandado pela sociedade, mercado, organizações, que geralmente é complexo e, via de regra, fomenta a interdisciplinaridade para a sua solução”, ressaltou Edson D’almonte.
Ele comentou que desde maio, quando tomou posse com Leny, ambos têm trabalhado e sinalizado pela necessidade de mudança e de atualização no sistema. “Somado a isso, temos um cenário que não podemos perder de vista: o nosso sistema sendo plenamente financiado por recursos federais. Captamos em outras frentes, mas o sistema fica de pé com recursos públicos. E isso é um elemento nosso, é constitutivo da nossa identidade, da nossa ideia de soberania. Porém, temos que olhar para os dados. Porque a gente está falando de impacto hoje. Essa é uma tendência mundial”, salientou.
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