A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um relatório para comemorar o Dia Mundial para a Segurança do Paciente (17/09), no qual afirma que mais de 138 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas por erros médicos, sendo os principais: de diagnóstico, na prescrição de medicamentos e tratamento, e no uso inadequado de fármacos. O relatório também aponta que 2,6 milhões de pessoas morrem anualmente por esses erros.
Na luta para tentar reduzir esses números, há dez anos foi criado o Centro Colaborador para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente – Proqualis, que tem por objetivo ser "uma fonte permanente de consulta e atualização para os profissionais de saúde, através da divulgação de conteúdos técnico-científicos selecionados a partir da relevância, qualidade e atualidade", na área da Qualidade e da Segurança do Paciente. Mas, qual a importância da segurança do paciente?
Para Victor Grabois, coordenador executivo do Proqualis, este é um assunto fundamental não só para os profissionais de saúde, mas para a toda a sociedade: "é um tema que diz respeito a todo mundo, diz respeito aos pacientes, aos profissionais de saúde, aos gestores, depende de uma estrutura adequada, de dimensionamento adequado, de pessoal, depende de que a gente trabalhe e que tenha práticas baseadas em experiências científicas, depende do que a gente consiga aprender com as coisas que não dão certo. Tudo para reduzir danos e mortes".
Atento aos dados divulgados pela OMS na véspera do evento que marca os 10 anos do Proqualis, Grabois enfatiza o papel do Centro para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. "Acreditamos que a base e a essência da existência do Proqualis são a atenção a estes e outros problemas que envolvem a segurança do paciente. Acreditamos nas evidências científicas, nossas práticas são baseadas na Ciência, naquilo que a pesquisa comprova, que de fato pode contribuir para melhorar a qualidade do cuidado e a segurança do paciente", afirma. Para isso, o Proqualis mantém como filosofia divulgar, difundir para profissionais de saúde e gestores "exatamente as evidências científicas sobre a prevenção de erros de medicação e de diagnósticos, a prevenção das infecções associadas ao cuidado de saúde", como explica Margareth Portela, coordenadora geral do Proqualis.
Referência nacional sobre o assunto, o Proqualis se mantém atual, como explica a coordenadora geral do Centro, "trazendo informações novas sobre o tema, por meio de aulas, entrevistas, vídeos, resenhas, notas, publicações, webinares e inúmeras outras atividades, também publicadas nas mídias sociais - Facebook, Youtube, Slideshare, Linkedin - e disponibilizadas no portal do Centro, por meio de acesso aberto, público e gratuito a todos, buscando alcançar milhões de pessoas - sejam elas profissionais de saúde, pesquisadores, pacientes e quem se interessar pelo tema".
"Nesses dez anos, trabalhamos muito e um dos pilares é o trabalho feito em parceria com pesquisadores e centros de excelência em segurança do paciente", afirma Grabois. E foram justamente essas parcerias que levaram o Proqualis a dar suporte para a criação do Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), por meio da elaboração de inúmeros protocolos para os hospitais e clínicas de saúde."
Segundo a equipe do Proqualis, a participação na elaboração do Programa é apenas uma parte do que tem sido feito ao longo desses dez anos. Eles destacam: a tradução/adaptação de livros; tradução de relatórios da The Health Foundation; elaboração de vídeos; realização de webinares; busca, identificação e seleção de artigos científicos; realização de seminários com convidados internacionais; tradução e adaptação de vídeos sobre o tema Segurança do Paciente; e a implementação de mecanismos de busca e glossário no Portal Proqualis.
Ao lado, é possível encontrar as publicações e vídeos que foram mais acessados pelo público no Portal Proqualis.
Para Ana Luiza Pavão, coordenadora adjunta do Proqualis, o momento atual é de estreitar parcerias dentro da Fiocruz, com outras unidades técnico-assistenciais como o Instituto Nacional da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF), o Instituto Nacional de Infectologia Evando Chagas (INI) e outras unidades da Fundação a fim de unir esforços e ampliar a atuação do Proqualis, incluindo projetos de pesquisas nessas áreas".
Reforçando as parcerias para ampliar o acesso ao material disponível no Portal Proqualis, a pesquisadora diz: "Estamos buscando cada vez mais estar alinhados com a política de Acesso Aberto da Fiocruz, disponibilizando no repositório institucional Arca diversos materiais que já estão em nosso Portal".
O Proqualis se prepara para dar outros passos, como explica Ana Luiza Pavão: "Pretendemos começar a atuar no Ensino, dentro da área de Segurança do Paciente; para isso, algumas iniciativas já são desenvolvidas nessa área, na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), e estamos com uma parceria com o Icict, para fomentar cada vez mais a formação de profissionais para a área".
Para os próximos dez anos, os pesquisadores do Proqualis já enxergam outros desafios, como explica Victor Grabois: "atingir os milhões profissionais de saúde que estão distribuídos por todo esse país. Acho que a Segurança do Paciente hoje já atingiu algumas centenas de milhares, mas nós temos muito mais pessoas pra atingir e não só os profissionais de nível superior, mas os de nível técnico, então me parece que é uma perspectiva fundamental para a Segurança do Paciente". Um desafio que a equipe entende que não será pequeno, como explica Grabois: "é um papel importante para o Proqualis, que a gente consiga desenvolver, do ponto de vista tecnológico e de linguagem, conteúdos que alcancem esses milhões de profissionais".
Pensando em termos de atuação em todo o Brasil, Grabois vê ainda outros dois grandes desafios para o Proqualis. O primeiro é pensar a Segurança do Paciente com o próprio paciente: "não dá mais para a gente pensar em Segurança do Paciente, para o paciente, pelo paciente, mas sem o paciente. Então, temos esse engajamento dessas milhões de pessoas que frequentam o Sistema de Saúde, precisamos nos colocar o desafio de como falar para essas pessoas, como fazer um trabalho mais ligado à ideia da divulgação científica, como a gente melhora o letramento das pessoas, dos usuários do sistema em relação à segurança do paciente, a todo um processo de humanização do cuidado".
Outro ponto de destaque seria levar os protocolos de segurança do paciente a regiões remotas onde o serviço de saúde é prestado por pequenas unidades ou unidades com poucos recursos. "como é que a gente implementa os protocolos em contextos os mais diferentes possíveis? Uma coisa é o hospital tecnológico, com bastante gente, numa grande capital. Mas, como é isso no interior, num hospital com menos leitos? O aspecto do contexto, da situação de cada instituição, ela é muito importante de fato para que o cuidado seja seguro", afirma Grabois.
Com tantos desafios, a equipe do Proqualis já projeta muito trabalho para os próximos dez anos. Mas, se ainda é pouco para o muito que ainda se tem que fazer, o Proqualis pensa em criar um Observatório de Práticas de Segurança do Paciente, onde possa captar as iniciativas feitas em todo o Brasil por hospitais, clínicas da família, postos de saúde e etc. A ideia dos pesquisadores é que a troca de experiências ajude a implementar a Segurança do Paciente por todas as unidades de saúde do país.
A iniciativa ainda depende de financiamento, mas alguém duvida de que o Centro conseguirá realizar? Esses últimos dez anos mostraram que, para o Proqualis, quantos mais são os desafios, mais sua equipe de pesquisadores consegue superá-los.
Foto do banner: Rafael Martins - Secom/Governo do Estado da Bahia | Creative Commons (CC)
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