Fotos: Rede Pasteur
Pesquisadores do Observatório de Clima e Saúde participaram do encontro do Climate and Health Accelerator, programa internacional promovido pela Rede Pasteur, realizado em Hong Kong, na China. Representando o país, o cientista Raphael Saldanha destacou a importância desta rede internacional para “compartilhar experiências, desafios comuns e construir possíveis soluções que podem ser adaptadas a diferentes realidades”. A diversidade tecnológica e institucional dos países participantes da atividade — todos integrantes da Rede Pasteur — evidenciou a necessidade de soluções integradas, acessíveis e de baixo custo.
O evento aconteceu no Polo de Pesquisa Pasteur da Universidade de Hong Kong (HKU), entre os dias 26 de abril e 3 de maio. O propósito do encontro foi reunir e fortalecer uma comunidade internacional de cientistas em início de carreira comprometidos com o avanço da ciência e da inovação na interseção entre mudanças climáticas e saúde pública. A iniciativa reúne 18 pesquisadores de 16 países da África, Ásia e América Latina. Cada um deles está desenvolvendo um projeto local para abordar questões de saúde sensíveis ao clima durante um período de dois anos.
A pesquisa do representante brasileiro deve oferecer indicadores de clima mais apropriados à pesquisa de clima e saúde. O cenário crítico das mudanças climáticas e seu impacto crescente na saúde pública, como o estresse térmico e eventos climáticos extremos, motivaram o pesquisador. “Minha pesquisa está organizando e harmonizando dados sobre clima e saúde com o objetivo de alimentar modelos estatísticos mais robustos e eficazes”, explica.
Além dos bolsistas, pesquisadores da Fiocruz, HKU, e da própria Rede Pasteur, foram convidados para realizar palestras, workshops interativos e sessões colaborativas durante os oito dias do evento.
Christovam Barcellos, um dos coordenadores do Observatório de Clima e Saúde, e Izabel dos Reis, também integrante da equipe do Observatório, foram dois dos pesquisadores que compartilharam seus conhecimentos em aulas ministradas aos bolsistas. O grupo brasileiro abordou temas como engajamento comunitário, vetores artrópodes e mudanças climáticas, acesso a dados de clima e saúde, Sistema de Informação Geográfica (SIG) e análise espacial voltado à saúde. Este último, uma versão condensada do curso que é realizado no Icict há, pelo menos, duas décadas.
Temas importantes para as pesquisas que estão sendo desenvolvidas. O curso sobre Engajamento comunitário, por exemplo, destacou a importância do diálogo com as populações locais e como ele deve ser conduzido. A aula, ministrada por Izabel e Christovam, trouxe o conhecimento de quem já participou de pesquisas em diferentes contextos, como no Complexo da Maré (RJ), Serra da Bocaina (SP/RJ), e Baixo Tocantins (PA). Para a Izabel, a troca com os participantes foi essencial, pois "construímos juntos novas formas de pensar e agir diante dos desafios complexos da saúde pública, especialmente quando envolvem aspectos sociais, ambientais e territoriais".
Christovam ressalta que a experiência acumulada pelo Observatório mostra que as pesquisas sobre clima e saúde resultam da combinação de tecnologias disponíveis e a definição do problema de saúde a partir das próprias comunidades. Abordagem que pode ser aplicada em diferentes contextos. “São tecnologias que já estão disponíveis em vários países, mas é preciso compreender o problema antes de decidir que tipo de análise realizar e quais tecnologias aplicar, de acordo com as necessidades de cada país ou região”.
Uma das propostas da Rede Pasteur é a criação de Observatórios de Clima e Saúde. A iniciativa começou por Senegal, Vietnã e Brasil, considerados como exemplares para outros observatórios, e tende a se espalhar para outros países onde a Rede está presente.
Durante a Semana Global de Saúde Pública 2025, em abril, a Rede Pasteur apresentou o Programa de Aceleração dos Observatórios de Clima e Saúde. Ainda em abril, Raphael Saldanha e Christovam Barcellos apresentaram as ações do Observatório de Clima e Saúde durante o webinar Climate & Health exemplars.
A experiência brasileira é um dos modelos da iniciativa. Christovam, coordenador do Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz e do Programa de Aceleração dos Observatórios de Clima e Saúde da Rede Pasteur, afirma que o reconhecimento reflete o trabalho desenvolvido pelo Observatório da Fiocruz ao longo de seus 16 anos de atuação.
“Começamos incorporando novas tecnologias, como estatísticas de saúde, imagens de satélite e GPS, e aplicamos tudo isso às questões de clima e saúde. Agora, observamos um movimento crescente de integração de outras informações ao campo da saúde, como desmatamento, migrações e crises climáticas. Sempre afirmamos que tudo isso afeta a saúde, porque ela não pode estar restrita a questões puramente laboratoriais ou de diagnostico de doenças. Essa perspectiva é algo que produzimos aqui e que agora se tornou uma necessidade mundial. Somos um exemplo para essas iniciativas”, destaca.
O evento em Hong Kong foi um dos marcos do início do projeto. O propósito foi equipar os pesquisadores com ferramentas, orientação e conexões internacionais necessárias para implementar soluções climáticas e de saúde em suas regiões.
A Rede Pasteur é uma aliança de 32 institutos que abrangem 25 países em cinco continentes, desempenhando um papel importante na construção de uma comunidade dinâmica e diversa em conhecimento e experiência. No último mês de abril, Mario Moreira, presidente da Fiocruz, foi eleito o novo presidente da Rede Pasteur.