Novos diretores de unidades da Fiocruz ao lado do presidente Mario Moreira / Fotos: Rodrigo Méxas (Multimeiros/Icict)

“A grande maioria das notas de pesar sobre Igor Sacramento – e elas foram muitas – destacam como ele foi um pesquisador e professor brilhante, inovador, autêntico. Um cientista que nos deixou ainda muito jovem, mas com uma trajetória de força singular. Referência nos estudos sobre desinformação e em vários temas que articulam comunicação e saúde. Reconhecido por inúmeros prêmios. Autor de quase duas dezenas de livros. Mestre que foi e ainda é referência para toda uma geração. (...)”  

As palavras acima foram lidas pelo diretor do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), Rodrigo Murtinho, em saudação ao legado de Igor Sacramento como pesquisador. A homenagem aconteceu durante a cerimônia que marcou os 125 anos da Fiocruz, quarta-feira (28/5), no Auditório de Bio-Manguinhos. No momento, o ex-presidente da instituição, Carlos Morel, também foi chamado para falar sobre a convivência com o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marco Aurélio Krieger. Sacramento e Krieger faleceram em abril. Familiares de ambos acompanharam as homenagens da plateia, em um dos momentos mais emocionantes da manhã.  

Rodrigo Murtinho participa de homenagem a Igor Sacramento / Foto: Rodrigo Méxas (Multimeios/Icict)

📌 Leia mais: Nota de pesar - Igor Sacramento [3]

A Fiocruz completou 125 anos de atividades em 25 de maio, mas as celebrações pelo aniversário tiveram início cinco dias antes, em evento paralelo na 78ª Assembleia da Organização Mundial da Saúde (OMS) [4], em Genebra, Suíça.  

No Brasil, o evento oficial contou com uma programação especial que incluiu, além das homenagens acima, a posse dos novos diretores de unidades e integrantes do Conselho Deliberativo da instituição, os lançamentos de um selo comemorativo produzido pelos Correios e de dois livros da Editora Fiocruz, o anúncio do edital do Selo Fiocruz Vídeo para produção de obras audiovisuais sobre saúde pública e apresentação do Coral Fiocruz acompanhado do coral percussivo Elza Soares, do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco). O público que lotou o auditório também pôde assistir ao vídeo comemorativo 125 anos da Fiocruz – Vocação pela vida.

“A celebração dos 125 anos da Fiocruz nos mostra que nossa história é viva, está em constante transformação, mas se orienta também pela reafirmação do projeto formulado originalmente pelas primeiras gerações de Manguinhos: o de uma instituição que alia pesquisa científica, educação, comunicação, vigilância, inovação tecnológica e produção de bens e serviços, e que fazem da Fiocruz um patrimônio nacional único, reconhecido por todas as brasileiras e brasileiros como o símbolo mais importante da ciência e da saúde pública do país”, disse o presidente da Fiocruz, Mario Moreira.

Na mesa de abertura, ele afirmou que a instituição “nasceu da necessidade de enfrentar uma pandemia, a de peste bubônica, que havia chegado ao Brasil, e se expandiu sob a direção técnica do jovem médico Oswaldo Cruz e com a contribuição das primeiras gerações de Manguinhos. Na época, aqueles pioneiros foram responsáveis por nos colocar na fronteira do conhecimento, com um grande esforço de superação da dependência científica e tecnológica do Brasil”.

Durante seu discurso, o presidente lembrou de Sergio Arouca, que presidiu a instituição após a redemocratização. “Arouca foi fundamental na formulação desse modelo de governança participativa e na nossa reafirmação institucional. Sob sua liderança conquistamos a reintegração dos cientistas cassados reparando uma triste passagem da nossa história. Nosso compromisso democrático e nossa base de gestão participativa são motivos de orgulho e de muita responsabilidade. Por isso, estamos alinhados a todos os movimentos que busquem o fortalecimento da democracia no país”.

Moreira afirmou que as comemorações pelos 125 anos se estenderão até maio de 2026, com eventos nos estados onde a Fiocruz está presente. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc), Paulo Garrido, e a Associação dos Pós-Graduandos da Fiocruz RJ, Suzana Pacheco Liberal, completaram os discursos de abertura.  

Novos diretores de unidades e membros do CD Fiocruz

A cerimônia também foi marcada pela posse dos novos diretores de unidades e membros do Conselho Deliberativo (CD) da Fiocruz. Adriano da Silva, novo diretor do Icict para o mandato 2025-2028, esteve presente.

📌 Leia mais: CD Icict homologa resultado de eleição para novo diretor do Instituto  [5]

Evento lotou auditório de Bio-Manguinhos de trabalhadores e convidados / Foto: Rodrigo Méxas (Multimeios/Icict)

Em outro momento de homenagem, o presidente Mario Moreira entregou aos representantes da família do patrono Oswaldo Cruz uma placa de reconhecimento do seu legado para a saúde e ciência. Estiveram presentes Lilian Oswaldo Cruz, viúva do neto Eduardo Oswaldo Cruz, o bisneto Eduardo Oswaldo Cruz Filho, a bisneta Stella Oswaldo Cruz Penido e o trineto George Oswaldo Cruz.

Edital da VideoSaúde vai financiar filmes sobre temas ligados à ciência e à saúde 

A manhã também foi marcada pelo lançamento da quarta edição do edital do Selo Fiocruz Vídeo para a produção de obras audiovisuais sobre temas de saúde pública, sob a coordenação da VideoSaúde Distribuidora. O edital prevê o financiamento de dez filmes documentais originais e inéditos, com duração entre 20 e 28 minutos, a partir de temas indicados pela Fiocruz, como mudanças climáticas, desinformação em saúde, saúde da pessoa idosa, alimentos ultraprocessados, saúde da mulher – com enfoque em questões étnico-raciais –, drogas e saúde mental, saúde nas fronteiras, acessibilidade e saúde, entre outros. As obras estarão disponíveis em TVs públicas, educativas e universitárias, no Canal Saúde [6] e na Fioflix – a plataforma de acesso aberto da VideoSaúde [7].

A celebração pelos 125 anos da Fiocruz continuou quinta e sexta-feira (29 e 30/5) com a realização de mais uma edição da feira Fiocruz Saudável na Praça Pasteur, ao lado do Castelo Mourisco da Fiocruz.

Leia a íntegra do texto em homenagem a Igor Sacramento:

"A grande maioria das notas de pesar sobre Igor Sacramento – e elas foram muitas – destacam como ele foi um pesquisador e professor brilhante, inovador, autêntico. Um cientista que nos deixou ainda muito jovem, mas com uma trajetória de força singular. Referência nos estudos sobre desinformação e em vários temas que articulam comunicação e saúde. Reconhecido por inúmeros prêmios. Autor de quase duas dezenas de livros. Mestre que foi e ainda é referência para toda uma geração. Um pensador inquieto, que lançava sua curiosidade e sua capacidade analítica sobre temas tão variados como hesitação vacinal e teledramaturgia, história da comunicação e narrativas autobiográficas. 
 
Mas precisamos assumir: impossível enquadrar Igor Sacramento em poucas palavras. Impossível tentar descrever, à maneira de homenagem, uma presença que ainda é tão forte. Uma presença tão decisiva, tão transformadora. Uma presença que ainda perdura e irá perdurar por muito e muito tempo, devido a um legado que nos é tão precioso, em múltiplas dimensões. 

Trata-se de uma presença, também, que nunca se desenhou como discreta. Pelo contrário: aonde quer que passasse, Igor provocava. Instigava, debatia, desconcertava, indagava. Fazia rir, ao mesmo tempo em que instaurava, sempre, a necessidade da dúvida. O ardor das incertezas. O olhar afiado, perscrutador, sobre o tempo presente. E então, enquanto arrancava risos com seu humor tão singular, também nos convocava - como colegas e como instituição - a investigar as contradições, ambivalências e feridas de nossa vida em comum. 
 
Igor Sacramento foi cientista por vocação. Ocupava um lugar crucial, pois ousou encarar de frente desafios que são de natureza incorpórea e mutante. Perseguia uma dimensão - a da comunicação - que é determinante para isso que chamamos de saúde. Mas que é, também, um dos temas mais desafiadores de nosso século. 

Igor foi um tipo muito especial de cientista. Para ele, fazer ciência era indissociável da busca constante por enfrentar desigualdades e violências estruturais. Seu trabalho, na Fiocruz, vem ao encontro da luta por uma ciência que se quer inovadora, ao mesmo tempo em que se abre a outros tipos de conhecimento. Uma ciência engajada na defesa da diversidade. Que reconhece as interseccionalidades e as dívidas históricas de nossa sociedade. Que não se pauta apenas pelo rigor, mas também pelos afetos, pelas histórias, pelas diferenças. Uma ciência que comporta o colorido do arco-íris e que sabe como é urgente abolir a sisudez em benefício do poder da arte, das subjetividades e dos diferentes modos de existir e resistir.   

Igor integrava uma geração de cientistas que tem feito a Fiocruz, do alto de seus 125 anos, ser uma instituição que se pauta na crença em outros futuros. Em outros Brasis, múltiplos e conciliáveis. No esperançar como ato contínuo de existência. Na ciência como instrumento de defesa da vida – vida diversa, vidas no plural.   

Por tudo isso, muito mais do que uma homenagem, estamos aqui para deixar, hoje, nosso muito obrigado. Deixo aqui, neste momento, nossa mais sincera gratidão, respeito e afeto à Dona Euny, mãe de Igor. Aos seus familiares, amigos e colegas de trabalho. Aos alunos e pessoas que tanto aprenderam com ele. 

Estamos aqui, hoje, para dizer que sentiremos saudade. Mas, também, que Igor está e sempre estará presente.”