Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, o Observatório de Clima e Saúde chama a atenção para um tema que tem ganhado espaço, mas ainda de maneira tímida: a relação entre a saúde humana e o equilíbrio ambiental.
As mudanças climáticas, os desastres ambientais cada vez mais frequentes, a poluição do ar e das águas, as ondas de calor... eventos que moldam, silenciosamente — e perigosamente — o cenário da saúde pública no Brasil e no mundo.
Diante disso, convidamos os três coordenadores do Observatório a responderem à pergunta: “O que mais te preocupa — ou mais te motiva — na interseção entre meio ambiente e saúde nos dias de hoje?”
As respostas abordam os desafios — e talvez algumas possibilidades de enfrentamento —, mas todas reforçam a mesma mensagem: é urgente olhar para a saúde e o meio ambiente de forma conjunta.
Acho que o mais assustador da crise atual é — como os geógrafos chamam — a escala dos problemas.
A gente imaginava que, na Antiguidade, os problemas eram locais — uma vila na Grécia, por exemplo, ou uma aldeia na China podia enfrentar uma questão ambiental que se resolvia ali mesmo, no nível local. Depois vieram as crises maiores, como a cólera em Londres, a febre amarela no Rio de Janeiro... Isso já ampliava um pouco a dimensão da coisa. A febre amarela, por exemplo, é uma doença importada: ela chega ao Brasil, encontra o mosquito aqui, e vai se espalhando. A resposta, naquela época, era aterrar mangues, desmatar partes da cidade — e, de certa forma, o problema era contido.
Mas a crise de agora é internacional, não tem fronteiras. É o clima, misturado com as condições sociais degradantes que temos hoje: subemprego, desemprego, habitação precária. A tecnologia está toda concentrada em uma parte do mundo, enquanto a outra parte não tem acesso — nem tecnologia, nem verba para investimento em projetos sociais. Não tem outra explicação: essa é uma crise planetária.
O que nos deixa tensos e preocupados é que, apesar de essa crise ser global — como mostram as agendas internacionais —, a situação política e ideológica se sobrepõe a um problema que deveria ser tratado com mais urgência. Tivemos um período, não tão recente, em que existia uma agenda mais articulada, uma movimentação — principalmente dos países que são os principais responsáveis por toda essa crise — tentando buscar soluções e financiando algumas alternativas.
Mas agora vemos exatamente o contrário: esses grupos estão ignorando o problema. E dificilmente conseguiremos reverter essa situação sem apoio financeiro, principalmente de quem prejudicou e causou todo esse cenário. Isso me deixa bastante preocupado. Se não temos o apoio de quem detém os meios para reduzir o tamanho do estrago, esse estrago tende apenas a aumentar.
Então, chegamos a 2025 comemorando o Dia do Meio Ambiente numa situação bastante crítica, porque não se vê uma convergência de agendas. Pelo contrário, há uma diminuição dessas iniciativas, especialmente com a chegada de governos de extrema-direita ao poder e esse processo de isolacionismo global, com os países olhando mais para si e não para esse contexto — que é muito mais complexo, sobretudo quando falamos em alterações do clima.
Isso é algo que me preocupa e me desanima bastante, principalmente porque os países que mais sofreram — e que mais vão sofrer — com isso são, justamente, os que não têm condições de responder.
É emergente não apenas atuar na diminuição das emissões de gases poluentes, mas também na construção — cada vez mais sólida — de planos de adaptação. E não só em nível nacional, mas também estaduais e municipais, e de maneira mais urgente do que está sendo feito.
Essa urgência é muito grande — e precisa atuar também antes das emergências. As populações precisam estar minimamente protegidas e atendidas antes que as emergências aconteçam. Porque, quando as emergências ocorrem em locais com uma atuação menor do sistema de saúde, especialmente da atenção básica, os prejuízos na saúde são muito mais graves — inclusive com maior número de óbitos.
Por isso, é fundamental que tenhamos atenção a duas frentes igualmente importantes: a diminuição das emissões de gases poluentes e a implementação de planos de adaptação. Mas esses planos não podem focar apenas na resposta emergencial, eles precisam estar voltados também para a prevenção e preparação. Agindo assim, além de proteger vidas, estaremos também economizando recursos na saúde.
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Foto de capa de Fernando Frazão/Agência Brasil mostra área de manguezal, recuperada após desastre ambiental, no Parque Natural Municipal Barão de Mauá, na margem da Baía de Guanabara. Demais fotos por Raquel Portugal/Icict.
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