Seminário defende políticas públicas pela saúde de seres humanos e animais

por
André Bezerra
,
29/03/2017

A saúde de animais e seres humanos foi o principal assunto do seminário ‘Zoonoses e animais negligenciados’, promovido pelo Centro de Estudos do Icict/Fiocruz na última quinta-feira, 23 de março, na Biblioteca de Manguinhos. A atividade reuniu pesquisadores, médicos veterinários, profissionais de saúde pública e militantes de movimentos de proteção e bem estar animal em torno de ações de prevenção, informação e mobilização.

O primeiro bloco abordou especialmente leishmaniose, esporotricose e raiva, três dos maiores agravos relacionados à saúde animal no país. “A questão dos animais negligenciados, animais errantes, animais soltos em vias públicas ou abandonados é uma preocupação para nós. Por isso, acreditamos que é importante essa aproximação entre instituições de pesquisa, conselhos e organizações não governamentais”, saudou o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro, Cícero Araújo Pitombo, na abertura.

Raiva: vacinação e vigilância devem ser constantes

O contexto atual em relação à zoonose de raiva foi tratado pela bióloga Patrícia Meneguete, coordenadora de vigilância ambiental da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. “Aqui no estado, o programa de prevenção tem dado bons resultados. É uma doença de notificação obrigatória e requer uma ação bastante rápida” pontuou.

Patrícia Meneguete, coordenadora de vigilância ambiental da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. Foto: André Bezerra - Ascom/Icict

Apesar disso, para a técnica ainda existe um problema de subnotificação. “Para a gente tomar ações de vigilância, é preciso ter a informação correta e todos dados de notificação, senão não é possível prevenir”, complementou. No estado, a maior parte dos casos é de área rural, acometendo principalmente animais bovinos e morcegos, que propagam a variante silvestre da raiva. Para manter a saúde de cães, gatos e humanos, a estratégia vigente é a vacinação dos animais, e, nesse sentido foi destacada a necessidade de maior divulgação das campanhas.

Esporotricose: importância da informação

Sobre a esporotricose, os médicos veterinários Alessandra Pereira, da Qualitas, e Rogério Lobo, da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa/RJ), apresentaram um panorama de aspectos clínicos e dificuldades no tratamento do agravo que vem crescendo sobre a população de felinos no Rio de Janeiro. Também alertaram para o problema da falta de informações corretas e a circulação de dados e notícias equivocadas e sensacionalistas que vem circulando sobre o assunto nas últimas semanas.

“A informação é muito importante, pois a doença não é do gato, como muitas pessoas acreditam; a doença apenas está no gato”, salientou Rogério Lobo. Sua colega ressaltou que os animais só transmitem a esporotricose quando estão doentes, e que o agente infectante está na natureza. “O gato é uma vítima do problema. Isso é importante comentar porque muitas pessoas pensam em abandoná-los com medo da doença, mas a gente sabe que existem formas de tratá-la. O abandono desses animais vai favorecer cada vez mais a disseminação desse problema”, apontou Alessandra.

Alessandra Pereira, doutora em zoonoses pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas.

A esporotricose é a micose subcutânea mais comum da américa latina e possui um alto potencial zoonótico. O Brasil é uma das principais áreas acometidas. Em relação aos aspectos epidemiológicos, desde 1998 há a epidemia e os números vem crescendo. Atualmente são 4 mil casos catalogados, fora os não notificados. Nos casos de esporotricose felina, é fundamental buscar tratamento médico para os animais e evitar quaisquer tratamentos caseiros. Além disso, em caso de óbito dos animais, não deve ser feito sepultamento no solo, pois isso contamina o ambiente, sendo indicada sua cremação.

Veterinários ressaltam que para a saúde dos gatos, o melhor é mantê-los castrados e dentro de casa e defendem políticas públicas de bem estar e proteção animal. “Temos um problema socioeconômico muito grave e isso só contribui para o problema. Nas comunidades carentes, muitos gatos soltos acabam propagando a doença”, complementou a pesquisadora.

Leishmaniose: mudança de paradigma

“A esporotricose está na mídia, mas atualmente, a leishmaniose não está. É uma doença negligenciada e precisamos falar sobre isso”, convocou Paulo Abílio Varela Lisboa, coordenador substituto do Centro de Estudos do Icict e organizador do seminário. O assunto foi apresentado por Francisco Anilton, técnico do laboratório Hertape e especialista com bastante experiência no setor público, e Luiz Eduardo Ristow, do laboratório especializado em diagnósticos Tecsa.

Presente em quase todo o país, a Leishmaniose se expandiu de áreas rurais para os ambientes urbanos e com presença cada vez maior nas regiões centro-oeste e sul. Sua transmissão é ocasionada pelos mosquitos flebotomíneos e, por muitos anos, houve muitas controvérsias em torno das estratégias de contenção da doença, como a realização de eutanásia ao invés da adoção de ações preventivas. O tratamento farmacológico obteve apenas no último ano autorização para ser utilizado por médicos veterinários.

“Temos que repensar a leishmaniose em nosso país, uma mudança de paradigma: desde o clínico veterinário, que tem que mudar de postura, até a vigilância e o controle, porque os protocolos ainda são muito antigos”, defendeu Anilton. Ele defendeu a adoção de estratégias de controle do vetor, da prevenção das picadas em cães, prevenção em seres humanos, além de ações de vigilância em sinergia entre esferas federal, estadual e municipal, além de vislumbrar estratégias de vacinação e tratamento dos sintomas clínicos.

Sobre o diagnóstico, Luiz Eduardo Ristow destacou a importância do diagnóstico diferencial para minimizar os casos de falso positivo, além de falsos negativos, para minizar a eutanásia e incentivar o tratamento correto. No período da tarde, a veterinária Romeika Reis Lima mostrou as possibilidades de prognóstico em diferentes estágios da doença. “Com o tratamento, é possível reduzir a carga e a transmissibilidade da leishmaniose”, explicou.

O desafio de combater o abandono de animais

Regina Petri, do grupo Focinhos do Castelo, durante debate no Icict/Fiocruz. 

A nova subsecretária da área de bem estar e proteção animal do município do Rio de Janeiro, Suzane Rizzo, apresentou durante o seminário a nova visão sobre o tema adotada pela pasta. “A gente tem hoje um surto de  animais abandonados. Os abrigos estão lotados. É um modelo que precisa ser revisto”, apontou. As ações terão objetivo de evitar a concentração de animais, desestimulando o abandono em locais públicos, além de ampliar a castração, e, acima de tudo, o incentivar a adoção e a posse responsável.

O grupo de protetores de animais abandonados no campus da Fiocruz, chamado de Focinhos do Castelo, apresentou suas ações e dialogou em torno de possíveis parcerias. "Sem os protetores, haveria uma população descontrolada de cães e gatos abandonados", acredita Regina Petri, servidora da fundação e participante do coletivo. O chefe do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) relatou os casos de animais abandonados no campus e descreveu as ações que foram tomadas para coibir a negligência humana. “A universidade precisou estabelecer regras, mas ainda é preciso um trabalho de educação”, informou.

Nos campos da informação e comunicação, os destaques foram a apresentação do sistema e aplicativo Viconsaga, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que permite localizar em mapas notificações sanitárias e a Biblioteca Pública de Niterói, que criou seção específica com obras sobre a questão do bem estar animal.

Comentários

O meio que encontrei para expressar minha opinião foi escrevendo essa mensagem. Também tenho um apelo a fazer: - Porque não agimos na promoção e prevenção comunitária, atendendo o público mais carente que se encontra em estado de vulnerabilidade. Fazemos um trabalho comunitário, onde envolveria mais profissionais para a prestação da assistência. Como? agentes comunitários fariam as visitas e notificavam se existisse animais nas casas e se estavam sadios, caso não, comunicaria no posto e o posto notificaria e pediria uma avaliação social da família, através de um assistente social, que iria novamente na residência para uma entrevista buscando a escuta sobre tudo deste animal dentro de um todo,mas o fundamental seria a estrutura dessa família, salientando que o serviço social não poderá intervir clinicamente e sim de observar e entender a questão social da família, após esse entendimento os assistentes sociais relatam diferentes formas de prevenir ou promover nas ações que desenvolvem na saúde do animal. Quando são solicitados para explorar as atividades da prevenção, respondem com clareza e precisão, pois compreendem a atuação de evitar a zoonoses (doenças transmitida do animal para o ser humano) e a proliferação do contágio entre mesma espécie. A proposta é visitar moradores que no momento encontra-se em estado de vulnerabilidade e que possuam animais de pequeno porte não sadios, para ser feito uma avaliação com o Médico Veterinário de acordo com as condições do proprietários, se essa mesma família tiver condições de tratar, existiria uma parceria com várias clínicas privativas para um atendimento de baixo custo, com isso não lotaria os hospitais veterinários públicos, até porque sabemos que não comportaria tantas patologias de risco para o homem (zoonoses). Obrigada Josiane Gomes

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Seminário do Centro de Estudos: Zoonoses e Animais Negligenciados. Foto: André Bezerra - Icict/Fiocruz
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