O 'Espaço Saúde e Letras', um pequeno estande para exibição de filmes montado no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda (PE), ficou lotado durante toda a terça-feira (2/11). No local, o público pode assistir aos sete vídeos do Selo Fiocruz financiados pelo Edital 001/08, debater com os diretores e ainda levar para casa o novo catálogo de vídeos da VideoSaúde. No final da tarde, os títulos, reunidos em cinco DVDs, foram vendidos a preço de custo (R$ 10,00). A mostra de filmes é parte da extensa programação da Distribuidora no IX Congresso de Saúde Coletiva da Abrasco.
Os sete vídeos vencedores, de curta e média metragem dos gêneros documentário, ficção e animação (voltados à democratização do acesso da população aos problemas de saúde pública brasileiros), emocionaram o público e provocaram discussões relevantes sobre diversas questões. Cuidado ambiental, diabete, saúde indígena, controle sanitário urbano, saúde mental, aborto inseguro e adolescência foram alguns dos temas abordados. Na opinião dos diretores premiados, o Edital 001/08, instituído para incentivar a produção independente sobre saúde pública, foi a oportunidade que aguardavam para realizar projetos há muito acalentados.
"Quando o edital saiu, parecia que tinha sido feito para mim. Pude, pela primeira vez, desenvolver um projeto meu", comemora o roteirista, produtor e diretor de Rattus, rattus, Zé Brandão. O curta de animação, ambientado no Rio do "bota-abaixo" de Pereira Passos, conta a saga do menino Heitor, que descobre na caça aos ratos um meio de ganhar dinheiro. Naquele momento, Oswaldo Cruz promovia a compra dos roedores para combater a peste bubônica. "Parti de uma música do Chico Buarque (Ode aos ratos) para fazer uma simbiose entre sociedade, cidade e saúde pelo olhar de um menino de rua, que habita as ruas da cidade, assim como os ratos", completa Brandão.
O olhar sobre a diferença também pautou os psicólogos Paula Saules e Marcus Leopoldino, roteiristas, produtores e diretores do filme Ehcimakî Kirwañhe: um debate na saúde indígena. O documentário, feito após a visita da equipe a sete aldeias de Oriximiná, no oeste do Pará, traz para a tela a discussão sobre a estruturação e o funcionamento da rede de saúde indígena naquela região.
"Passamos dois meses no local para fazer o filme, que será utilizado como ferramenta de trabalho para os técnicos de enfermagem e agentes de saúde da Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai)", explicam os produtores. Segundo eles, o documentário tem como objetivo avaliar a demanda da Política Nacional de Humanização da Assistência em Saúde e a relação entre o uso de medicina tradicional e as práticas de saúde da cultura indígena.
Quebra de resistências e preconceitos em pauta
"Eu tinha já o projeto, mas não encontrava patrocínio para contar as histórias de vida dos moradores da Morada Viamão", conta Karine Emerich, diretora do emocionante Ruínas da loucura. Ecton, Jorge, Israel, Abel, Marli e seus dois irmãos, Manoel e Regina, ex-pacientes do Hospital Psiquiátrico D. Bosco, no Rio Grande do Sul, são os protagonistas do documentário. No filme, revelam como melhoraram suas vidas após a criação do Lar Residencial Terapêutico Morada Viamão, para onde foram transferidos em 2005.
Segundo a diretora, o maior mérito do filme é mostrar que a reinserção social e a quebra de resistência contra doentes mentais é possível. "O filme provocou mudanças significativas nas vidas deles, pois, além de participarem de etapas da edição, restauraram laços familiares até então rompidos", diz com entusiasmo Karine Emerich.
Um dos filmes mais aguardados do dia mostrou um grave problema de saúde pública brasileiro. O aborto inseguro, responsável por cerca de 200 mortes por ano no Brasil, causa graves seqüelas físicas e psicológicas em milhares de mulheres. Nos países em que foi descriminalizado, como Portugal, registrou-se a redução do número de casos, visto que a legislação que descriminaliza o ato inclui uma série de ações, como acompanhamento psicológioco, que auxiliam as mulheres na tomada de decisão. O aborto, na maioria dos casos, é feito em momentos de desespero.
"Eu já me interessava pelo tema quando saiu o edital. Admiro a Fiocruz por ter premiado com o primeiro lugar o meu filme. É preciso debater sobre o tema a fim de que seja feita uma legislação específica para o aborto", enfatiza a diretora de Fim do silêncio, Thereza Jessouroun. O documentário traz, pela primeira vez, depoimentos dramáticos de mulheres que falam, abertamente, sem esconder o rosto nem a identidade, sobre como e porque fizeram aborto.
O filme tem provocado intensos debates e a rejeição por parte de instituiçoes religiosas. Mas o interesse em torno do tema é tanto, que o Youtube já registrou mais de 19 mil acessos ao trailer do filme. "Faço um trabalho de forminguinha que, tenho certeza, dará certo. É preciso desenvolver melhor a política de planejamento familiar do Ministério da Saúde, que inclui educação sexual e o acesso a métodos contraceptivos. Por fim, criar uma lei que descriminalize o aborto até a 12ª semana de vida do feto".
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