No dia 29 de julho, o Programa das Nações Unidas para HIV e Aids (Unaids) divulgou o relatório em relação à situação da doença no mundo. De acordo com o documento, no Brasil, para cada 15 homens doentes, há dez mulheres. Em 1980, quando foi feito o primeiro levantamento nacional, para cada mulher com Aids, havia 26 homens com o vírus. Para comentar sobre o aumento do número de mulheres com HIV e, aproveitando o lançamento da 17ª Semana Mundial da Amamentação na Fiocruz, o sítio do Icict entrevistou o doutor Francisco Inácio Bastos sobre a maternidade, a gestação e amamentação das mães portadoras do vírus. Bastos é doutor em saúde pública, pesquisador do Icict e autor do livro "Aids na terceira década", lançado pela Editora Fiocruz em 2007.
Repórter: Como está a atual situação da Aids, no Brasil, em relação às mulheres?
Francisco: Sem dúvida existe um aumento da Aids entre mulheres, mas nada que seja explosivo ou minimamente parecido com o que acontece na África. A transmissão do vírus da Aids no Brasil, hoje, é basicamente sexual e a prevalência da doença na população é de 0,5 %, enquanto que na África, esse número é maior do que 5%.
Repórter: É possível determinar uma faixa etária?
Francisco: A epidemia no inicio estava concentrada nos adultos jovens. Com a mudança dos hábitos sexuais, a iniciação sexual mais precoce e a continuidade da vida sexual em pessoas mais velhas, a grande diferença é que há um número maior de infectados entre as faixas etárias extremas (jovens e idosos). Houve uma redistribuição da doença em relação à faixa etária. Podemos dizer que, nesse eixo, entre Sul e Sudeste, a epidemia está bastante estável.
Repórter: A mulher portadora do vírus HIV pode ter problemas durante a gestação? A criança também corre riscos?
Francisco: O mais importante é que a terapia é extremamente eficiente, no sentido de prevenção materno-infantil, desde que realizada de forma precoce. O grande problema é que muitas mulheres não têm acesso ao pré-natal e que, quando essas mulheres têm acesso a esse tipo de serviço, ele é de má qualidade. Muitas vezes, o teste de HIV não é feito ou então as mulheres não têm acesso aos resultados. Apesar da transmissão vertical ter reduzido muito, ela persiste, basicamente, por deficiências na implementação. Não é um problema técnico-farmacêutico. Em São Paulo, por exemplo, o padrão é perto do ideal, enquanto que em outras regiões esse processo ainda é bastante deficiente. Não há nenhuma razão, a priori, para que a mulher transmita o vírus para seu filho, tanto no parto quanto na amamentação.
Repórter: Como as mulheres podem transmitir o vírus para os filhos?
Francisco: Existem três modos: intra-útero, intra-parto e amamentação. Isso tudo pode acontecer desde que não seja feita a prevenção (pré-natal, teste de HIV e etc).
Repórter: Mesmo que a criança não tenha sido infectada pelo vírus, ela corre riscos de ter problemas de saúde no futuro?
Francisco: Hoje em dia isso não acontece, mas como a criança acaba absorvendo os anticorpos da mãe, é necessária a realização de avaliações periódicas até que a criança complete dois anos de idade. A medicação utilizada é muito segura e se a mulher tiver um bom acompanhamento pré-natal, a criança não correrá nenhum risco.
Repórter: Sobre a questão dos direitos reprodutivos, como a academia enquadra a mulher portadora de HIV?
Francisco: É necessário conhecer bem a fundo a característica da população brasileira para poder pensar a questão dos direitos reprodutivos. Na medida em que as mulheres estão com uma saúde melhor e vivendo mais tempo, elas têm o direito de ter filhos, mesmo com HIV. O conflito mais relevante tem ocorrido na área de casais soro-discordantes - por exemplo, a mulher é soro-positivo e o homem negativo, e para ter filhos ela quer ter relação com o marido, embora seja possível fazer por inseminação artificial, apesar do alto custo. A chance de a criança ser infectada é muito pequena, chegando a ser menor que 2%. É mais provável que ela transmita o vírus para o marido do que para a criança.
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