Artigo sobre suicídio recebe prêmio “Jovem Psiquiatra”

por
Igor Cruz
,
16/11/2009

Pesquisadores do Laboratório de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (Labcities), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), ganharam o prêmio “Jovem Psiquiatra” durante o 27º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em São Paulo, que contou com seis mil participantes. Intitulado como “Manejo do suicídio na emergência: dificuldades na formação do residente e na estruturação dos serviços no Brasil”, o artigo, que é um produto de uma pesquisa, ainda em curso, sobre vigilância epidemiológico-sanitária e prevenção ao suicídio, teve como objetivo identificar as dificuldades na formação do residente de psiquiatria na condução do atendimento emergencial, especialmente quando há risco de suicídio. Além disso, no dia 17/11, o Icict promove um seminário sobre prevenção ao suicídio, às 9h, no auditório da unidade.

Aos vencedores, além do prêmio, foi dada a quantia de três mil reais e o custeamento de passagens aéreas para os jovens pesquisadores envolvidos, que, durante o evento, realizaram uma breve apresentação do trabalho. Sob coordenação do pesquisador do Icict, Carlos Estellita-Lins e com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de outras unidades da Fiocruz, a pesquisa foi desenvolvida com médicos residentes no hospital-escola Centro de Psiquiatria do Rio de Janeiro (CPRJ). Também participaram da pesquisa bolsistas, mestrandos e doutorandos do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS), do Icict. Entre os participantes estão: Hélio Antônio Rocha; Mariana Bteshe; Verônica Miranda; Helio Rocha Neto; Adriano Aguiar; Pedro Iencarelli e Leonardo Meyer.

Após entrevistas e discussões com os residentes, os resultados apontaram para a necessidade de melhorias na  rede assistencial em psiquiatria e, sobretudo, um investimento na formação de médicos emergencistas durante a graduação e a residência. Para o coordenador da pesquisa, Carlos Estellita-Lins, o mais importante no estudo foi levantar alguns aspectos sobre a falta de conhecimento dos residentes, a qualidade precária do treinamento em urgência psiquiátrica e a formação incipiente dos profissionais de saúde no que diz respeito ao risco de suicídio. “Quando falamos da emergência em psiquiatria, percebemos algumas falhas no sistema. Primeiro porque as universidades não têm um ‘bloco’ especializado nesta área. Segundo porque as emergências não têm uma qualidade adequada de assistência e tampouco um fluxograma claro de encaminhamento ou protocolos de conduta. Por último, os profissionais que trabalham na ‘linha de frente’ nas emergências, não tem o treinamento adequado”, explica Estellita-Lins.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em todo o mundo, cerca de 450 milhões de pessoas sofrem de transtornos mentais e comportamentais. No que diz respeito ao Brasil, estudos apontam que cerca de 23% da população sofre com transtornos mentais comuns, incluindo ansiedade e depressão. Segundo o coordenador, isso significa que quase um quarto da população seria passível de diagnóstico e algum tipo de ajuda, e  mais da metade deste grupo, provavelmente, desenvolverá uma forma mais grave de transtorno depressivo, que poderá levar, inclusive, ao suicídio.

Nesse sentido, Estellita-Lins revela que para reduzir o número de indivíduos com estes transtornos, além das campanhas de reflexão e conscientização de todos os setores da sociedade,  é preciso uma maior resolutividade no primeiro contato do paciente com o hospital.  “Se as pessoas pararem de ver o suicídio como uma questão moral e admitirem que mais de 90% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, teremos uma melhor compreensão sobre o assunto, uma maior possibilidade de intervenção e, conseqüentemente, uma redução nas taxas de suicídio. No caso do primeiro atendimento, a maior preocupação da emergência deve ser atender com rapidez e eficácia, na tentativa de prevenir para que, no futuro, as pessoas não desenvolvam quadros graves de transtornos mentais”, completa o coordenador.

Para Estellita-Lins, só o fato de refletir e discutir sobre o suicídio já é um avanço muito grande. O coordenador pondera que o mais complicado nesta questão é saber como deve ser a informação e a comunicação para os trabalhadores de saúde, os médicos-residentes, para os pacientes e para a população em geral. “Temos que ter cuidado com o processo de comunicação e mediação pois para qualquer pessoa que está deprimida, só o fato de divulgar que em determinado local o chumbinho é vendido livremente, pode aumentar as chances de uma tentativa de suicídio”, explica. O coordenador acredita que, além de realizar uma demanda legítima da última Conferência Nacional de Saúde, que recomenda a inclusão da comunicação na agenda da saúde, folderes, cartazes, manuais e vídeos educativos podem ajudar o paciente e a população a lidar e prevenir essas situações.

A pesquisa desenvolvida integra um conjunto de investigações com o objetivo de prevenir o suicídio, que teve início no ano passado e contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) e apoio da Fiocruz. Em 2010, o estudo contará com a participação de outros pesquisadores do Icict, como Alice Ferry, Cristina Guimarães e Rosany Bochner.

 

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