Boatos sobre Zika e Microcefalia nas redes sociais é tema de defesa de mestrado

por
Graça Portela
,
20/06/2017

"Disseram por aí: deu Zika na rede - boatos e produção de sentidos sobre a epidemia de Zika e Microcefalia nas redes sociais" é o título da dissertação de mestrado de Marcelo Garcia que será defendida na terça-feira, 27/06, pelo Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS)/Icict.

Com a orientação da pesquisadora Janine Cardoso (PPGICS/Icict/Fiocruz) e de Fábio Luiz Malini de Lima, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades (PPGCT), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Garcia analisou os comentários de postagens das páginas do Facebook da Fiocruz e dos jornais Diário de Pernambuco e da Folha de S. Paulo. Uma de suas observações foi que "as narrativas alternativas mantiveram ambígua relação com a autoridade científica, ora contradizendo-a, ora buscando legitimação na menção a instituições e especialistas". Garcia concluiu que "em ambientes digitais marcados pela conversacionalização, midiatização e eliminação das marcas de hierarquia, as opiniões dos indivíduos circulam como comentários quase que em pé de igualdade com o discurso técnico e científico".

Leia abaixo o resumo da dissertação de mestrado de Marcelo Garcia. 

Defesa de Dissertação de Mestrado

Título: Disseram por aí: deu Zika na rede- boatos e produção de sentidos sobre a epidemia de Zika e Microcefalia nas redes sociais.

Aluno: Marcelo Pereira Garcia 

Orientadora: Janine Miranda Cardoso (PPGICS/ICICT/FIOCRUZ)

Segundo Orientador: Fabio Luiz Malini de Lima (PPGCT/UFES)

Banca:

Titulares:
Drª. Kátia Lerner – PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Drª. Carla da Silva Almeida - PPGDCTS/COC/FIOCRUZ

Suplentes:
Drª. Inesita Soares de Araújo – PPGICS/ICICT/FIOCRUZ
Drª. Fábio Gomes Goveia - PPGCT/UFES

Data: 27/06/2017

Horário: 13h

Local: Sala 402, da Casa de Oswaldo Cruz (COC, no Prédio da Expansão

Resumo: Um traço marcante da epidemia de zika e microcefalia de 2015/2016 foi a ampla circulação de boatos virtuais. Considerando sua relevância para a construção social das doenças e para as políticas públicas de enfrentamento, nosso objetivo foi compreender como os boatos participaram da produção de sentidos sobre a epidemia, identificando discursos concorrentes, vozes mobilizadas, argumentos apresentados e lugares de fala reivindicados pelos interlocutores. Para tanto, nosso quadro teórico incluiu diferentes áreas de conhecimento: da semiologia e da análise de discurso, destacamos autores como Mikail Bakhtin, Eni Orlandi e Norman Fairclough, e, em suas articulações com as práticas e modelos de comunicação e saúde, Inesita Araíjo e Janine Cardoso; dos estudos sobre internet, redes sociais e midiatização, Manuel Castells, Pierre Lèvy, Raquel Recuero e Antonio Fausto Neto, entre outros; dos estudos sociais da ciência e do risco, Pierre Bourdieu, Anthony Guiddens, Ulrich Beck, Bruno Latour e Luis Castiel, por exemplo; além da preciosa contribuição do trabalho de Eni Orlandi sobre a relação entre silêncios e boatos. Após um estudo exploratório dos principais boatos sobre a epidemia, selecionamos para análise comentários de postagens de três páginas do Facebook: da Fundação Oswaldo Cruz, do Diário de Pernambuco e da Folha de S. Paulo. 

Os resultados evidenciaram a configuração de um ambiente de grande incerteza, relacionado a três fatores principais: o desconhecimento científico sobre a doença, o caréter reflexivo sobre os riscos da ciência, característico das sociedades contemporâneas, e o ambiente de crise política e institucional no país. Observamos que as narrativas alternativas mantiveram ambígua relação com a autoridade científica, ora contradizendo-a, ora buscando legitimação na menção a instituições e especialistas. Importantes relações interdiscursivas foram evidenciadas pelas citações de casos anteriores de falhas científicas, de discursos antivacinais e contra o uso de agrotóxicos e de epidemias passadas, em especial a da dengue. Sobre ela, encontramos tanto reafirmações do discurso oficial de prevenção, centrado na eliminação do Aedes aegypti, quanto crítica à permanência da doença e do vetor. 

Dois pontos principais serviram como combustível para a circulação de boatos: a pouco explicada concentração de casos no Nordeste e o ineditismo da associação com a microcefalia. Essa centralidade nos levou a discutir as diferenças de temporalidades entre a ciência em construção, a imprensa imediatista e a população ansiosa por recomendações pragmáticas e a debater questões sobre a deficiência da comunicação pouco dialógica no campo da saúde, em especial a partir da ausência de interação da Fiocruz em sua página. 

A partir da análise, nossa visão é que o boato virtual desponta como um gênero discursivo marcante da confluência de uma era de incertezas, em que viceja a cultura do risco, a ciência perde seu estatuto de verdade e própria verdade se torna mais fluida, pós-verdade. Em ambientes digitais marcados pela conversacionalização, midiatização e eliminação das marcas de hierarquia, as opiniões dos indivíduos circulam como comentários quase que em pé de igualdade com o discurso técnico e científico. Os espaços de comentários do Facebook – e das redes sociais e da internet – como que “institucionalizam”, dessa forma, lugares difusos, confusos de fala – próprios da circulação do boato.

 

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