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Como ter uma comunicação eficaz e contar com a participação popular no controle da dengue, chinkungunya e zika? Para encarar essa e outras provocações, jornalistas da Fiocruz e especialistas da área estiveram presentes na última mesa do seminário Vigilância em Saúde das Doenças Virais Chikungunya, Zika e Dengue: desafios para o Controle e a Atenção à Saúde, realizado nos dias 3 e 4 de novembro, no Museu da Vida, intitulada 'Desafios para a Comunicação e Participação Social no controle de Viroses'.
A mesa, que teve a moderação do vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promocão da Saúde/Fiocruz, Valcler Rangel, contou com a presença dos jornalistas Umberto Trigueiros, diretor do Icict, e Marcia Castro, superintendente do Canal Saúde, de Christovam Barcellos, coordenador do Laboratório de Informação em Saúde (Lis) e do Observatório Clima e Saúde, do Icict, e Patrícia Evangelista da Silva, do projeto Participação e Mobilização Social, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP)/Fiocruz e representante da organização social Mulheres de Atitude, de Manguinhos.
Na abertura, Miguel de Oliveira, biólogo e curador da exposição Dengue, do Museu da Vida, falou sobre a mostra, que já passou pelo Rio de Janeiro (RJ), Santos e São Paulo (SP), tendo mais de 21 mil visitas. A mostra está em Recife (PE) até janeiro de 2016, e segue atraindo público de todas as idades.
Oliveira falou sobre os objetivos da mostra que é, dentre outros pontos, "sensibilizar o público por meio de uma exposição interativa" e de seu sucesso: a mostra é considerada única no mundo por seu tamanho e ser dedicada exclusivamente a um tema que atinge milhões de pessoas em vários países. Oliveira explicou que a exposição é uma forma de comunicação eficaz contra a dengue e que traz um jeito diferente de se ver a Ciência: "ciência é cultura também!"
Christovam Barcellos falou sobre a experiência do Observatório Clima e Saúde, que mantém uma seção exclusiva – Notícias > Vetores – para levantar as notícias publicadas sobre os vetores dengue, chikungunya e zika. Ele explicou que as notícias dadas pela mídia podem servir de parâmetro para estudos de incidência de doenças, dando como exemplo a notícia publicada no portal G1, em 29/9/2015, sobre a possibilidade de um surto de dengue em Porto Alegre, cidade até então – pelo clima – não considerada como uma das que teriam um surto da doença.
Para o pesquisador, as notícias estão antecipando o que será visto em termos de registros oficiais das doenças no país. “A concepção de surto para a Saúde é muito importante, porque atuamos sobre o surto, não sobre casos individuais de doenças, e muitas vezes quem chama a atenção para o surto é a imprensa”. “A imprensa reelabora aquela informação, vai descobrir o porquê e isto é importante”, afirmou.
“Nas campanhas do governo federal, a dengue é mostrada como um problema individual, que depende de ações individuais”, provocou a jornalista Marcia Castro. Ela alertou sobre o que chamou de ‘culpabilização do cidadão” e indagou “Como usar a mídia para tratar a questão de forma mais complexa?”
Marcia Castro afirmou que percebe “uma necessidade muito grande de ampliar os discursos em prol de um objetivo maior, para poder disputar as verdades que estão aí nas arenas midiáticas”. A superintendente do Canal Saúde propôs, a partir de sua visão “de jornalista que atua na Fiocruz”, afirmou que é preciso “investir em uma comunicação em camadas fazendo, a princípio, uma grande disseminação usando os veículos da grande mídia, mas com estratégias paralelas que desdobrem essa informação em veículos comunitários, mídias sociais, em “n” veículos, trabalhando a comunicação de uma maneira mais sistêmica sem ser pautada na grande mídia em si... Para tentar fazer um debate mais complexo, sem perder a ponte com a sociedade”.
O penúltimo a falar foi Umberto Trigueiros indagou os presentes sobre de que se trata a informação e a comunicação em saúde. Segundo ele, “elas tratam de tentar passar o conhecimento capaz de mudar hábitos e cultura, capaz de influenciar ações de saúde, políticas, e até condutas”. Trigueiros afirmou ser necessário “decodificar a linguagem da ciência para a população” e “que essa comunicação seja construída junto com a população, para que não fique um discurso unilateral”.
O diretor do Icict ressaltou sua convicção de que “saúde e democracia não podem andar separadas. Não existe democracia sem saúde e não existe saúde sem democracia”, reafirmando que a democracia “é essencial para a vida, para a dignidade da vida, que dá capacidade para as pessoas se organizarem em associações de moradores, em conselhos comunitários, e terem representação e voz para debater as questões, e serem ouvidos”. Trigueiros afirmou que as novas formas de comunicação como as redes sociais (facebook, twitter e outras), a telefonia móvel são caminhos a serem explorados para uma comunicação direta com a população, obtendo e levando um feedback da informações e comunicações em saúde.
Do ponto de vista da participação social, Patrícia Evangelista explicou a necessidade da “inserção consciente dentro do processo de mobilização social”. Ela destacou que a atenção básica e a saúde como um todo “não são só de interesse dos técnicos e profissionais da área de saúde, mas também da população que recebe esse serviço, que quer colaborar e co-participar de todo o processo”.
Ela lembrou o início da parceria entre o Fórum de Manguinhos e à Fiocruz para trabalharem em conjunto situações de saúde, como a campanha contra a dengue, quando a Fundação capacitou voluntários dentro da comunidade para combater o problema. “Pudemos levar essas informações para dentro de nossas casas e isso nos ajudou bastante.” Patrícia Evangelista fez questão de deixar claro que, pelo que preconiza o SUS, “o controle social não é um intrometido, ele é convidado a participar e atuar nesse processo de mobilização e participação”.
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