“Houve uma melhora geral no acesso da população a serviços de saúde”, afirma Jorge Chediek

por
Graça Portela
,
23/08/2013

A que o senhor atribui essa melhora dos índices brasileiros?
Os dados mostram que este país continental, ainda tomado por um passivo social histórico, está fazendo sua lição de casa e conquistando resultados importantes. Podemos constatar agora, com o IDHM e o Atlas Brasil 2013, que a evolução dos municípios brasileiros nos últimos 20 anos é impressionante. O IDHM do Brasil cresceu quase que 50% entre 1991 e 2010.
Ainda temos diversos Brasis dentro de um só Brasil. Mas estas disparidades também têm caminhado para uma convergência importante, entre os municípios do Norte e do Sul, entre as capitais e o interior, entre as grandes e as pequenas cidades. Em que pesem as persistentes desigualdades, quando olhamos para os mapas do Brasil no Atlas 2013, vemos uma dinâmica de melhorias consistentes e impressionantes.

Mas é importante dizer que a melhoria do desenvolvimento humano não está isolada nos municípios. Este é um mérito conjunto do Governo Federal, dos Governos Estaduais, das Prefeituras e da sociedade como um todo.

 

O que contribuiu para isto?
Em linhas gerais, a análise aprofundada dos fenômenos deste desenvolvimento só serão apresentadas dentro de um ano com o Relatório de Desenvolvimento Humano no Brasil, após também uma análise dos dados intramunicipais, com a divulgação do IDHM das regiões metropolitanas. Mas podemos certamente dizer que o grande impulso desta melhora do desenvolvimento humano no Brasil veio da Constituição de 1998. Ela abriu as portas para a universalização da saúde e da educação e contribuiu para que políticas públicas focadas nestas áreas fossem criadas e implementadas em todo o território nacional. Além disso, a dimensão dada a políticas mais holísticas de transferências condicionadas de renda a famílias mais pobres, ligando este acesso à renda à educação e à saúde, complementaram este tripé que é exatamente o tripé do IDHM.

 

Por que os dados foram baseados no Censo do IBGE, que não representam exatamente os dados das cidades, uma vez os municípios também dispõem desses dados, até mais precisos?
Cidades, segundo a legislação brasileira, são os núcleos urbanos das sedes dos municípios, portanto, um recorte dos dados municipais. Para cobrir o território nacional na sua integridade, qualquer indicador deve, necessariamente, adotar o município como recorte territorial mínimo. Outros recortes menores são possíveis, mas por motivos estatísticos, no caso dos Censos, há limitações e condições a serem observadas.

Alguns municípios, em algumas áreas temáticas específicas, possuem dados de registro de boa qualidade e até mais precisos. Contudo, os Censos Demográficos são a única fonte de informações (com a amplitude necessária) de qualidade que cobre, da mesma forma e com o mesmo rigor, a integridade do território nacional e todos os seus municípios.

A utilização dos CDs, portanto, é uma opção técnica e metodológica fundamentada na qualidade da informação vis-à-vis a cobertura de todos os municípios do país, com o mesmo rigor e critérios metodológicos.

 

Em relação aos dados de escolaridade, como eles foram calculados?
Assim como todo o Atlas, os dados de escolaridade foram extraídos dos Censos Demográficos.

Foto: PNUD BR

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O que representa a melhoria da longevidade na população brasileira?
A evolução dos indicadores sobre a saúde das crianças também são significativos. Em 1991, 4 em cada 10 municípios brasileiros tinha taxas de mortalidade infantil consideradas altas pela Organização Mundial da Saúde - eram mais de 50 mortes por 1.000 nascidos. Em 2010, nenhum município encontra-se nesta situação.

Ainda na área da saúde, duas décadas atrás, praticamente nenhum município brasileiro tinha atingido o Objetivo do Milênio de número 4, que previa a redução da mortalidade infantil para 17 mortes por 1.000 nascidos. Em 2010: metade dos municípios do país já haviam atingido a meta.

 

Há outros dados que podem ser considerados?
Os brasileiros ganharam nove anos de vida em média, em duas décadas, e as diferenças regionais estão diminuindo, temos um cenário bastante positivo da longevidade no país. Mas ainda encontramos municípios em que a esperança de vida ao nascer de um cidadão é de apenas 65 anos, enquanto que em outras regiões os brasileiros vivem 79 anos.

Como dito anteriormente, os dados aprofundados desses fenômenos serão divulgados em breve, mas podemos, entre outros fatores, constatar, por exemplo, uma melhora geral no acesso da população a serviços de saúde – e principalmente a população mais vulnerável. Mas também constatamos que a queda nas taxas de fecundidade podem ajudar a explicar parte do impacto neste resultado final sobre longevidade. 

 

Há alguma possibilidade de ser incluído o índice de mortalidade de idosos, uma vez com o aumento da longevidade da população, outros problemas de saúde estão aparecendo?
Tecnicamente sim, isso é uma possível. Na verdade, diferentes índices de mortalidade para diferentes faixas etárias são considerados no cálculo da esperança de vida ao nascer.

 

Como os dados atuais podem se refletir nos “8 objetivos para 2015” no Brasil?
O Atlas Brasil 2013 está diretamente relacionado aos Objetivos do Milênio (ODM), já que as três dimensões do IDHM e as informações nos mais de 180 indicadores presentes na plataforma tocam de forma transversal em quase todos os objetivos. Os dados do ODM4, como citado acima, uma prova disso. Nosso objetivo com o Atlas e a divulgação do IDHM é poder oferecer aos gestores municipais e a todos os atores protagonistas do desenvolvimento humano no âmbito municipal, ferramentas e dados para que todos contribuam com os esforços pelo alcance dos ODM até 2015.

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