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Crédito: Equipe do PUF e os alunos do curso | Relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação”
O que revelaria uma pesquisa sobre acesso, qualidade e eficiência da água e luz em suas comunidades? O relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação”, lançado no final de setembro, mostra que há muita informação importante que está sendo perdida e que é importante para o planejamento urbano do Estado do Rio de Janeiro.
O relatório e o curso foram produzidos em uma parceria do Painel Unificador das Favelas e da Rede Favela Sustentável, no âmbito da organização não governamental Comunidades Catalisadoras (ComCat) e que contou com o apoio dentre outras instituições do Icict e da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).
Desde junho de 2020, o Icict vem desenvolvendo um trabalho junto ao Painel Unificador Covid-19 nas Favelas, com a organização do levantamento de dados, que pudessem mapear a realidade da pandemia nas comunidades do Rio de Janeiro. A articuladora da participação do Icict nesta iniciativa foi a pesquisadora do Laboratório de Informação e Saúde (LIS), Renata Gracie, que levou a expertise do trabalho desenvolvido no Laboratório para realizar o levantamento e análise dos dados coletados.
Com o controle da doença e a ampliação do número de pessoas vacinadas, em 2021, as instituições envolvidas decidiram manter o trabalho, mas levantando outras questões que faziam parte do dia a dia das comunidades. Para simplificar, o grupo passa a se chamar Painel Unificador das Favelas (PUF).
Um dos temas levantados foi a injustiça climática, como explica Renata Gracie: “pensamos nas questões que envolviam injustiça climática e, para não ficar tão amplo, ficamos na injustiça hídrica e energética, pois foram os temas escolhidos na plenária do PUF.” Para isso, foi criado um curso – “Pesquisando e Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas” – e foram selecionados jovens de 15 comunidades para participar, com a supervisão das lideranças locais.
Segundo, Renata Gracie, o curso foi uma experiência “bastante exitosa, pois os alunos e seus supervisores conseguiram aprender como realizar a atividade de levantamentos de dados e de maneira específica levando em consideração a especificidades das suas realidades”.
Em entrevista ao site da EPSJV, a diretora executiva da ComCat, Theresa Williamson, destacou o processo de construção coletiva do curso e da pesquisa: “É preciso destacar a importância de a favela estar na frente da coleta e controle de seus próprios dados, de ser um processo de dentro pela própria facilidade de abertura no diálogo com moradores e de análise dos indicadores, além do conhecimento mais próximo da realidade”.
A pesquisadora do Icict participou das discussões para a estruturação do curso, ministrou aulas, esteve presente na elaboração do questionário que seria utilizado pelos alunos para o levantamento dos dados nos territórios – “tínhamos que pensar em informações que não são levantadas nas pesquisas que são feitas nas comunidades”, explicou. Os alunos foram às ruas de suas comunidades, indo de casa em casa, realizar a pesquisa. Ao todo, foram realizadas entrevistas em 1.156 casas, o que dá um total de 4.164 pessoas, entre maio e junho de 2022, antecedendo a realização do Censo 2022, feito pelo IBGE, que só começou em agosto.
Alguns dados chamam a atenção como o número de casas que não possuem hidrômetros – 85,9% ou que 42,5% das famílias que acusaram falta de água durante a pandemia. Em relação ao uso da luz, 68,8% das famílias ouvidas não têm conhecimento sobre a Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE), que permite a famílias de baixa renda obter descontos junto às concessionárias de energia elétrica.
Abaixo, alguns dos dados coletados na pesquisa:
Há um aumento da disponibilização de dados que são fundamentais para gerar informações na tomada de decisão dos gestores nos três níveis de governo – federal, estadual e municipal. Para Renata Gracie, “no âmbito da saúde pública, cada vez mais utiliza-se estas informações para a realização de análises de situação de saúde e para implementação de políticas públicas. Infelizmente, na gestão pública, nem sempre as tomadas de decisão se baseiam nestas análises”, afirma.
A pesquisadora do LIS enfatiza que “torna-se cada vez mais importante que as populações, principalmente as que convivem com maiores vulnerabilidades no âmbito da saúde pública, também saibam utilizar os dados divulgados para identificar as vulnerabilidades e cobrar dos gestores”.
Gracie destaca a iniciativa do Icict em contribuir para a disseminação desse tipo de informação para a sociedade civil. “Isto aumenta a participação social, no sentido da democratização e melhoraria da qualidade da comunicação e informação em saúde”, conclui.
O relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação”, pode ser acessado aqui.
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