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João Roberto Ripper participa do lançamento do projeto de preservação de seu acervo fotográfico na Biblioteca de Manguinhos | Fotos: Raquel Portugal/Multimeios/Icict/Fiocruz
Em 50 anos de trabalho como fotojornalista, João Roberto Ripper registrou as imagens de um Brasil marcado por profundas desigualdades e negligências, seja com a saúde da população ou com os direitos de milhões de brasileiros. Mas mesmo diante de uma realidade tão dura, ele optou por ver beleza. Seu legado são fotografias que traduzem a luta por sobrevivência, mas também a humanidade dos seus fotografados. E a partir de agora, esse valioso acervo começa a ser disponibilizado ao público em acesso aberto e sustentável pela Fiocruz, por meio da plataforma Fiocruz Imagens.
O projeto de preservação e difusão das fotografias de Ripper foi apresentado no último dia 10 de dezembro, não por coincidência Dia Internacional dos Direitos Humanos, durante o evento Direitos Humanos em Imagens: apresentação do projeto "Preservação, acesso e disseminação do acervo fotográfico João Roberto Ripper". O encontro foi parte das atividades de encerramento de 2024 do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), realizado na Biblioteca de Manguinhos, com a presença de Ripper e convidados, além da comunidade Icict.
“Precisamos fortalecer as atividades relacionadas à luta por direitos. Esse projeto é transversal a tudo que acreditamos no Icict, tem tudo a ver com o Instituto e com a Fiocruz, dialogando com a definição de saúde que vai além da ausência de doença. É um privilégio ter esse acervo conosco, uma oportunidade de colocar a luta pelos direitos humanos em foco”, celebrou o diretor do Icict, Rodrigo Murtinho, durante a abertura do evento. Completaram a mesa a coordenadora-geral de Educação da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz (VPEIC/Fiocruz), Cristina Guilam, e o vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz, Juliano Lima.
João Roberto Ripper é uma referência no fotojornalismo brasileiro. Ele iniciou sua carreira no jornal Luta Democrática, passando em seguida pelas redações dos jornais Última Hora e O Globo, antes de se tornar um dos fundadores da agência F4, em 1985. O fotógrafo tem papel fundamental na defesa dos direitos humanos, representada em um acervo de aproximadamente 148 mil fotogramas e dezenas de terabytes de arquivos digitais. Seus trabalhos estão vinculados a um conceito ampliado de saúde, sob uma ótica documental humanista.
O projeto em questão – que recebeu apoio financeiro via emendas parlamentares dos deputados federais Chico Alencar, Pastor Henrique Vieira e Tarcísio Motta (todos do PSOL-RJ) – envolve a preservação e catalogação de todo o acervo fotográfico de João Roberto Ripper. As imagens serão digitalizadas (quando necessário), tratadas e catalogadas antes de ficarem disponíveis em acesso aberto ao público. Como pontapé inicial, já está disponível no Fiocruz Imagens uma galeria que leva o nome de Ripper com 76 imagens.
📷 Clique aqui para acessar a galeria de João Roberto Ripper no Fiocruz Imagens
Os fotógrafos Sara Gehren e Breno Lima, que trabalham com Ripper, contaram como seus caminhos se cruzaram com o do fotojornalista e como deram início ao projeto de preservação do acervo até então. A vontade de Ripper sempre foi de que seu trabalho fosse doado para uma instituição pública, deixando-o acessível e disponível para pesquisa.
Fotos: Raquel Portugal/Multimeios/Icict/Fiocruz
O mapeamento do acervo começou em 2017, de forma informal, realizado por Sara e Breno, dois então estudantes fascinados pelo trabalho de Ripper. Desde então, diante da quantidade de material e percebendo a importância histórica dele, a dupla buscou financiamentos e parcerias, culminando com o lançamento da campanha de financiamento coletivo Bem Querer o Brasil.
“Nosso objetivo sempre foi garantir o caráter político do acervo, garantir que ele continue sendo uma ferramenta de luta para as pessoas que foram documentadas ao longo dos anos”, ressalta Breno, lembrando que a coleção também será doada às instituições que atuaram para que os registros fossem possíveis. Sara reforça: “O que queremos deixar registrado é o necessário compromisso a longo prazo para que a mudança social aconteça. Estamos falando de mais saúde, comida melhor, moradia melhor, dignidade de estar vivo”.
Ripper encerrou o evento apresentando algumas de suas fotografias, contextualizando-as e revelando detalhes de como realizava seu trabalho de campo. Uma verdadeira aula de respeito e cidadania.
“Hoje não se conta a história do Brasil sem os fotógrafos populares”, afirmou o fotógrafo, ressaltando a importância de se ter um olhar humanitário no momento dos registros. “É fundamental que a gente diga que existem outras histórias, temos que mostrar a beleza dos fazeres de quem mora na favela, não apenas os problemas. Fotografe com amor e fique com o legado da luta”, concluiu Ripper.
O evento marcou o encerramento das atividades institucionais do Icict em 2024 e o fim da programação que comemorou os 10 anos da Política de Acesso Aberto da Fiocruz. Além disso, foram lembrados os 76 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo uma oportunidade de reflexão sobre a importância da defesa dos direitos fundamentais e da promoção da dignidade humana.
▶️ Assista à transmissão completa abaixo:
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
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