Programa de pós-graduação stricto sensu do Icict passa a integrar a Compós

por
Graça Portela
,
21/08/2018

O Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Informação e Comunicação em Saúde – PPGICS, do Icict, oficialmente passa a integrar a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação – Compós, que tem como objetivos principais o fortalecimento e qualificação crescentes da Pós-Graduação em Comunicação no Brasil.

O PPGICS possui ao todo, 107 alunos titulados, sendo 78 de mestrado e 29 doutores.  Suas teses e dissertações já renderam matérias na mídia e em sites de forma geral e, agora em 2018, passa por uma mudança de coordenação, com a saída de Katia Lerner no dia 1º de setembro próximo e a chegada de Wilson Borges. A entrada na Compós marca mais um passo da equipe de coordenação do programa de pós-graduação do Icict para tornar o Ensino do Instituto em uma referência de excelência. 

O site do Icict realizou uma longa entrevista – dividida em duas partes – com a atual coordenadora e o futuro coordenador sobre a importância da participação na Compós, as novas perspectivas da pós-graduação do Icict, e sobre as Jornadas do PPGICS, evento realizado pelos alunos, cuja a última edição aconteceu entre os dias 15 e 18 de agosto. Leia a entrevista completa abaixo.

PPGICS na Compós

O que representa para o PPGICS participar da Compós?

Katia Lerner: O PPGICS tem buscado estabelecer um contato mais estreito com as Associações madrinhas (Comunicação, Informação e Saúde Coletiva) e da área interdisciplinar, entendidas como importantes fóruns de debate e deliberação das políticas da(s) áreas(s). Nesse sentido, trata-se de um espaço político da maior relevância, pois permite compreender as particularidades do(s) campo(s) e obter subsídios mais consistentes na elaboração de estratégias de médio e longo prazo para o Programa. Participar da Compós é, além disso, uma estratégia para fortalecer nossa interdisplinaridade e singularidade, da mesma forma que participamos da Abrasco, ANCIB e ANINTER (a associação da área interdisciplinar).

A filiação à Compós representa, também, uma oportunidade de fortalecer o PPGICS e o Icict como um todo no campo da Comunicação. Embora nossa unidade desenvolva atividades de ensino e pesquisa nessa área desde os anos 1990 tendo, portanto, papel de pioneirismo e protagonismo na construção do campo da Comunicação e Saúde, a Fiocruz como instituição ainda é associada prioritariamente à Saúde Coletiva.

Nossa expectativa é que nessa nova etapa se ampliem as interações com o PPGICS, mediante a formação de redes de pesquisa, de colaboração em projetos interinstitucionais, intercâmbio entre alunos e professores, aumento na participação em bancas de defesa e maior participação de docentes e discentes nos encontros anuais da Compós, que primam pela excelência acadêmica.

Wilson Borges: Creio que, para além daquilo que já mencionado pela Kátia Lerner, a filiação do PPGICS à Compós também revela o grau de amadurecimento do Programa nesses últimos anos. Embora seja um processo, não se pode ou se deve negar o fato de que a filiação ocorreu nesse último ano. Com essa percepção, é de fundamental importância que se reconheça o empenho da Coordenação do PPGICS para que isso acontecesse. Assim, não se trata apenas de uma filiação. Antes, reflete também um reconhecimento da Associação ao estágio atual do nosso Programa.

A Compós tem 17 grupos de trabalho. O PPGICS já estaria participando de algum?

Katia Lerner: A presença de docentes do PPGICS na Compós é antiga, inclusive com a Coordenação de Grupos de Trabalho, e permanece até hoje, com a integração de novos professores. No entanto, essa presença se deu vinculada ao percurso individual de cada pesquisador na sua trajetória de pós-graduação. O que queremos é que essa aproximação se dê em outras bases, que promova a visibilização e o fortalecimento do Programa de forma a ser reconhecido como importante celeiro de produção de conhecimento sobre Comunicação e Informação em Saúde.

Quais as perspectivas do PPGICS para os próximos anos, considerando as mudanças no Brasil, em especial quando se fala em Saúde?

Katia Lerner: O PPGICS completará 10 anos em 2019. Creio que ao longo dessa década conseguimos produzir um conhecimento singular sobre temas da Comunicação, Informação e Saúde, marcado pelo esforço da interdisciplinaridade, que permanece um desafio a ser enfrentado. Reforço que, mais do que nunca, as temáticas abordadas pelas pesquisas desenvolvidas no PPGICS situam-se no epicentro dos principais desafios contemporâneos, em especial se levarmos em conta o papel  que as tecnologias de Comunicação e Informação representam nas nossas sociedades. Cabe destacar o profundo entrelaçamento dos meios massivos e da informação com os campos da política, da economia, das práticas de saúde, bem como seu reverberamento nos processos de subjetivação, e esses são processos que precisam ser problematizados. Temos, ainda, desafios específicos, ligados ao contexto nacional mais imediato, de uma crise político-institucional sem precedentes, marcada pelo desmonte das políticas públicas e do SUS em particular, pelo aprofundamento das desigualdades sócio-econômicas e o recrudecimento da violência. Entendo que a academia tem um papel fundamental no sentido de contribuir para a compreensão do tempo em que vivemos e, nesse sentido, a proposta do PPGICS é preciosa.

Wilson Borges: Em primeiro lugar, é importante que diga o quanto valoriza a dimensão processual de qualquer fenômeno. Isso implica reconhecer que o PPGICS, por exemplo, não chegou até esse momento por obra de qualquer ator isoladamente. Como mencionei na abertura da Jornada, um dos meus grandes objetivos para o próximo período é que o PPGICS seja reconhecido não como um Programa da Fiocruz. Ele deve ser encarado como uma construção de discentes e docentes. Afinal, são eles os grandes responsáveis por eventuais subidas ou descidas de avaliação, visibilidade ou invisibilidade do que ocorre ocorre ao longo dos anos de formação, conquistas ou perdas daí resultantes.

Numa outra face, há o desafio de um percepção mais ou menos generalizada do PPGICS como um dos pilares para consolidação do Icict na sua dimensão técnico-científica. O que estou defendendo com isso? Que as dimensões do ensino e da pesquisa assumam um caráter prioritário da nossa unidade, que seja possível uma associação quase imediata entre o Programa de Pós-Graduação em Informação, Comunicação e Saúde e o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. Essa associação seria apenas uma performance linguística? Não.

Como a Kátia Lerner já destacou, há uma crise sem precedentes, com ataques ao SUS, à ciência e à tecnologia,à educação. É abrir o jornal e escolher de qual trataremos naquele dia. Num momento como esse, cuja escassez de recursos é uma das faces mais imediatas e mais sentidas, é de fundamental importância que consigamos preservar os avanços e conquistas que obtivemos ao longo dessa última década. Na minha avaliação, os 10 anos do PPGICS no ano que vem deve se revelar uma oportunidade singular para que, mais do que uma data comemorativa, o Instituto mostre que seu filho caçula e dileto está mais maduro.

2ª Jornada em destaque

Na segunda parte da entrevista, Kátia Lerner e Wilson Borges falaram da 2ª Jornada do PPGICS, que aconteceu entre os dias 15 e 17 de agosto e que mobilizou alunos, professores, profissionais do Icict e da Fiocruz como um todo, e convidados. 

O que a 2ª Jornada do PPGICS trouxe esse ano para promover a integração dos alunos? 

Katia Lerner: O objetivo da Jornada, desde a sua primeira edição, tem sido o de ampliar os espaços coletivos, de modo que turmas de todos os anos conheçam e tornem conhecidos os temas e questões que conformam os seus trabalhos. A Jornada não tem caráter avaliativo, a ideia é que seja uma oportunidade de debate intelectual, com comentadores e participação de ouvintes, de modo a promover o incremento da interdisciplinaridade, a identificação de possíveis pontos em comum entre os trabalhos desenvolvidos e o compartilhamento de experiências.
Cabe lembrar que a vida na pós-graduação, em geral, tem um primeiro momento mais coletivo em que os alunos constroem um sentido de grupo, mas o processo de elaboração da dissertação/tese é uma atividade mais solitária, daí ser importante a ampliação dos espaços de interação para os alunos das turmas mais antigas. No caso dos que estão entrando, é bacana conhecer os trabalhos e experiências dos colegas, ajuda no amadurecimento de suas próprias questões.

Tivemos como objetivo também envolver segmentos diversos do PPGICS, o que incluiu pós-doutorandos e egressos, que foram convidados para atuar como comentadores. Os egressos participaram, também, de uma mesa na qual relataram a sua trajetória no Programa e o caminho que seguiram posteriormente.

Por fim, gostaria de enfatizar que a ideia de integração não é restrita aos diferentes participantes do PPGICS. Entendemos ser esta uma oportunidade singular para que a própria unidade conheça o trabalho que se faz na pós-graduação stricto sensu. 

Wilson Borges: Na minha avaliação, a Jornada foi concluída com chave de ouro. Minha percepção está construída a partir daquilo que os próprios alunos comentaram durante e após os três dias de encontro: “é bom saber que dúvidas, angústias, alegrias, avanços são comuns a todos aqueles que participam desse processo de formação”.

Outro aspecto que merece destaque foi o envolvimento de todos aqueles que contribuíram para a realização da Jornada. Isso porque se trata de um evento cujos próprios protagonistas são os alunos. Entretanto, não se deve minizar o papel da equipe de coordenação nesse processo. Muito pelo contrário, deve-se destacar o empenho desse grupo para que a Jornada acontecesse. O fato de ter sido na sala reversível do 4º andar (do Prédio da Expansão, que pode ser utilizada como auditório) é prova disso. Neste caso, estamos diante de duas grandes conquistas: três dias de intensa troca e aprendizado mútuo, realizados nesse novo espaço.

Como o Programa chegou a essa 2ª Jornada?

Katia Lerner: Buscamos nos últimos dois anos atuar em várias frentes: junto aos alunos, aos professores, na estruturação do Programa em termos de sua sustentabilidade e na aproximação e visibilidade do PPGICS em fóruns dentro e fora da Fiocruz.

No caso dos alunos, priorizamos sua integração e qualificação mediante atividades complementares que não apenas os instrumentalizassem na realização das teses e dissertações, mas que dessem a eles uma formação mais completa para a vida de pesquisador/docente. Isso se deu, por exemplo, por meio da oferta de oficinas de busca bibliográfica, elaboração de Currículo Lattes, realização de parecer, entre outras, além da manutenção de iniciativas importantes das gestões anteriores, como a oficina de artigos. Essas atividades foram realizadas no âmbito de dois eventos: a Semana de Abertura do Ano Letivo e a própria Jornada PPGICS.

Temos, ainda, estimulado os alunos à participação em eventos científicos. Nesse ano contamos com um expressivo número de discentes do Programa no Congresso da Abrasco, o que muito nos alegrou e mostrou uma amadurecimento do Programa e do próprio Icict na direção de uma ampliação da participação acadêmico-científica e a consolidação da unidade na sua dimensão técnico-científica.

Realizamos a revisão do Regimento do PPGICS, o que se constituiu uma oportunidade ímpar de discussão no Colegiado sobre os impasses e desafios do Programa. Buscamos sistematizar no documento as modificações que espelhassem as transformações decorrentes do amadurecimento do PPGICS ao longo desses quase 10 anos de existência.

Temos tentado fazer ajustes no Corpo Docente de modo a torná-lo mais sustentável e orgânico com as demandas existentes, equilibrando linhas, relação docente/discente e outros elementos que a CAPES exige de um Programa de Pós-Graduação. Estamos lutando, também, por melhores condições de infra-estrutura, ao buscar ampliar o espaço físico do PPGICS.

Procuramos uma maior aproximação do Programa com setores do Icict, buscando o diálogo e parcerias. Isso se deu, também, com instituições fora da Fiocruz, o que envolveu o incremento de intercâmbio com outros pesquisadores e docentes e a busca pela ampliação da visibilidade do Programa mediante o lançamento do site em inglês e espanhol. Enfim, muito foi feito, mas os desafios pela frente ainda são grandes.

Wilson Borges: Como já foi mencionado pela Kátia, a Jornada tem alguns caracteres muito interessantes para o processo formativo de nossos discentes. Um deles é uma inserção dos nossos alunos em atividades complementares, mas sem o peso de uma aprovação/reprovação. Me explico melhor: muitas vezes, há uma primeira experiência no conjunto dessas atividades (Congressos, Seminários e etc.) que pode gerar alguns bloqueios, tendo em vista a necessidade de aprovação dos manuscritos que precisam ser submetidos. A não aceitação de um trabalho submetido pode gerar efeitos de pequeno, médio e longo prazos. Nesse sentido, a Jornada incentiva a participação sem o “peso” de uma eventual reprovação. Soma-se a isso a oportunidade de encontro com pesquisadores/docentes já formados pelo Programa. Com esse espírito, as relações de troca ficam mais horizontais.

Fotos: Raquel Portugal - Multimeios/Icict/Fiocruz
 

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