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Pesquisar uma população tão dinâmica, não só por seu tamanho mas por sua mobilidade, quanto a de usuários de crack requer metodologias que possam “acompanhá-los”. Os usuários, em geral, constituem uma população de difícil acesso ou “oculta”, e não existem cadastros, onde seria possível realizar uma contagem dos indivíduos no local de uso da droga. Até então, estudos com essa população se restringiam a locais específicos, como os usuários de determinada comunidade, ou atendidos em serviços de saúde. O que tornava restritos os resultados obtidos, pois consideravam apenas uma realidade que não representaria o perfil do usuário de crack brasileiro.
Assim, o uso da metodologia de Time-Location Sampling (TLS), aplicada para se conhecer melhor as características e os comportamentos de populações de difícil acesso, foi a opção encontrada pelo grupo de pesquisadores da Fiocruz, que a utilizaram para ir às cenas e verificar o perfil dos usuários. O objetivo era medir o consumo da droga e outras substâncias pelos usuários, conhecer o perfil dessas pessoas e entender seus comportamentos.
A escolha se mostrou acertada por permitir a localização das cenas de uso da droga, o que possibilitou ir direto ao usuário e obter dele, após um consentimento assinado, informações como, por exemplo, “o número de pedras de crack consumidas por dia”. As pessoas elegíveis para a pesquisa também foram convidadas a fazer testes rápidos de HIV, HCV (hepatite C) e escarro para realização da baciloscopia da tuberculose.
Nos questionários individuais, as pessoas puderam responder sobre informações sociodemográficas; uso de drogas; mobilidade (bairros/municípios onde usou crack); risco de doenças infecciosas associado ao uso (obtenção, uso e compartilhamento de apetrechos para uso do crack); comportamento sexual; estado de saúde (física e mental); serviços sociais e de tratamento de saúde (serviços utilizados e fatores que facilitariam a sua utilização) e envolvimento com o sistema da justiça criminal.
Os resultados confirmam algumas informações, como a que o público consumidor é de homens (78,68%) e que o número de mulheres usuárias (21,32%) também impressiona, e a proporção de mulheres consumidoras nas capitais é maior do que nos demais municípios (23,55% x 16,59%). Eles revelam também que a proporção de usuários de crack e/ou similares na faixa de 18 a 24 anos em outras cidades é maior do que nas capitais.
Nas capitais, 77,73% se autodeclaram negros ou pardos, contra 82,16% nas demais cidades. No Brasil, dos usuários, 57,60% têm o ensino fundamental (4ª a 8ª série) e apenas 2,35% têm ensino superior.
Outros resultados que chamam a atenção na primeira parte da “Pesquisa Nacional sobre o Uso do Crack” é que a forma mais comum de obtenção de dinheiro relatada pelos usuários compreende o trabalho esporádico ou autônomo (cerca de 65% dos usuários). Pedir esmolas é a segunda fonte de renda para 12,8% deles, muito próximos aos 11,27% obtidos por meio de empréstimos e/ou presentes. Vale destacar que a troca de sexo por drogas e dinheiro foi relatada por 7,46% dos usuários.
Um dos itens estudados no inquérito epidemiológico foi a prevalência de HIV e hepatite C (HCV). O teste rápido foi feito a partir do aceite do pesquisado. Dentre as mulheres, 8,17% são portadoras do HIV e a prevalência entre os homens foi de 4,01%. Em relação ao vírus da hepatite C, as mulheres representam 2,23% dos infectados e os homens 2,75%. Outras informações como a autopercepção em saúde e o acesso aos serviços, além do número de gravidezes, também foram avaliados.
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