ICICT | Fiocruz - Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Com a abertura do novo vice-diretor de Ensino, Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Christovam Barcellos, foi realizada no último dia 1º de junho de 2017, a 25ª Reunião Anual de Iniciação Científica - a RAIC 2017 - no Icict.

Barcellos falou sobre a importância dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (PPGICS), do Icict, e do momento especial que a pesquisa propicia aos alunos: "É uma fase de abertura para o mundo. Saber o que as pessoas fazem, trocar informaçõs. Não é alienação, é reconhecer o outro e as dinâmicas da produção científica na instituição", discursou emocionado.

A seguir à abertura, houve a palestra de Tiago Coutinho, da ENSP/Fiocruz, intitulada "Os usos e abusos do Metilfenidato (Ritalina)". Ele substituiu a pesquisadora Roseni Pinheiro, do Instituto de Medicina Social (IMS), da Uerj, que não pode comparecer.

Coutinho, que é antropólogo, falou de como lidar com uma comunicação e informação seguras na época da pós-verdade, em um momento em que a sociedade saiu da medicalização para a "farmaceutização". Ele, que está pesquisando o uso e abuso da ritalina, um medicamento indicado para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), falou de suas pesquisas realizadas no Facebook. Segundo o antropólogo, a indústria farmacêutica acabou por impulsionar um novo modo de vida, onde "valores, e não doenças (e sua cura), é que são colocadas como metas a serem alcançadas quimicamente. Ele citou como exemplo o surgimento das drogas do cotidiano (as chamadas "lifestyle drugs"), como o Viagra (virilidade, masculinidade), o Xenical (estética), Ritalina (produtividade, atenção), o Rivotril (calma, felicidade) e os esteroides (força, aparência). Para Coutinho, há o "ajuste a uma certa condição tida como ideal" e elas estão "na fronteira entre uma definição médica e social de saúde".

Sobre a pesquisa no mundo virtual, Coutinho falou que "são desenvolvidas novas formas de consumo mediadas pelo mundo virtual, onde o conhecimento e a troca de experiência constituem-se ´fontes de sabedoria´. Ele alertou que a ciência agora "é apenas mais um discurso". O pesquisador defendeu a pesquisa nas mídias sociais e afirmou ser necessário garantir a validade e a confiabilidade dos dados dos ambientes virtuais a serem estudados. Para ele, é necessário repensar a divulgação científica: "passou de quatro linhas, ninugém lê. Temos que sair da fórmula congresso de iniciação científica e ampliar os horizontes", afirmou.

A palestra na parte da tarde foi a de Cristiano Bocollini, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde (LIS)/Icict. Ele falou sobre “Ciência e inovação - Nos limites da Informação em saúde”, destacando aleitamento materno e amamentação. Em sua apresentação, o pesquisador chamou a atenção da importância crescente que as redes sociais e a internet têm tido nos últimos anos. Bocollini falou que as mídias sociais desde 1998 até 2015, acolheram 15.577 artigos científicos e que o uso das ferramentas on-line disponíveis, como Google Street View, geraram artigos para patologias como influenza, câncer ou sobre uso do solo urbano, por exemplo.

Em sua apresentação, Bocollini destacou a série histórica de busca de informações por meio do site de busca Google, de 2004 a novembro de 2016, para os termos aleitamento materno e amamentação, com o levantamento de dados em todo o país. Para Bocollini, “é necessário distinguir o que é mito, presunção ou fato nas mídias sociais, quando se fala de informações ou comunicações sobre a saúde”. Ele lembra o fato de que alguns autores de artigos científicos sobre alimentação são financiados por empresas como Kraft, McDonald´s, MeadJohnson Nutricionals, RedBull, que produzem produtos diversos, como refrigerantes, sucos, biscoitos, leites e etc., e também pela indústria farmacêutica, empresas como Pfizer, GSK, Arena, AstraZeneca, dentre outras. “Essas empresas estão presentes na internet e nas mídias sociais com informações sobre aleitamento materno, amamentação e alimentação de uma forma geral. Elas têm seus interesses, daí ser importante ter um senso crítico em relação ao que está nas redes”, explica.

Outro dado trazido por Bocollini foi que “mais de 30% das crianças consomem refrigerante antes dos dois anos de idade, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). Por isso, é importante estar atento às informações que são veiculadas”, afirmou.

Tenha acesso – ao lado – às apresentações de Tiago e Cristiano Bocollini. Veja também a galeria de fotos do evento.

Fotos: Graça Portela (Ascom/Icict)