Seminário discute desafios da saúde para o aleitamento materno e alimentação infantil

por
André Bezerra
,
21/11/2017

A comunidade de pesquisadores e profissionais de saúde dedicados às áreas de aleitamento materno e alimentação complementar no Rio de Janeiro se reuniu no Salão de Leitura da Biblioteca de Manguinhos, em novembro, para discutir o cenário nacional e construir uma agenda visando o Encontro Nacional de Amamentação, grande evento sobre o tema que será realizado em 2019, no estado, ao lado do Congresso Mundial de Amamentação e do Encontro Nacional de Alimentação Complementar.

Para Cristiano Boccolini, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict) e co-organizador do evento, o I Seminário Estadual de Aleitamento Materno e Alimentação Complementar do Rio de Janeiro, realizado em 08 de novembro, foi um momento de reflexão e mobilização. “Muitos ativistas, pesquisadores e professores que estão aqui estão construindo a agenda de discussões que precisamos pautar sobre esse assunto”, afirmou, saudando os participantes da atividade.

Dividido em duas sessões, o Seminário abordou na primeria parte a temática do aleitamento materno. A primeira palestrante foi Renara Marques, do Ministério da Saúde. Em sua apresentação, ela fez um panorama sobre algumas políticas nacionais para o setor, como a Iniciativa Hospitais Amigos da Criança (IHAC), adotada no Brasil desde os anos 90, mobilizando rotinas em instituições de saúde visando estimular a amamentação. “Cabe destacar as boas práticas de aleitamento materno e saúde da criança e da mulher, mas há desafios em diversas áreas como aumentar o número de atendimentos, infraestrutura, e também ampliar o atendimento em atenção básica”, detalhou a palestrante. 

Rosane Rito (UFF), Conceição Salomão (SES/RJ), Renara Marques (MS), Maria Inês Couto de Oliveira (UFF), Elsa Giugliani (UFRGS). Foto: Raquel Portugal - Multimeios/Icict

Em seguida, se apresentou Conceição Salomão, da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Ela relembrou as primeiras políticas para amamentação no âmbito estadual, ampliadas com o advento do Sistema Único de Saúde (SUS). “Desde o início, é um modelo de trabalho interinstitucional da secretaria junto aos municípios”, explicou. No Rio, o Grupo de Trabalho de Amamentação se expandiu e virou um comitê, e em seguida uma política estadual. Há polos regionais de aleitamento materno, e alimentação e nutrição, e marcos regulatórios estaduais, como a licença maternidade para servidores do estado.

Sinais de alerta

Em seguida, foram destacadas ações e políticas de âmbito municipal no Rio de Janeiro, pela palestrante Rosane Rito, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Para ela, que disse ter se apaixonado pelo assunto desde sua formação universitária, na UniRio, “todo mundo aqui presente é um parceiro”, destacou, convocando alunos e profissionais a contribuírem com novos estudos e pesquisas, principalmente no campo de indicadores. De 1996 a 2008, a prevalência do aleitamento materno na cidade evoluiu em 40%, mas no momento, carece de novos indicadores, em especial, distribuídos por territórios. 

A necessidade de ampliação das políticas embasada por dados de pesquisa também foi destacada pela pesquisadora Elsa Giugliani, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Temos visto uma estagnação nos indicadores nacionais. É importante avaliar os motivos para construir novas estratégias”, apontou, a partir de informações da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e outras fontes.

Como costuma ocorrer nos encontros sobre o tema, o debate foi encerrado com o relato de experiência de uma lactante. Nessa ocasião, a convidada foi Eliane Feitas, analista do Icict, mãe de Bruno, de dois anos. “É um prazer, para mim, amamentar. É acolhimento, amor e disciplina”, contou ela, que optou pela amamentação continuada e compartilhou com os presentes momentos de constrangimento ou incompreensão, mas que não a fizeram desistir de continuar amamentando seu filho.

No momento do debate, a partir de uma provocação de Cristiano Boccolini, do Icict, muitas pessoas se perguntaram sobre o papel da internet, em espaços como blogs e vlogs, na promoção do aleitamento materno. O tema foi recebido de maneira entusiasmada, mas a maioria das profissionais de saúde buscou lembrar do papel da informação e da educação associados à comunicação online.

Alimentação complementar saudável

Patricia Lima (UERJ), Cristiano Boccolini (ICICT), Gisele Bortolini (MS), Mariana de Oliveira (UFRJ-Macaé) e Inês Rugani (UERJ). Foto: André Bezerra - Ascom/Icict

Na segunda sessão, se apresentou Marina Réa, pesquisadora da Universidade de São Paulo e membro da Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN). Ela focou em temas como a Norma Brasileira de Comercialização De Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância (NBCAL) e criticou estratégicas como o marketing abusivo das indústrias de fórmulas infantis. Para ela, ainda há mais espaço para políticas públicas específicas para promover uma alimentação saudável para as famílias, em especial a crianças maiores de 6 meses. 

Gisele Bortolini, do Ministério da Saúde, abordou desafios da área para o setor público. “Hoje o maior desafio é aumentar a prevalência de crianças que são amamentadas exclusivamente e evitar a introdução precoce de alimentos, especialmente os alimentos ultraprocessados e aqueles com açúcar”, explicou.

Nesse sentido, Mariana Oliveira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, polo Macaé, apresentou habilidades culinárias e o guia alimentar da população brasileira, publicação do Ministério da Saúde, para demonstrar possíveis cardápios saudáveis para famílias com crianças em idade lactente. 

O seminário ainda teve a apresentação das professoras Patrícia Lima e Inês Rugani, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da profissional de relações públicas da assessoria de comunicação do Icict, Renata Rezende, que dividiu com o seminário sua experiência materna em amamentar e oferecer uma alimentação saudável a sua filha, Isabel, de um ano e seis meses. “Tive medo de interromper a amamentação com a introdução dos alimentos, mas fui compreendendo, de uma forma gradativa, quais alimentos minha filha gosta de comer, de forma saudável, e mantive o aleitamento sem problemas”, contou.

Em novembro, diversos profissionais de saúde realizaram ainda um fórum no Palácio Itaboraí, já mobilizados para os eventos do setor em 2019. O seminário estadual foi transmitido pela internet, e pode ser assistido, na íntegra, no canal da VideoSaúde Distribuidora.

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