Site do Observatório Clima e Saúde inclui informações sobre eventos extremos

por
Graça Portela
,
15/07/2013

Quem pesquisa sobre o impacto das mudanças climáticas na saúde humana ganhou novos dados para complementar sua busca. O site do Observatório Clima e Saúde, do Laboratório de Informação em Saúde (LIS/Icict), tem agora mais uma informação importante: as ocorrências de eventos extremos por estados, cidades, unidades de saúde e a situação das vítimas (mortos, desalojados, desabrigados, levemente feridos, gravemente feridos ou enfermos). Além desses dados, temas como água, ar e vetores também foram incluídos.

Segundo Renata Gracie, pesquisadora do Laboratório de Geoprocessamento e uma das responsáveis pelo Observatório, temas de agravos mais sensíveis às mudanças climáticas são primordiais, sobretudo no Brasil.  "Os eventos extremos abrangem secas, ondas de calor, furacões, tempestades, enchentes e etc", explica.

Os dados são fornecidos pelas secretarias de Defesa Civil dos estados. A maior parte das informações chegou de forma manuscrita e tive que ser digitalizada. Segundo Renata Gracie, os dados usados para o monitoramento pelo Observatório são georeferenciados e têm o objetivo de apontar a posição geográfica de cada evento de saúde. “Isto permite saber o contexto do evento, tornar o diagnóstico da situação mais preciso e melhorar a locação de recursos”, observa Renata.

No site é possível saber, por exemplo, que em 2010, no Mato Grosso do Sul, 76.096 pessoas foram afetadas pelos eventos extremos e que, deste total, 4.797 pessoas ficaram desalojadas e 510 desabrigadas. Ou que em Sergipe, no mesmo ano, 71 pessoas morreram por conta desses eventos extremos.

O site também está disponibilizando as notícias publicadas pela grande mídia, como uma forma de o público fazer o acompanhamento histórico dos eventos e verificar a sua incidência.

As informações disponíveis no site do Observatório destinam-se à sociedade, aos pesquisadores e aos gestores. “O sistema permite que se recupere dados sobre os desastres ocorridos nos últimos anos e que se avalie o seu impacto sobre a saúde, conforme informado pelo SUS”, explica a pesquisadora. Outra novidade é que, em breve, os mapas estarão disponíveis com os indicadores calculados para cada tema e, assim, todos terão acesso às informações dos seus municípios e estados. “Com os sítios sentinelas, alguns municípios terão dados mais detalhados, além de ser possível verificar de forma mais consolidada notícias sobre os temas, sendo permitido fazer comentários e trocar experiências com o grupo que estrutura os dados do Observatório, bem como com outros usuários”, explica Renata. A ideia é que no próprio site os usuários encontem também bibliografia e quadros de agravos com sua lista de indicadores.

Acompanhamento das cheias de Manaus

O site do Observatório também traz informações sobre as cheias de Manaus (AM), onde o Rio Negro atingiu 29,21 metros em maio desse ano e que começa a baixar, estando desde o dia 9/07, na marca de 28,94 metros. Os dados são do Sistema de Monitoramento Hidrológico das Bacias dos Rios Negro, Solimões e Madeira, do Serviço Geológico do Brasil, e do Serviço de Hidrologia do Porto de Manaus.

Além dos prejuízos materiais, as cheias deixam um rastro de enfermidades como leptospirose, verminoses, doenças diarréicas, gastroenterites, dermatites e febre tifóide. Através das informações do sítio sentinela de Manaus, é possível fazer o diagnóstico da situação das cheias e das condições de saúde, reduzindo o seu impacto junto à população. Os dados fornecidos servem como ferramenta de prevenção, pois permitem saber como ocorrem esses eventos, obtendo também informações sobre a posição geográfica do local onde acontecem e possibilitando a redução dos danos à saúde da população.

Segundo Renata Gracie no caso de Manaus, a cheia foi menos intensa, mas mesmo assim os prejuízos foram consideráveis. “Mesmo com a Defesa Civil mais sensibilizada, os prejuízos para saúde da população ainda foram bastante grandes. Houve um melhor preparo no acesso às moradias, com a colocação de tábuas e passarelas. Mas o centro sofreu muito com o acúmulo de lixo em áreas que foram alagadas. Isso poderia ser evitado”, afirma a pesquisadora.

Para os gestores públicos, com as informações geradas pelo sítio sentinela, que estão disponíveis na página do Observatório, é possível organizar e tomar medidas para minimizar danos à saúde da população, conforme explica Renata Gracie: “as cheias podem ser previstas com quase três meses de antecedência, o que permite a tomada de decisões e informar à população a tempo”. Já a sociedade civil pode e deve se informar, ficando atenta a frequência dos fatos naturais que acontecem em sua região. “As pessoas têm acesso ao que pode acontecer a sua saúde se houver a exposição à água, podem cobrar dos gestores medidas estruturais antes das cheias, por exemplo”, explica a pesquisadora.

Pelos dados levantados, não é possível prever como serão as cheias de 2014. “Este cenário das grandes cheias começa a se configurar no início do ano, quando se têm informações sobre as chuvas na região. Contudo, a evolução dos sistemas, os sítios sentinelas buscarão identificar padrões em séries históricas, procurando melhorar o sistema de alerta”, complementa Renata Gracie.

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