ICICT | Fiocruz - Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

A frase de Mário Quintana, dita pela vice-diretora de Comunicação do Icict, Tânia Santos, durante a celebração de 30 anos da VideoSaúde, sintetizou o papel da distribuidora de Vídeos da Fiocruz para a Comunicação em Saúde no Brasil e a sua importância para o Sistema Único de Saúde – SUS, com a sua estratégia de informar, comunicar e ouvir o que os brasileiros têm a dizer quando se fala em Saúde no país.

A abertura da cerimônia de aniversário contou com a presença do diretor do Icict, Rodrigo Murtinho, que lembrou: “São 30 anos de VideoSaúde, que coincide com 30 anos do Sistema Único de Saúde, com 30 anos de Constituição Cidadã (1988), de 70 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos e da compreensão de que Comunicação, Informação e Saúde são essenciais para vida moderna e são essenciais para o exercício da cidadania. São 30 anos desse ele fundamental, que a Comunicação é um bem público e de que ela é estratégica para o exercício do direito à Saúde”. A seguir, falou o chefe da VideoSaúde, Paulo Lara, que agradeceu a presença de todos e apresentou o vídeo institucional “VideoSaúde – 30 anos de histórias com o SUS” (com 1’32”) mostrando todos os serviços oferecidos pela distribuidora da Fiocruz. 

Lara enfatizou as inúmeras premiações que as produções da VideoSaúde têm obtido e as parcerias com a TV Educativa, da Bahia, TV Justiça, TV Curta, TV Brasil e TV Câmara, citando apenas algumas, para a exibição de filmes e, em especial a incorporação aos documentários da VideoSaúde de áudiodescrição, realizadas pela TV Câmara. Até o momento, 17 documentários já têm foram disponibilizados. O chefe da VideoSaúde falou dos desafios da distribuidora, destacando o apoio a produções que tratem de temas excluídos e/ou descontextualizados, como doenças negligenciadas e direitos humanos, por exemplo. 

O chefe da VideoSaúde aproveitou o momento para homenagear Tânia Santos, que já foi a responsável pela VideoSaúde, e que – segundo ele – representa todas as “figuras importantes da história da distribuidora”. Emocionadíssima, Tânia Santos afirmou: “A VideoSaúde é uma paixão. Ela faz parte de mim.”

Comunicação pública

O seminário “Desafios da comunicação pública pelo fortalecimento do SUS” foi aberto com a palestra Audiovisual como instrumento de educação e expressão de lutas políticas, da coordenadora executiva da BemTV, Daniela Araujo. “A BemTv trabalha com Comunicação e Educação, e a gente acredita que a comunicação é um direito humano, então, todos nós temos direito a nos comunicar e fazer uso das ferramentas de comunicação nos processos de luta pela garantia dos direitos, nos processos educativos e nos processos de saúde, pela garantia do direito à saúde.”

Ao falar da democratização da comunicação no que diz respeito ao acesso, Daniela defendeu que “precisamos fazer mais espaços como esse, abrir essa caixinha de Pandora, trocar, conversar e trocar estratégias, para tentar resistir e construir iniciativas”. Contudo, ela ponderou: “talvez eu seja um pouco cética em relação a isso, porque o que eu acredito é no trabalho coletivo, nas questões que partem organicamente de um movimento concreto de uma comunidade para ela se comunicar, então a internet, por exemplo, não me parece uma alternativa interessante, viável. Precisamos avançar muito, tanto em relação à legislação como na forma como que consegue acessar recursos para produzir, para que a internet de fato seja uma alternativa, porque hoje ela é tão monopolizada quanto as outras mídias públicas”

Sistema público de comunicação

O segundo a falar foi o jornalista da TVE Bahia, Flávio Gonçalves, que abordou o tema “Audiovisual como instrumento de educação e expressão de lutas políticas”. Gonçalvez lembrou “nós, do campo da comunicação pública, sempre usamos o SUS como algo tão importante e que se tivéssemos um sistema de comunicação públic, como tempos um sistema de saúde pública no Brasil, estaríamos em outra realidade. O fato de vivermos numa sociedade desigual no Brasil e ela existe mito fortemente no campo da comunicação aqui no Brasil”, citando outros países do mundo e exemplos como a BBC, televisão pública inglesa, e a RTP, sistema público de televisão portuguesa.

“Se entendemos a comunicação apenas como um negócio, como uma empresa que tem uma rádio, uma televisão, portanto só a lógica comercial é que prevalece naquela produção de conteúdo, isto restringe demais o acesso à comunicação”. Ele afirmou que, segundo a Constituição de 1988, “deveríamos ter um sistema público de comunicação, um sistema estatal e um sistema privado, mas se ligarmos a televisão hoje, seja no Rio ou em qualquer lugar do Brasil, veremos que mais de 90% são emissoras comerciais de televisão, e no caso da rádio também.Ou seja, o que não conseguimos nesses 30 anos fazer no Brasil de fato é estruturar um sistema de comunicação como nós temos o SUS.” Flávio Gonçalves espera que “para a democracia brasileira se tivermos um outro modelo de comunicação, tão presente em outros países do mundo e trazer para cá, vai ser importante para todos nós, cidadãos brasileiros, não na perspectiva de consumidor, mas na perspectiva de cidadão que tem direito ao acesso à comunicação e à informação.”

"O que nos une é a utopia"

Fechando as apresentações, o cineasta, documentarista pe professor de Economia da UFRJ, Beto Novaes, que fez, os documentários “Linha de corte”, "Nuvens de veneno" e “Mulheres das águas” (produzidos pela VideoSaúde), “Conversas de Crianças” e “Meninas mulheres”, dentre outros. Ele falou do porquê entrou na área do audiovisual e das obras que fez. Novaes falou de sua “angústia acadêmica” em produzir algo que não ficasse restrito às prateleiras das universidades, mas que chegassem aos movimentos sociais. “A universidade é plural. Não é só atender as demandas do setor empresarial, mas é atender demandas também da sociedade como um todo, dos diferentes segmentos sociais”, explicou. Ele também falou da importância do debate realizado pela VideoSaúde – “eu vejo que o que nos une é a utopia.Temos uma utopia, um projeto de vida, e esse projeto de vida, eu percebi aqui e agora, que a história não começa quando cada um entra nesse processo, a gente resgata esse perfil da história.”

Novaes ressaltou a necessidade de se pensar a rede de distribuição das produções voltadas ao movimento social: “Acho que precisamos pensar em como entrar nesse circuito oficial de rede pública (de comunicação) com esses documentários”, afirmou. Ele também falou que “precisamos dar visibilidade (à essa rede de distribuição de comunicação pública), porque dando visibilidade, estaremos concretizando uma parte das nossas utopias. Não podemos ficar submersos ou circunscritos a nós mesmos. Penso que o maior desafio é como transformar isso (as produções audiovisuais) de acesso público, porque as pessoas estão interessadas em discutir esses assuntos”. Ele defendeu a necessidade de se articular “a produção pra quê, pra quem, como fazer, e a distribuição desse trabalho”.

O seminário contou com a mediação do ex-diretor do Icict, Umberto Trigueiros e, ao final, um bolo para comemorar os 30 anos da VideoSaúde e uma exposição dos cartazes de diversas produções da VideoSaúde.

Assista abaixo o debate completo.