‘Zoação’ tem limites? Vídeo produzido no Icict aborda bullying

por
Graça Portela
,
05/10/2012

As investigações sobre a queda do estudante de 12 anos de uma janela do quinto andar do Colégio São Bento, no centro do Rio, ocorrida no dia 28 de setembro último, apontam para uma tentativa de suicídio, possivelmente, causada por bullying.

O assunto que assombra alunos, pais, professores e escolas pelo mundo, foi tema em 2009 de um vídeo, realizado por pesquisadores do Icict e alunos de escolas públicas, intitulado “SEM NOÇÃO: zoação tem limites?”, que aborda o fenômeno do bullying no universo escolar, com os jovens relatando suas experiências sob a ótica de quem sofre e de quem pratica esse tipo de assédio.

Com 15 minutos de duração, o vídeo é resultado do projeto ‘Rompendo o silêncio – competência (literacy) em Saúde Mental’, produzido pelo Icict, Faperj e Fiocruz, e foi coordenado pela pesquisadora Cristina Guimarães, vice-diretora de Informação e Comunicação do Icict e coordenadora do curso de Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICTS) e contou com a participação de Carlos Eduardo Estellita-Lins, Cícera Henrique da Silva, Rosane Abdala Lins de Santana, Rosany Bochner e Rosinalva Alves de Souza, além dos pesquisadores associados Eliane Batista Pontes, Isabel Aparecida Mendes e Luiza Rosângela da Silva.

O vídeo não é conclusivo, apenas se propõe a dar uma visão geral do bullying e seu impacto, evitando emitir julgamentos de valor sobre atitudes ou saídas encontradas por aqueles que sofreram ou praticaram o assédio.
Para assistir o vídeo, clique aqui (http://arca.icict.fiocruz.br/handle/icict/1637)
 

“Estamos pouco preparados para perceber transtornos mentais no outro”

Em entrevista, a pesquisadora Maria Cristina Guimarães, doutora em Ciência da Informação e coordenadora do projeto ‘Rompendo o silêncio – competência (literacy) em Saúde Mental’, fala dos motivos que levaram a criação do vídeo.

O que motivou o Icict a fazer esse vídeo?

O ponto de partida foi o reconhecimento que nós (sociedade) estamos muito pouco preparados/habilitados/capacitados para perceber/entender/identificar transtornos mentais no outro, o que só faz aumentar o estigma, a exclusão e o apartamento (no sentido de afastamento) do convívio social. Partimos do pressuposto que pouco investimos no que se denomina "competência em saúde mental" (mental health literacy), que seria a habilidade de identificar um quadro mínimo de fragilidade que nos levaria a orientar, rapidamente, para o campo da saúde.

A aposta é que o acesso à informação e a capacidade mínima para decodificá-la e inseri-la na vida cotidiana (literacy) são aliados fundamentais para romper o estigma e enfrentar os transtornos mentais como parte de um todo da saúde. O tema bullying foi tomado como uma temática para ser discutida especialmente com jovens em ambiente escolar.

Qual a repercussão do vídeo?

Ao longo do processo da pesquisa e de produção do vídeo, os próprios jovens tomaram à frente da câmera e se tornaram protagonistas de suas próprias histórias.

Como o vídeo pode ajudar na luta contra o bullying?

Como estímulo para que os jovens conversem com outros jovens, se façam entender e conhecer sobre limites e possibilidades - o que é típico da idade (zoação) e o que é passar do limite (bullying).

Por que a senhora tomou a iniciativa de fazer este projeto?

Novamente, o projeto nasceu da minha própria ignorância e do meu profundo desejo de ajudar um aluno que eu sabia passava por uma situação delicada.
 

"A reação dos adolescentes ao vídeo foi surpreendente e emocionante"

Uma das roteiristas do vídeo, , a pesquisadora do Licts/Icict, Rosinalva A. de Souza, explicou como foi feito o roteiro e como os jovens conduziram o vídeo.

Por que discutir o bullying em 2009?

Na ocasião em que o projeto foi apresentado à Faperj e selecionado,  não tínhamos ainda definido o transtorno a trabalhar, tínhamos o público definido, que era o adolescente na perspectiva do conceito demental health literacy. Por se tratar de um projeto de pesquisa, a dinâmica de grupos focais que foram realizados ao longo da pesquisa foi nos conduzindo para o tema bullying, midiaticamente em pouca evidência na época e sem uma literatura que nos apoiasse. Por coincidência (ou não), quando demos o start na pesquisa, o tema passou a frequentar os espaços midiáticos e livros sobre o tema foram se destacando.
 

O vídeo foi realizado em 2009. Ele ainda é atual?

Diria que sim. Afinal, as questões que permeiam o assunto continuam as mesmas, assim como as práticas, que passam a frequentar as pautas da mídia quando eventos como o de Realengo em 2011 e mais recentemente o do aluno do Colégio São Bento ocorrem.

Como os alunos assumiram a realização do vídeo?

Inicialmente, com a realização do grupo focal que realizamos, eles estavam inibidos, mas as questões ali discutidas despertaram neles o interesse pelo tema de modo tal que se mobilizaram e organizaram  um evento com a participação de outros jovens para discutir o tema bullying, com a participação de convidados externos e nós do projeto.

Você teria informações sobre o impacto do vídeo junto aos alunos que o protagonizaram? Mudou a vida deles?

Fizemos uma sessão especial para esses jovens junto com a coordenadora pedagógica da escola deles, sendo a exibição seguida de um debate com representantes dos grupos focais e demais participantes no vídeo. A reação foi surpreendente e emocionante, principalmente porque eles se viram de fato identificados e representados ali com suas falas e angústias, assim como outros jovens que não protagonizaram o vídeo, mas se sentiram representados, e isto está na fala de muitos deles durante o debate, e a ideia era justamente essa: jovem falando para jovem.

Eu não teria como avaliar o que mudou, mas de acordo com o relato da coordenadora deles no curso de monitores do Museu da Vida, despertou neles uma consciência de serem multiplicadores dessa experiência.
 

Como está a disseminação do vídeo?

O Icict tem a VideoSaúde que é o serviço responsável pela distribuição de todo e qualquer material em áudio e vídeo produzido pelo instituto e seus parceiros. Então, qualquer pessoa física ou jurídica que se interesse por esse material, basta fazer sua solicitação à VideoSaúde.

Para você que roteirizou o vídeo, o bullying é um problema comportamental ou uma questão de saúde pública?

Na verdade, quem deu a linha de “roteirização” foram os jovens que participaram do vídeo, que é todo narrado por eles. A ideia era dar voz a esses adolescentes, desse modo, o  roteiro pensado tomou outra direção, pois eles é que deram o tom da estrutura narrativa – suas falas definiram o vídeo

Não nos cabe emitir juízo de valor ao tema, não nesse trabalho. Mas, o entendimento que  antecede uma questão de saúde pública está dada: afinal, trabalhamos com o conceito de mental health literacy.

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