Estudo revela que violência migra de regiões metropolitanas para o interior

por
Igor Cruz
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24/11/2008

Estudo revela que violência migra de regiões metropolitanas para o interior

Publicada em: 24/11/2008
Por: Igor Cruz

Um estudo realizado no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz analisou a distribuição da violência por homicídio em todas as regiões do Brasil de 1980 a 2005. De acordo com coordenador da pesquisa e chefe do Laboratório de Comunicação em Saúde (Lis), Christovam Barcellos, foram considerados dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e técnicas de engenharia de software, estatística, computação, epidemiologia e geografia.

Os resultados revelam que a violência no Brasil está ligada não só a problemas socioeconômicos, mas também às questões comportamentais e culturais de cada região. Outro fator observado é a facilidade do acesso a armas e a fragilidade da polícia e do poder judiciário nas regiões mais violentas. Além disso, os dados mostram que o perfil dos mortos é, predominantemente, jovem, de 18 a 25 anos, do sexo masculino, urbano e de baixa renda.

Segundo Barcellos, um dos motivos da migração da violência para regiões do interior do Brasil é que a renda rural é muito mais baixa do que a renda urbana, o que gera conflitos de valores. “A pessoa que mora no campo quer ter acesso aos mesmos bens da pessoa que mora nos centros urbanos e isso induz a violência, como a ocorrência de pequenos furtos e brigas. O problema é que houve uma uniformização dos valores, não uma uniformização da renda”, explica o pesquisador.

O estudo aponta, ainda, que na região centro-oeste, por exemplo, a migração da violência ocorreu devido à criação de estradas, como a BR-163 e a chegada de grandes grupos empreendedores. O Mato Grosso é tomado pela violência e isso se alastra até o sul do Pará. Nessa região, em particular, a violência ocorre devido aos conflitos de terra.

“As regiões que apresentaram as maiores taxas de mortalidade por homicídio são as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Pernambuco, Bahia e Espírito Santo”, revela Barcellos. O pesquisador ressalta que o oeste de Pernambuco indicou altas taxas de violência, que acompanha todo o leito do Rio São Francisco, no chamado “polígono da maconha”, onde passa a rota do tráfico. Já na Bahia, o que motivou a violência é que a economia era baseada no cacau e com a decadência ao longo dos anos, houve um aumento nas taxas de desemprego. “Outro lugar que apresentou altas taxas de mortalidade foi o sul do Paraná, mas não conseguimos detectar os reais motivos da violência neste local”, completa Barcellos.

De acordo com a pesquisa, devido à crise financeira que o país enfrentou de 1979 a 1995, houve um aumento de 200% no número de homicídios. Além disso, a intensificação no processo de urbanização e, conseqüentemente, no de favelização foram fatores determinantes. “No Rio de Janeiro, por exemplo, a cidade cresce 1% ao ano, enquanto que as favelas crescem 5%, ou seja, as favelas crescem em uma velocidade muito maior do que o resto da cidade”, explica o pesquisador.

Segundo Christovam, a violência no Brasil está ligada não só a nível socioeconômico, mas também a questões comportamentais e culturais de cada região. Outra coisa é a facilidade do acesso a armas e a fragilidade das polícias e do poder judiciário nas regiões mais violentas. Além disso, os dados mostram que o perfil dos mortos é, predominantemente, jovem, de 18 a 25 anos, do sexo masculino, urbano e de baixa renda.

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