Saiba mais: zoonoses negligenciadas e saúde pública

por
André Bezerra
,
13/03/2017

Esporotricose, leishmaniose e raiva são consideradas zoonoses negligenciadas. Para muitas delas, há tratamento, que, se aplicado corretamente, preserva a saúde de humanos e animais. Um dos desafios principais é o acesso aos tratamentos, nos casos de esporotricose e leishmaniose. Por outro lado, a raiva, tem maior vigilância e ações de controle no Brasil, por meio do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Contudo, no último ano, novas notificações deixaram o país em alerta. Em entrevista, o médico veterinário Paulo Abílio Varella Lisboa, pesquisador do Icict e coordenador do Núcleo de Experimentação em Tecnologia e Inovação em Saúde, aborda alguns tópicos sobre as zoonoses:

O abandono de animais é um problema social que tem efeitos na saúde pública. Foto: Raquel Portugal/Fiocruz Imagens.

Raiva

“Apesar de o Brasil, atualmente, apresentar números pequenos relacionados à raiva, há notificações recentes que podem ou não ser confirmadas, além de um óbito notificado no ano passado. Então, isso preocupa porque a gente sabe que a raiva é uma zoonose mundial muito importante. Estima-se que uma pessoa morra de raiva a cada 15 minutos no mundo. Temos uma área endêmica de raiva na África e Ásia, em países como a Indonésia”.

Esporotricose

“É grande a problemática trazida pela esporotricose. A gente não tem números oficiais da sua ocorrência em animais. Existe uma subnotificação, ainda que seja uma doença de notificação obrigatória. Faltam informações fidedignas e claras sobre os agravos. Nós observamos cada vez mais a falta de investimento do poder público no fornecimento e oferta do remédio no que tange a população de animais, especificamente gatos e cachorros.

O Fale Conosco da Fiocruz sinalizou que houve um aumento de mais de 400% em relação às perguntas sobre o tema. Isso mostra que de alguma maneira a população está sabendo, escuta, mas talvez a informação oficial não esteja chegando da maneira adequada e correta. No Rio de Janeiro, a Fiocruz se destaca no campo da assistência, pois é uma das principais instituições que atua no atendimento e fornecimento do remédio para animais afetados. Além disso, o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) vem produzindo diversas teses sobre o assunto”.

Leishmaniose

“Em relação à leishmaniose, estamos diante de uma doença muito antiga, que nos acomete desde o século passado. Há muitas questões e conflitos em relação a questões sobre o diagnóstico e a eutanásia. Hoje, nós temos uma instrução normativa, de 2007, que determinou o teste rápido, atualmente produzido por Bio-Manguinhos, como teste de determinação da doença. Levou-se muito tempo para se desenvolver uma vacina eficiente. Agora ela está autorizada, e, no final do ano passado, foi liberado o tratamento pelo Ministério da Agricultura. Mas temos, no Brasil, um número cada vez maior de casos. Os números da leishmaniose assustam porque convivemos com muitos animais, especialmente muitos animais abandonados, e isso é um cenário muito crítico. No próprio estado do Rio de Janeiro já houve notificações de leishmaniose visceral em bebês e idosos, e esse ano, já houve um óbito. Por isso, a gente tem que discutir essas questões.

O problema da leishmaniose não é o animal que tem guarda, que tem dono, porque, nesses casos, muitas vezes, o proprietário busca ou pode bancar um tratamento. Por outro lado, a gente tem uma população de animais de rua, aqui mesmo, por exemplo, no entorno do campus da Fiocruz, que suscitam uma série de questões. Quem cuida desses animais? Qual das esferas públicas deve olhar para essa questão? É um problema grave de leishmaniose, que não se resolveu e não se resolve. E a gente percebe, talvez, falta de participação do estado, em todas as esferas do poder público em relação a uma solução para isso.

De uma certa forma, a questão ambiental dos animais de rua acaba sendo uma forma pela qual a doença prevaleceu. E são animais que não são tratados ou vacinados. Espero que o debate tenha informações e proposições para, em breve, contribuir para uma política de informação e comunicação que possa prevenir, de forma adequada, a epidemia de leishmaniose, fortalecendo os protocolos e procedimentos. Por enquanto, é um cenário ainda muito precário e do qual não se fala muito”.

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