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Suicídio está frequentemente relacionado com a depressão, mas não decorre exclusivamente dessa doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Para falar sobre esses dois temas, o Instituto Nacional de Infectologia (INI)/Fiocruz promoveu, no dia 22 de junho, a palestra "Proposta de abordagem da depressão e risco de suicídio", com o pesquisador do Icict/Fiocruz, Carlos Estellita-Lins. Em sua exposição, o especialista destacou a importância da análise dos dados sobre suicídios como uma ferramenta para se repensar as ações de assistência atualmente praticadas no serviço de saúde. A atividade foi coordenada por Patrícia Helena Castro, responsável pela coordenação do curso de aperfeiçoamento técnico em Farmácia Hospitalar para profissionais de Nível Médio do INI.
“Temos que valorizar os pedidos de socorro e ser sensíveis a eles, o que exige treinamento das equipes profissionais em lidar com situações específicas. O suicídio é a prova e a contraprova de uma situação pertinente, que não dá avisos, que não é uma doença, uma entidade clínica ou uma síndrome, mas sim um desfecho descrito epidemiologicamente de uma situação de crise grave”, afirmou Estellita-Lins. Durante sua fala o pesquisador apresentou dados de uma pesquisa do professor Neury Botega, da Unicamp, mostrando que aproximadamente a cada 100 mil habitantes, 17 tem ideação ou pensamento de cometer suicídio, cinco deles chegam a elaborar um plano, três tentam o suicídio em si e um chega a ser atendido em pronto socorro, podendo ou não ter um desfecho fatal.
A prevenção do suicídio demanda um tratamento precoce e eficaz, com formação adequada, qualificando melhor as emergências psiquiátricas que estão em funcionamento para ter uma melhor atenção dos profissionais de saúde, principalmente na atenção básica/primária. "Não é possível tratar a depressão perdendo a dimensão do luto. As políticas para violência também devem estar incorporadas nesse processo de prevenção. A comunidade é uma peça chave nessa questão", afirmou o pesquisador. O suicídio não é uma preocupação das equipes de saúde e muitos deles poderiam ser evitados se os profissionais estivessem atentos aos sintomas. Na atualidade o modelo adotado para o tratamento desse problema é a depressão, mas isso não significa que o suicídio só venha a ocorrer por conta dela. “Junto com a depressão há a impulsividade, as situações de personalidade, a violência e quando você vai somando todos esses aspectos, multiplica-se a chance de se ter esse trágico desfecho”, explicou.
Estellita-Lins ressaltou ainda que é fundamental o papel de todos os envolvidos em um ambiente hospitalar no caso de crise de suicídio. “Essa é uma emergência médica praticamente impossível de se atuar sozinho dentro do hospital. Todos os atores devem estar envolvidos no tratamento, desde a família até os profissionais de saúde e da assistência social. A Psiquiatria e a Psicologia podem até agir sozinhas no sentido de aplicar uma prescrição ou de fazer uma psicoterapia, mas nada disso ocorre aleatoriamente. É necessária uma boa capacitação dos profissionais do hospital para agirem de forma adequada em casos de suicídio”, ponderou.
Sobre o número de casos no Brasil, o especialista informou que analisando os dados o Ministério da Saúde no período 1980 - 2012 podemos constatar um aumento. Segundo Estellita-Lins, isso não significa necessariamente que ocorreram mais mortes, mas que a qualidade dos dados e das notificações nos serviços de saúde melhoraram, fazendo com que o país tivesse uma real dimensão do problema. Considerando um período mais recente (2000 - 2012), houve um crescimento de 33,3% no número de suicídios no Brasil levando em conta as faixas etárias analisadas (10-14 anos, 15-19, 20-29, 30-59, +60 anos). “A depressão (espectro depressivo), o álcool e as drogas (abuso e dependência), os transtornos de personalidade, a impulsividade e o abuso e violência sexual são fatores fortemente associados ao suicídio”, destacou o pesquisador.
“A tentativa de suicídio é um sinal de alarme e se trata de uma crise envolvendo um impasse ou desespero na pessoa. Ele revela a pressão de fatores psicossociais completos naqueles que vivem sob tensão ou estresse e que expressam, de modo agudo, o seu padecimento. O principal objetivo da intervenção durante uma crise suicida consiste em proteger o paciente de si próprio e assegurar sua sobrevivência”, informou. “Ninguém pode evitar o suicídio. Ninguém tem esse poder. Temos sim o dever de ajudar o paciente”, afirmou Estellita-Lins e, para que esse apoio ocorra, citou alguns instrumentos fundamentais para colaborar nesse processo, como o Inventário de Depressão de Beck (BDI), a Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo (EPDS) e a Reasons for Living (RFL). Segundo o pesquisador, esses são três ‘manuais’ que auxiliam os profissionais no processo de tratamento dos pacientes.
Por fim, o pesquisador apresentou os cuidados que os familiares e educadores devem ter na busca por auxiliar uma crise de suicídio. Segundo Estellita-Lins, todos devem participar dos acordos e pactos pela vida feitos pelo paciente, compreender melhor os riscos e a gravidade do problema, sempre apoiando as medidas estabelecidas pelos profissionais de saúde, lidar com possíveis emoções negativas e ataques ao tratamento adotado, buscarem sempre novos conhecimentos sobre depressão e suicídio e, principalmente, conhecer os limites dos envolvidos.
Ouça a íntegra da palestra de Carlos Estellita-Lins clicando aqui
Crédito: Fotos Ascom/INI
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