Palestra sobre crack - Paulo Amarante

por
Graça Portela
,
16/04/2013

O último debatedor foi o pesquisador da Ensp/Fiocruz, presidente Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e um dos pioneiros no movimento brasileiro da reforma psiquiátrica no Brasil, Paulo Amarante, que abordou a questão da saúde mental no país e as drogas.

Amarante defendeu a estratégia de redução de danos, em que ao usuário é dada a alternativa de reduzir os prejuízos associados ao consumo de drogas, como por exemplo, a troca de cachimbos improvisados por outros de melhor qualidade, evitando-se lesões bucais e infecções secundárias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O pesquisador deu como exemplo os usuários de drogas injetáveis que, ao usarem seringas descartáveis estão fazendo uma opção pela vida, no momento do tratamento. "Essas pessoas não querem se matar com aquela seringa contaminada.”, destacou. Para Amarante, o mesmo se aplica quando há a troca do cachimbo de crack – “elas (as pessoas) fazem uma opção e nesse momento começam a criar vínculo com a saúde”, explicou.

O pesquisador da Ensp falou sobre o equívoco perverso do conceito de epidemia que se aplica ao crack, pois dá a ideia de contágio, de contaminação virótica, "é muito pejorativo”, explicou. Ele também abordou o projeto de lei nº 7.663/2010, do deputado Osmar Terra, que cria um sistema paralelo para atendimento e financiamento, com internações em comunidades terapêuticas religiosas não regulamentadas pelo SUS, reforça a política de internação compulsória e involuntária e estabelece um Cadastro Nacional de Usuários de Drogas, dentre outros pontos. Segundo Amarante, o projeto cria “uma visão absolutamente retrógrada da adicção”.

Paulo Amarante também alertou sobre o que chamou de “mercado do crack”, fomentado pela necessidade do Ministério da Saúde dar respostas à pressão social e liberar recursos para os municípios para combate à droga. “Quem informa ao governo que está com problema com o crack? É o município. Aí, apareceu crack em tudo o que é canto. Sem não tem, eu crio o problema. É um mercado de saúde, do tratamento da droga que se organiza nesse contexto.”

O pesquisador também alertou sobre os empresários que estão redirecionando os seus negócios para o problema das drogas. “Existe uma tentativa não só de ampliação de leitos, mas de criação de instituições de saúde, que nem tão rigorosamente religiosas são, o que por si já é uma fraude”, afirmou. “Apareceram muitos cursos sobre dependência química... È o dinheiro do Ministério, é dinheiro para política, é dinheiro para tudo. Tem um mercado novo sendo criado”, afirmou.

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