Em entrevista: Cristina Rabelais, coordenadora do NIPPIS, explica sobre o Sistema Nacional de Informações sobre Deficiência

por
Assessoria de Comunicação do Icict/Fiocruz
,
04/07/2022

Nos últimos anos, o Núcleo de Informação Políticas Públicas e Inclusão Social veio se consolidando dentro de uma rede com diversas parcerias com foco principal na produção de informações para possibilitar o planejamento e o acompanhamento de políticas públicas, com ênfase na inclusão social. Segundo sua coordenadora, a pesquisadora Cristina Rabelais, do Laboratório de Informação em Saúde do Icict e também da Unifase, o objetivo é voltado a grupos excluídos socialmente.

Em entrevista, ela conta mais sobre o projeto:

De que forma o Núcleo vem construindo parcerias institucionais? 

"A nossa intenção tem sido fortalecer uma área de atuação que trabalhe a interseção entre a Informação - produzida por meio de métodos científicos - a Comunicação – especialmente valorizando a tradução do conhecimento para linguagem acessível - e a Cultura, esta última incorporada como estratégia de resgate de identidades e empoderamento social. Neste sentido temos fortalecido parcerias institucionais e individuais que fortaleçam essa interseção, desenvolvendo mecanismos de tradução do conhecimento para instrumentalizar a gestão e a participação social.

Temos trabalhado em colaboração com instituições de referência na produção de informações quantitativas (indicadores) para tomada de decisões, tais como IBGE, INEP e LIS/ICICT/Fiocruz (PNS e PCDaS), para a construção do SISDEF, por exemplo, e outras para construção do Observa Infância. Temos, também, trabalhado intensamente na colaboração com instituições com expertise consolidada na produção de evidências para informar políticas, como o Núcleo de Evidências do Instituto de Saúde de São Paulo, tendo em vista que nosso objetivo, no médio prazo, é estruturar um Núcleo de Evidências ligado à EVIPNet, Rede de Políticas Informadas por Evidências patrocinada pela Organização Mundial da Saúde.

Temos também acordos de colaboração com órgãos responsáveis pela execução de políticas públicas nos diversos níveis, do nacional ao municipal. Destaca-se a parceria com a Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Individualmente, trabalhamos para fortalecer laços com a área de comunicação. Temos, atualmente, como integrante da equipe uma profissional responsável por elaborar e coordenar o Plano de Comunicação do NIPPIS, que valorize, como etapa fundamental do trabalho de pesquisa, a tradução, a divulgação e a disseminação do conhecimento. Essa profissional é responsável, também, por co-produzir o programa Ecoar, um dos projetos desenvolvidos pelo NIPPIS.  Integram a nossa equipe pesquisadores de outras instituições, como Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e especialistas da área de acessibilidade."

Quais principais resultados serão apresentados durante o 5º Seminário do NIPPIS?

"Bem, acho que vale destacar a concretização dos principais projetos atualmente trabalhados no NIPPIS: O Projeto SISDEF - Sistema Nacional de Informações sobre Deficiência, que será lançado durante o 5º Seminário do NIPPIS. O SISDEF é fruto de um acordo de colaboração entre Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e a Fiocruz, por meio do NIPPIS, que conta com a parceria da PCDaS. Trata-se de um conjunto de painéis de indicadores, desenvolvido em plataforma de tecnologia de informação e análises de dados, em acesso aberto, que tem por objetivo final produzir e publicizar, com recursos de acessibilidade, indicadores confiáveis para o monitoramento das condições de vida, bem-estar e direitos humanos da população com deficiência, de modo a orientar ações e estratégias de organização social e políticas públicas. A equipe do SISDEF conta hoje com quase duas dezenas de pesquisadores e profissionais de tecnologia.

O Programa Ecoar – diálogos de cidadania é um projeto comunicacional, informativo-cultural, implementado a partir de outubro de 2021, que surgiu a partir de duas percepções fundamentais do grupo de pesquisa do NIPPIS, cuja importância foi intensificada no contexto da pandemia: É preciso construir conexões mais efetivas entre sociedade e academia e é necessário traduzir conhecimento e reflexões acadêmicas para linguagem acessível, favorecendo a sua apropriação pelo cidadão comum e o fortalecimento da construção da cidadania.

Trata-se de um programa de entrevistas, produzido por Daniele Alves e por mim, conduzido por Tuca Munhoz, entrevistador com deficiência, ativista pelos direitos humanos das pessoas com deficiência e consultor especializado em acessibilidade. São, em geral, até três entrevistados, mesclando-se pessoas com e sem deficiência, especialistas e leigos, abordando, de forma acessível e descontraída, temáticas relacionadas à cidadania e direitos humanos. Público e participantes encontram no Ecoar um espaço de diálogo para compartilhar conhecimentos e vivências. 

Foram oito episódios até junho, transmitidos simultaneamente no canal do YouTube da VideoSaude Distribuidora da Fiocruz e no canal da UNIFASE.  Foram abordados temas sobre masculinidade, educação, mobilidade, inclusão e violência, sendo o capacitismo tema transversal. Os episódios tiveram mais de 1800 visualizações até maio. 

Além disso, o Observa Infância é uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos. A partir do cruzamento de grandes bases de dados próprias e dos sistemas de informação nacionais, o projeto identifica as causas de mortes evitáveis nessa faixa etária. As evidências científicas trabalhadas são resultado de investigações desenvolvidas pelos pesquisadores Patricia Boccolini e Cristiano Boccolini".

E o site do Núcleo, quais suas principais novidades?

'A página do NIPPIS traz as principais informações e notícias sobre o núcleo, sua equipe e projetos em andamento e oferece acesso ao SISDEF, ao Ecoar e ao Observa Infância. Pretende-se, nos próximos meses, desenvolver algumas iniciativas nas redes sociais relacionadas à tradução do conhecimento e popularização da ciência."

Como esse trabalho contribui para a discussão e promoção de ações pela saúde e inclusão de pessoas com deficiência?

"Pessoas com deficiência constituem um segmento historicamente invisibilizado, socialmente falando, e isso se reflete na escassez de informações. Se não há informações confiáveis e periódicas sobre quantos são, como vivem e quais as suas necessidades, como planejar políticas públicas e acompanhar seus resultados? O SISDEF vem, portanto, fazer frente à escassez de informações e diminuir a invisibilidade de pessoas com deficiência no Brasil. 

O Ecoar visa à popularização da ciência, entendendo que divulgação científica, tradução e democratização do conhecimento são importantes ferramentas para promover cidadania, empoderando cidadãos para participar na tomada de decisões sobre políticas públicas. Busca, também, dar concretude aos ditames expressos nos diplomas legais brasileiros relativos aos direitos de pessoas com deficiência, conquistados historicamente pelos movimentos sociais, que devem reger o estabelecimento de políticas públicas no país, promotoras de inclusão social, cidadania e, em última análise, de acesso a saúde, assistência, educação, cultura, mobilidade urbana, etc."

Quais indicadores mais relevantes foram levantados pelo Núcleo/Sistema de Informação recentemente?

"O SISDEF conta hoje com cerca de 80 indicadores, organizados em painéis temáticos acessíveis sobre educação, saúde, trabalho e dados censitários, a partir de dados nacionais de fontes oficiais dispersas em diferentes setores. Estão em fase de construção indicadores da área de assistência social, que deverão ser disponibilizados nos próximos meses. 

Indicadores sobre educação básica foram construídos a partir de dados do Censo da Educação Básica, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira - INEP, ligado ao Ministério e Educação – MEC; indicadores sobre trabalho com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS e outros indicadores gerais e da área de saúde a partir de fontes de dados produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, como o Censo Demográfico e a Pesquisa Nacional de Saúde - PNS. 

Para cada indicador há uma ficha de metadados que inclui, entre outras informações, codificações definidas com base na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF, da OMS. Assim, é possível identificar quais aspectos da CIF são retratados por cada indicador, ou seja, se trata da presença de alterações em funções e/ou estruturas do corpo, se corresponde à existência de barreiras e facilitadores no ambiente ou, ainda, se diz respeito a limitações no desempenho de atividades ou restrição à participação social."

Foto: NIPPIS/Icict & Unifase

 

Comentar

Preencha caso queira receber a resposta por e-mail.

Assuntos relacionados

5º Seminário do Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão Social será nos dias 5 e 6 de julho

Evento online terá lançamento de sistema de informação sobre deficiência e debates sobre equidade e inclusão social

Para saber mais

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668

Este site é regido pela Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, que busca garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de toda obra intelectual produzida pela Fiocruz.

O conteúdo deste portal pode ser utilizado para todos os fins não comerciais, respeitados e reservados os direitos morais dos autores.

logo todo somos SUS