Encontro Favela-Universidade recebeu público de 255 participantes

por
Luiza Gomes (Cooperação Social)
,
10/04/2019

As ações afirmativas que abriram espaço para as camadas mais populares da sociedade nas universidades operam transformações simbólicas e estruturais todos os dias. Em 2017, quase a metade dos concluintes do ensino superior que participaram do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) seriam os primeiros universitários em suas famílias, cerca de 42%. Provocados por essa realidade e pelo horizonte de fortalecimento do campo da ciência cidadã no Brasil, a Fiocruz, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e organizações de Maré e de Manguinhos, realizaram o Encontro Favela-Universidade nos dias 27, 28 e 29 de março, no Rio de Janeiro. 

Roberta Nunes, da Cooperação Social da Fiocruz, falou sobre as ações territorializadas do Museu da Vida  (Foto: Luiza Gomes - Cooperação Social)

As atividades foram realizadas na Cidade Universitária, na Ilha do Governador, separada das favelas da Maré apenas pelo Canal do Cunha e pela Linha Vermelha. No total dos três dias, foram apresentados 63 trabalhos, entre relatos de experiências dos territórios de Maré e Manguinhos, projetos de extensão da UFRJ e projetos em cooperação social desenvolvidos pela Fiocruz nessas duas localidades. 

Na Fiocruz, a articulação é coordenada pela Cooperação Social da Presidência e pelo Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC) e conta com apoio dos setores de Cooperação Social de Instituto Oswaldo Cruz (IOC), de Responsabilidade Socioambiental de Bio-Manguinhos (Somar), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnologia em Saúde (Icict), e da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp).

O conhecimento que vem dos becos

Desde dezembro passado, as instituições vêm promovendo as rodas de conversa Universitárixs e faveladxs voltadas para moradores de favelas que estejam cursando ou tenham cursado ensino superior. A discussão sobre a forma como o conhecimento é construído nas periferias e nos espaços acadêmicos é um dos eixos norteadores das rodas. Segundo a superintendente da PR5/UFRJ, Carla Dias, veio desse espaço a demanda de um evento que aproximasse as instituições acadêmicas dos territórios – concretizada no Encontro Favela-Universidade. “Esse evento é fruto de uma ação coletiva e emerge da necessidade identificada tanto nos projetos dos territórios, como nos de extensão e de cooperação social, de que essas iniciativas se vejam, se aproximem. Às vezes estão trabalhando na mesma direção e não se conhecem”, explicou, nos momentos iniciais do primeiro dia de evento. 

Também na mesa de abertura, Leonídio Madureira, coordenador de Cooperação Social da presidência da Fiocruz, valorizou a convergência de forças das instituições e organizações envolvidas. Madureira apontou, ainda, a possibilidade de promoverem uma jornada científica de estudantes favelados conjuntamente ainda esse ano. “Nossa perspectiva é a de que não basta que universitários de favelas busquem de forma isolada avançar nas suas trajetórias acadêmicas, lidando com as dificuldades de acesso que estão colocadas pelas condições de vida; mas é importante que, articulados com seus pares, com apoio de instituições como a Fiocruz e a UFRJ, possam vir a construir alternativas para ocupar o espaço acadêmico com as reflexões e demandas que nascem da sua vivência”, afirmou. 


Leonídio Madureira, coordenador da Cooperação Social da Fiocruz, destacou a importância da articulação entre instituições públicas e organizações comunitárias (Foto: Luiza Gomes)

Ações diversificadas e complexas

Dos 63 trabalhos, 15 iniciativas eram vindas de Maré, Manguinhos ou realizadas por organizações comunitárias em ambos os territórios. Experiências como da Universidade das Quebradas, do Museu da Maré, do Ecomuseu de Manguinhos foram algumas entre as abordadas no Encontro. A banda Música na Calçada, composta por ex-alunos da Escola de Música de Manguinhos, apresentou seu repertório no vão do prédio da Faculdade de Letras da UFRJ. Além das apresentações, também foram realizadas oficinas de passinho; de poesia e crítica social; exibidas esquetes e peças; shows de bandas locais, entre outros. 

Pela Fiocruz, 25 iniciativas foram apresentadas abordando temas como comunicação, informação e saúde; arte e cultura; comunicação comunitária; ambiente; segurança nutricional; entre outros. Cursos construídos com metodologias participativas; laboratórios e observatórios com atuação junto a territórios vulnerabilizados; e programas e projetos sociais foram algumas das tipologias de trabalhos apresentados. O programa de Promoção de Territórios Urbanos Saudáveis da Cooperação Social (PTUS) da Presidência foi um deles.


Denise dos Reis, diretora da RedeCCAP, conta a experiência da Biblioteca Casa Viva em Manguinhos (Foto: Dyego Ignácio)

Uma apresentação do Dicionário de Favelas Marielle Franco foi feita no dia 29, na UFRJ. O projeto é uma parceria entre a Fiocruz, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ), Centro de Estudo e Ações Culturais e de Cidadania em Cidade de Deus (Ceacc), Grupo Eco Santa Marta, Instituto Raízes em Movimento e Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). 

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Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
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