Informação em Saúde é tema de debate do último dia do seminário SUS 20 anos

por
Rafael Vinícius
,
13/11/2008

A informação em saúde foi o tema debatido na última mesa do Seminário SUS 20 anos, realizado na Biblioteca de Ciências Biomédicas da Fiocruz. Para encerrar o evento, o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) convidou o pesquisador do Icict, Francisco Inácio Bastos; o representante da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa), João Batista Risi; e o professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, Maurício Barreto. A vice-presidente de ensino, informação e comunicação da Fiocruz, Maria do Carmo Leal, mediou a mesa final sobre a informação em saúde baseada na trajetória dos 20 anos do SUS e nos desafios para o futuro.

As redes da informação em saúde foram abordadas pelo representante da Ripsa, uma entidade que sistematiza as informações para as políticas de saúde. Risi destacou a necessidade de pactuar os indicadores sobre a situação de saúde entre as instituições brasileiras de pesquisa. Além disso, também defendeu o uso de metodologias de análise da informação direcionadas para os processos decisórios. “A informação é uma questão crucial para a saúde e deve ser usada para auxiliar na resolução dos problemas da saúde pública do Brasil”, explicou Risi.

De acordo com o palestrante, a falta de planejamento na área de saúde pública gera reprodução de problemas, com destaque para a fragmentação das iniciativas. “O grande problema do setor de saúde é que ele não trabalha com objetivos de médio e longo prazo. Isso requer um planejamento correto e intenso”, salientou Risi, destacando que a Ripsa procura fortalecer parcerias entre instituições com ascendência na produção, análise e disseminação de informações.

Segundo Risi, os censos e pesquisas nacionais (IBGE), análises conjunturais e de tendências sobre políticas sociais, inclusive de saúde (IPEA) e pesquisas nacionais sobre temas específicos de saúde, com periodicidade e metodologia variável são exemplos das fontes de informação disponíveis hoje em dia. “O desafio é usar essas fontes complexas e diversas na gestão integral dos sistemas de saúde e sistematizá-las observando os princípios do SUS (intersetorialidade, integralidade, gestão descentralizada e controle social)”, destacou Risi.

Os principais desafios do Sistema Único de Saúde, de acordo com a exposição do pesquisador, é reorganizar a área de informação em saúde nos componentes gerencial, funcional e tecnológico, além de sistematizar a informação existente. “O pressuposto é valorizar a informação como estratégia política para qualificar a gestão do SUS e profissionalizar quadros gestores, com objetivos de médio e longo prazos”, concluiu o palestrante. A experiência de Risi na Ripsa é considerada uma verdadeira contribuição para o uso da gestão da informação.
 

Maurício Barreto, citado como autor de um dos dez mais importantes trabalhos em saúde pública pelo Lancet (revista científica internacional), afirmou que os problemas de saúde persistem devido à complexidade do tema. “Não sabemos muito bem definir a saúde. Ela é tratada como algo abstrato”, afirmou Barreto. De acordo com o palestrante, apesar da necessidade do entendimento do campo das decisões políticas, nítidos passos para a evolução da comunicação estão sendo dados.

O pesquisador usou a mortalidade infantil como o principal exemplo de indicador de saúde, definido por ele como uma forma de ver e simplificar o mundo. “Depois da década de 80, o significado deste tipo de mortalidade mudou muito, principalmente quando surgiu a hidratação oral. Ela se distanciou do processo que incluía a diarréia como a principal causa da morte nesses casos”, explicou o palestrante, afirmando que a tecnologia foi a responsável por essa desagregação.

“A pesquisa em saúde pública no Brasil é mais republicana”. Com essa frase, Francisco Inácio definiu a sua linha de pensamento com relação ao SUS e observou que os EUA não têm um sistema de saúde integrado. De acordo com o palestrante, o Brasil é mais democrático nas pesquisas relacionadas à saúde e isso é algo positivo se for comparado com as políticas de outros países. “Apesar dos problemas, o nosso país possui um sistema que é de fato nacional”, destacou Inácio.

Ao abordar os problemas encontrados no Sistema Único de Saúde, Inácio afirmou ainda que o divórcio entre pesquisa e serviços é algo prejudicial para o Brasil. Sua hipótese é que tal pensamento difundido no meio acadêmico trata-se de uma herança colonial de estrutura patrimonialista, que separava quem devia pensar de quem devia executar. Além disso, o palestrante destacou que a transparência, a gestão pública e a internet são as áreas onde o SUS precisa atuar de maneira mais contundente.  

 

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