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Livro traz análises coletadas em curso com foco em queimadas com a missão de auxiliar na tomada de decisões por
gestores públicos / Imagem: reprodução da capa
O Brasil registrou, até o dia 15 de setembro, mais de 184 mil focos de incêndio, representando 51% de todos os focos detectados na América do Sul somente no ano de 2024, segundo o Banco de Dados de Queimadas (BDQueimadas) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Metade deles ocorreram na Amazônia. Os números, além de apontarem um cenário preocupante para a biodiversidade do país, alertam para outro quadro que exige atenção: a saúde da população.
Para mitigar os efeitos das queimadas sobre a saúde pública, é importante propor soluções amparadas em bases de dados. “O acesso a informações qualificadas pelos gestores permite que as tomadas de decisões sejam realizadas com base em diagnósticos da situação em saúde e, assim, direcionar os recursos aos territórios prioritários", destaca a coordenadora do Observatório de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz (Icict/Fiocruz) e uma das organizadoras do livro digital “Curso análise de situação de saúde ambiental: ASISA-Queimadas”, Renata Gracie.
O livro, lançado em 2024 pelo selo Edições Livres, da Porto Livre, foi produzido a partir da experiência de três anos de execução do curso "Análise de Situação de Saúde Ambiental (ASISA)" com foco nas queimadas e incêndios florestais nos estados. Esse tipo de análise tem como missão auxiliar na tomada de decisões mais acertadas, diminuindo riscos e mobilizando recursos e meios para a redução dos impactos na saúde.
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Voltado para profissionais de saúde, especialmente os de Vigilância em Saúde Ambiental (VSA) e do VIGIAR, os cursos contribuíram para a análise da saúde da população em diferentes regiões, utilizando técnicas de análise espacial e geoprocessamento. Com o livro, a expectativa é ampliar o acesso a informações de qualidade no processo de tomada de decisão de gestores e trabalhadores diante de situações de queimadas e incêndios florestais.
“Com o livro, mais profissionais de saúde podem ter acesso aos conteúdos conceituais e práticas de técnicas utilizadas para a realização de análise de situação em saúde em queimadas e incêndios florestais. Isso permite que outras pessoas acessem este conhecimento e proponham decisões mais assertivas diante dessas situações”, indica a pesquisadora.
Como o clima não afeta a saúde de forma direta, uma vez que essa relação é mediada por fatores sociais, econômicos, políticos e ambientais, é preciso analisar os efeitos das mudanças ambientais e climáticas a partir de diversos dados oriundos de diferentes fontes, que precisam ser organizados e integrados para a compreensão completa da situação.
A publicação aborda questões teóricas sobre mudanças climáticas, qualidade do ar, queimadas e seus impactos sobre a saúde humana e o SUS, além de aspectos práticos da análise de dados, como softwares, sistemas e aplicativos de georreferenciamento, bases de dados a serem utilizadas, cálculo da taxa de internação por doenças respiratórias, e exemplos de notas técnicas a serem produzidas.
Agosto foi o mês com o maior número de queimadas dos últimos dez anos. Reflexo de um conjunto de fatores, especialmente a maior seca já registrada no Brasil e a ação humana, as queimadas têm impactado inclusive quem mora bem longe de onde elas ocorrem. A cidade de São Paulo registrou índices alarmantes de qualidade do ar em setembro, efeito da fumaça vinda das regiões Norte e Centro-Oeste. Estados como Paraná e Rio Grande do Sul têm convivido com uma novidade: a água que desce dos céus está preta. A fuligem chega não apenas pelo ar, mas também pela chuva.
As queimadas florestais resultam na emissão de grandes quantidades de material particulado, além de outras substâncias que contribuem para a alteração da composição química da atmosfera. Essa combinação de fatores que inclui poluentes atmosféricos, temperatura, umidade e precipitação, define o tempo de residência dos poluentes na atmosfera, o que ajuda a explicar o transporte das partículas a longas distâncias.
Estudos do Observatório de Clima e Saúde mostram que essas impurezas, associadas às condições climáticas, podem agravar casos de doenças respiratórias e cardiovasculares. A publicação informa que “as mudanças e a variabilidade climática afetam a qualidade do ar por meio de diferentes vias, aumentando a produção de alérgenos e a concentração de ozônio e de partículas inaláveis”.
Apesar da queda de quase 70% no número de focos de queimadas, no último fim de semana (13 a 15/09), segundo o INPE, o resultado das queimadas ainda deve ser observado com atenção. Em particular na Amazônia, onde as mudanças climáticas desenham um quadro que causa preocupação: a interação de queimadas sazonais e clandestinas, seca, aumento da temperatura média global, alteração do regime de chuvas, redução da produtividade florestal, concentração de gases poluentes, entre outras ações de impacto. Essas variáveis se intercalam e interagem entre si, tornando a situação cíclica. Um cenário que afeta principalmente aqueles em maior situação de vulnerabilidade, como idosos, gestantes, crianças e pessoas com doenças preexistentes.
Saber interpretar esse panorama e tomar decisões assertivas em momentos críticos é um dos objetivos do curso que deu origem ao livro. Compreender o comportamento das doenças respiratórias e cardiovasculares no território e suas relações com as queimadas e a variabilidade climática, a partir da análise de séries temporais e fatores de exposição, é uma das diretrizes destacadas na publicação.
O livro também incentiva a participação social local e regional, com ações de sensibilização e mobilização para aprofundar o conhecimento sobre o tema. “É importante a divulgação ampla destas informações para a sociedade civil, para que este grupo também possa cobrar medidas mais adequadas para os seus territórios”, lembra Renata.
O objetivo é criar ferramentas para um programa de vigilância em saúde ambiental que reduza incertezas e fortaleça as evidências dos efeitos da poluição na Amazônia brasileira sobre a saúde. Afinal de contas, o entendimento profundo dos efeitos das queimadas não são apenas uma necessidade, mas um imperativo para mitigar problemas de saúde, salvar vidas, proteger ecossistemas e garantir um presente e futuro menos vulnerável para toda a população.
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