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Experiências focadas em novas formas de produção do conhecimento e a formação de um novo campo foram debatidas no seminário “Redes sociais, conhecimento e ação coletiva”, realizado em 22/11, em comemoração aos 25 anos do Icict, com o objetivo de debater o alcance teórico e metodológico do conceito de redes sociais.
A pesquisadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Marta Pedro Varanda, proferiu a palestra “A análise de redes sociais e ação coletiva: o caso da análise de redes sociais lusófona”, na qual abordou conceitos e o método de redes sociais e o seu estudo sobre redes de pesquisadores sobre redes sociais e processos de ação coletiva.
Segundo ela, a metodologia de análise de redes permite entender quais são os elementos que interligam grupos, organizações, pessoas, por que uns sistemas sociais são diferentes dos outros e o motivo de alguns estarem isolados. “Observamos e medimos as relações em nivel micro, sobre o que leva uma pessoa ou grupo a colaborar com outro e conseguimos compreender se essas ligações conformam um sistema social fragmentado ou coeso, quais os efeitos disso, qual grupo está em destaque”, aponta.
De acordo com ela, a análise de redes é uma inovação ainda em difusão na comunidade científica que envolve mobilização de novos pesquisadores, recursos e coordenação dos esforços para a solidificação desta área e seu estudo tem o objetivo de compreender quais são os pactos estabelecidos entre pessoas e grupos, as dificuldades encontradas, o que motiva a cooperação e o que vai facilitar a análise de redes na comunidade lusófona. “Por ser um novo campo, os estudos ainda são solitários e arriscados, porque implicam na escolha de uma agenda com pouca visibilidade e têm dificuldade de financiamento”, diz.
A pesquisa, que abrange dados socio-biográficos (instituição, área de estudo, percurso profissional etc) e sociométricos (colaboração entre eles, co-autorias, entre outros), revela que tanto o grau de colaboração quanto de aconselhamento entre os pesquisadores desse campo é muito baixo. Entre os fatores que inibem a mobilização de pesquisadores está a inexistência de uma figura de destaque e pessoas ou grupos que exerçam papel de intermediação. “No Brasil, a rede social é fragmentada e há desconhecimento em relação aos pares que estão desenvolvendo pesquisas no mesmo campo e a rede científica é uma atividade de caráter coletivo, precisamos uns dos outros para produzir”, revela.
No entanto, Marta aponta alguns elementos que podem contribuir para o desenvolvimento desse campo do saber. “Quase 70% dos investigadores têm relação de amizade com seus conselheiros e isso facilita muito a formação e fortalecimento de redes, além disso, existem múltiplos grupos, o que pode ser benéfico para abrir o campo e o tornar mais inovador”, explica.
Entre as estratégias para a dinamização do campo e o alcance da formação de uma massa crítica, ela indica que a análise de redes sociais deve ser incluída nos currículos universitários, realizados cursos de curta duração e criados grupos de trabalho em associações e conferências.
Em seguida, foi realizada a mesa redonda “Redes sociais: configurações na saúde, na informação e na comunicação” que contou com as participações de Tamara Egler, responsável pelo Laboratório Estado, Sociedade, Tecnologia e Espaço do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur/UFRJ) e Gilda Olinto, professora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ibict/UFRJ) e foi mediada por Regina Marteleto, pesquisadora do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces/Icict/Fiocruz).
Tamara Egler falou sobre a produção e difusão do conhecimento em rede. Segundo ela, a tecnologia transforma a linguagem de representação do espaço e pode ser usada para ampliação do processo de difusão do conhecimento. “As redes sociais sempre existiram, estamos, hoje, diante de redes sociotécnicas, porque elas são mediadas por tecnologia da informação e da comunicação, o que amplia a capacidade de ação dessas redes sociais”, revela.
Segundo Tamara, o objeto “rede” tem três dimensões, a técnica, que é material, a social, que é relacional e invisível e a simbólica, que transforma a linguagem e representa o pensamento por imagem e as relações de poder nessas redes depende da cultura política do país ou local no qual se formam.
A pesquisadora do Ippur observa que há um esgotamento do modelo de produção autoral, individual e autoritário e, em seu lugar, surgem formas de associação virtual que compõem um coletivo que amplia as possibilidades de produção do conhecimento pela articulação de pesquisadores em diferentes níveis e disciplinas. De acordo com ela, as tecnologias ampliam a capacidade de produção transversal do conhecimento.
“Está sendo formado um novo campo com entrelaçamento disciplinar, mais colaborativo, que aborda uma linguagem imagética, de texto verbal e não verbal, facilitando os processo de produção e apropriação do conhecimento pelo uso de imagem digital. As tecnologias contribuem para maior permeabilidade entre os grupos e pessoas, transformam a esfera pública, produzindo novas parcerias e potencializando a capacidade de ação coletiva e articula o conhecimento produzido no local e no global”, explica.
A professora do Ibict, Gilda Olinto falou sobre comunidades, redes sociais e virtuais e bibliotecas públicas. Ela aponta que a biblioteca pública pode ser vista como um nó em uma rede de bibliotecas que pode desempenhar papel importante no empoderamento de grupos e superação das desigualdades sociais.
Gilda revela que nos Estados Unidos, cerca de 80% das bibliotecas estão em redes sociais como o Facebook, enquanto que no Brasil, a relação da biblioteca com a comunidade seria ainda muito tradicional. “O distanciamento da biblioteca da comunidade, inclusive virtual pode ser um dos motivos para o surgimento de inúmeras bibliotecas comunitárias, já um movimento espontâneo de rede on line”, diz.
A pesquisadora aponta para o surgimento de algumas iniciativas interessantes de mobilização e atuação em redes. Uma delas é a Biblioteca Parque de Manguinhos. “Ela é muito inclusiva na sua concepção física e a comunidade é muito bem recebida. Ainda é algo novo, mas espero que a biblioteca saiba olhar para a comunidade na qual atua.”
Participaram da mesa de abertura, além de Regina Marteleto, uma das coordenadoras do evento, Umberto Trigueiros, diretor do Icict e Alfredo Tolmasquim, coordenador de Ensino e Pesquisa do Ibict, instituição que apoiou o evento.
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