Comunicação e saúde em debate na Bahia

por
Cristiane d'Ávila
,
21/11/2011

Com o objetivo de estimular o trabalho em rede entre profissionais, gestores, conselheiros, pesquisadores e comunicadores de saúde, foi aberto, na manhã desta segunda-feira (21/11), na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, o seminário “Comunicação e Saúde: o trabalho em rede para o fortalecimento do SUS”.  O encontro reúne profissionais do campo da comunicação em dois dias de palestras e oficinas para debater temas, resultados de pesquisas e propostas para a área, tendo em vista a realização da 14ª Conferência Nacional de Saúde, que acontecerá de 30 de novembro a 4 de dezembro próximos.

Na parte da manhã, a mesa-redonda “Comunicação no SUS” contou com a participação de Ligia Rangel, pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do pesquisador da Secretaria de Estado de Saúde da Bahia Tiago Parada, da coordenadora do Programa de Pós-graduação em Informação e Comunicação em Saúde do Icict, Inesita Soares de Araújo, e mediação da professora da Faculdade de Comunicação e da Pós-graduação em Cultura e Sociedade da UFBA, Simone Bortoliero.   

Inesita Araújo apresentou os resultados da pesquisa “Políticas e práticas de comunicação no SUS – Mapeamento, diagnóstico e metodologias de avaliação”, desenvolvida no âmbito de sua atuação como pesquisadora associada do Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Saúde (Laces/Icict). 

A pesquisa, realizada de 2007 a 2009 em cinco capitais (Rio de Janeiro, Recife, Belém, Cuiabá, Brasília e Porto Alegre), teve o objetivo de diagnosticar a comunicação pensada e praticada em 115 instituições públicas no âmbito do SUS. A pesquisa, segundo Inesita, revelou dois cenários referentes à comunicação em instituições vinculadas ao SUS, que refletem um modo transferencial de trabalhar a comunicação em saúde: um que confirma concepções e práticas cristalizadas, outro no qual a mercadoria, a publicidade e a tecnologia modelam outras práticas ou fortalecem perspectivas consolidadas de comunicação.

“Os setores de comunicação tendem a demandas pontuais, apresentam estruturas frágeis, dependentes politicamente dos gestores e dos lucros centrais para receber recursos financeiros. Além disso, os profissionais em geral não têm formação em saúde e não se investe nessa formação.”

Segundo a pesquisadora, há uma forte presença, no discurso dos dirigentes e dos comunicadores, da visão da comunicação como ação estratégica pautada pelo mercado. As escolas e cursos de comunicação também não têm disciplinas relacionadas com o campo das políticas públicas.

“Hoje estamos convictos de que a comunicação em saúde se tornou um campo, um lugar multidimensional, formado por agendas, atores. Precisamos ampliar as redes de sentidos que favoreçam a interlocução do conhecimento e o compartilhamento ainda mais amplo deste conhecimento”, pontua Inesita.

Ligia Rangel, pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, apresentou a palestra “Qualidade da interação comunicativa”, em que analisou como é possível estabelecer uma interação comunicativa entre usuários, profissionais e sistemas de saúde. “Queremos saber que relações estamos produzindo para tentar desconstruir formas de reprodução social nos sistemas de saúde. Observamos contextos distintos com especificidades de interação predefinidas socialmente nos serviços de saúde, nos espaços públicos e nos espaços privados”, explica Ligia.
 

Tiago Parada, da Secretaria de Estado de Saúde da Bahia, apresentou a palestra “Mobiliza SUS”, em que explicou que a iniciativa é uma política que reúne um conjunto de estratégias articuladas de forma intersetorial entre saúde, educação e o Ministério Público, cujo compromisso é estabelecer uma gestão estratégica, participativa e efetiva do SUS da Bahia, através do fortalecimento da participação e do controle social.

“O Mobiliza SUS surge em 2007, com o rearranjo das forças políticas no âmbito estadual, com o objetivo de abrir um canal de diálogo com os movimentos populares, estimulando a co-responsabilidade social em defesa do SUS e de seu fortalecimento”, explica Parada. Os pontos-chave da política, segundo o pesquisador, são o trabalho em rede, a educação popular em saúde, a efetivação do direito de exercer a participação e o controle social.

“Trabalhamos com encontros, oficinas, tendas, rodas de conversa, reuniões de trabalho, comunicação eletrônica, videoconferências, contatos telefônicos, comunicação institucional. Mas mantemos a divulgação do movimento em página na internet, com produção de material impresso, participação em eventos acadêmicos, e algumas experiências em meios de comunicação de massa”. O maior desafio do Mobiliza SUS, segundo Tiago, é a extensão do estado da Bahia, que apresenta 26 diferentes identidades culturais, o pouco acúmulo histórico em experiências democráticas e participativas e a ausência de posposta estruturada de avaliação e de comunicação.

Participaram da mesa de abertura do seminário “Comunicação e Saúde: trabalho em rede para o fortalecimento do SUS” o diretor do CPqGM (Fiocruz Bahia), Mittermayer Galvão, representando a vice-presidência de ensino, informação e comunicação da Fiocruz, o representante  da Secretaria de Estado de Saúde da Bahia, Tiago Parada, a professora da Faculdade de Comunicação da UFBA, Simone Bortoliero, Inesita Soares de Araújo, coordenadora do PPGICS, Lívia Mansur, representante do Conselho Nacional de Secretarias de Saúde e diretora de Comunicação, Educação e Informação do Conselho de Secretários Municipais de Saúde, o representante do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, Eduardo Motta, o vice-presidente da Abrasco, Luís Eugênio Portela, e Janine Cardoso, pesquisadora do Laces/Icict.

O evento é uma realização do Grupo Temático Comunicação e Saúde da Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (GTCOM/Abrasco), do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (CPQqGM/Fiocruz), do Icict, do Instituto de Saúde Coletiva e da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.
 

 

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