El Salvador é o mais recente integrante do Programa IberBLH

por
Cristiane d'Ávila
,
06/07/2010

Em 2008 foi a vez da Colômbia, em 2009 do Peru e, no início deste ano, do Panamá. Agora, El Salvador adere ao Programa Iberoamericano de Bancos de Leite Humano (IberBLH). Esta ação de cooperação, que une 22 países, ainda contou com a adesão, em março, de Valência, na Espanha. Em entrevista à Assessoria de Comunicação, o coordenador do Programa IberBLH, João Aprígio Guerra de Almeida, falou sobre a iniciativa e a ampliação do sistema informacional, criado no Icict (que hoje gere a Rede BLH do Brasil), para a Ibero-América e a África.

Como começou a rede de bancos de leite humano?

Essa história começou em 1986, quando percebemos que o modelo anglo-saxão de banco de leite humano do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), criado em 1943, estava muito afastado da realidade brasileira e do que esperávamos para o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro. Esse modelo, voltado para a coleta e a distribuição de leite humano, concebia o leite como uma secreção, e não como um alimento funcional. Em outras palavras, o processo se limitava à amamentação, não englobava a promoção e o apoio ao aleitamento materno. Assim criamos um novo modelo, que chamamos de novo paradigma. Em 1998 nos demos conta de que esse novo modelo de banco de leite, por sua aceitação, já tinha sido instalado em várias cidades brasileiras. Quer dizer, havíamos construído uma rede antes mesmo de montarmos um modelo explicativo para a mesma! Resultado: em 2001, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano como o projeto que mais havia contribuído, no mundo, para a redução da mortalidade infantil. Assim teve início um apelo internacional para que a iniciativa fosse aplicada em outros países.

De que maneira ocorreu o crescimento da Rede BLH brasileira e os acordos bilaterais com outros países?

Em 2005, no 4º Congresso Brasileiro de Bancos de Leito Humano, do qual participaram 12 países da América Latina, se discutiu como levar a Rede BLH do Brasil para toda a região. Neste evento também aconteceu o 1º Fórum Latinoamericano de Bancos de Leite Humano, no qual foi produzido um documento, denominado Carta de Brasília, em que os países signatários assumiam o compromisso de contribuir para a construção da rede Latinoamericana de Bancos de Leite Humano.  Nessa união de esforços vale destacar a importante participação da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores, que incluiu o tema BLH na pauta da cooperação internacional em saúde. Em decorrência dessa iniciativa, foi iniciada a implantação de bancos de leite humano em 18 países da América Latina e Caribe hispânico. Em 2007, então, trabalhamos a formulação do Programa Iberoamericano de Bancos de Leite Humano, aprovado no mesmo ano pela Cúpula dos Chefes de Governo e de Estado da Ibero-América. Em julho de 2008, iniciamos as atividades do Programa no Icict, onde foi instalada a Secretaria. Atualmente, esse é o único programa internacional sediado e coordenado por uma unidade da Fiocruz, envolvendo 22 países, em que a instituição é autora e única responsável pela condução e execução do mesmo. Eu o considero um programa de muito êxito, pois com ações simples e atuando de maneira focal e objetiva, no âmbito da segurança alimentar e nutricional em neonatologia, ajuda os países a cumprirem as metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) com foco nos ODMs 4 (redução da mortalidade materna) e 6 (redução da transmissão do HIV-Aids), principalmente.

Como se deu o reconhecimento da importância da informação e da comunicação para um processo, a princípio, estritamente biomédico?

 A implantação de um banco de leite humano inclui a transferência de conhecimento do processo biológico da atividade, que se refere ao funcionamento do banco propriamente dito. Mas há uma outra etapa que diz respeito à implantação do sistema de informação e gestão de bancos de leite humano. Esse sistema, desenvolvido no Icict e em funcionamento nos 200 bancos de leite humanos brasileiros, como também no Equador, Guatemala e Uruguai, fornece dados sobre o banco e auxilia o gestor a administrá-lo. Esse sistema nos permite também orientar o Ministério da Saúde (MS) sobre os locais onde a ação ‘banco de leite humano’ pode ser mais resolutiva, contribuindo para a redução dos índices de mortalidade neonatal, o que vai ao encontro dos Objetivos do Milênio no item referente à mortalidade infantil, no qual o MS precisa atuar.

Essa tecnologia, desenvolvida no Icict, será transferida para outros países?

Nossa ambição é implantar o sistema, ainda esse ano, na Guatemala, em Cuba, onde já iniciamos os trabalhos, Uruguai, Argentina, Paraguai, Equador, Venezuela, Espanha e Panamá. Por sua importância e complexidade, está sendo gerido para se converter, futuramente, no SIGBLH, um sistema de gestão integrada da rede de bancos de leite humano. Digo gestão integrada, pois o sistema integra o serviço, o conhecimento científico e tecnológico, os indicadores, o monitoramento, a comunicação, a aplicação de recursos financeiros e o geoprocessamento. É um sistema integrado para a rede de bancos de leite humano do Brasil, dos países iberoamericanos e africanos.

Como se processará o crescimento deste complexo trabalho em rede?

Em termos operacionais, a ação vem sendo viabilizada por mecanismos de cooperação bilateral, em que a Fiocruz atua diretamente com o país cooperante, com apoio técnico e financeiro da Agência Brasileira de Cooperação, por mecanismos de cooperação multilateral, como também por projetos triangulares. A grande missão do Programa Iberoamericano de Bancos de Leite Humano é se configurar como lócus de intercâmbio do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico no âmbito do aleitamento materno e dos bancos de leite humano, como estratégias de qualificação da atenção neonatal em termos de segurança alimentar e nutricional.

 

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