Fiocruz e Inpe divulgam observatório sobre clima e saúde

por
Rafael Cavadas
,
25/05/2009

A Fiocruz e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) anunciaram a criação do primeiro Observatório de Clima e Saúde da América Latina durante oficina de trabalho, em Brasília. O Observatorium, como está sendo chamado, reunirá diferentes bases de dados de instituições como o Datasus e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), agrupando informações ambientais, climáticas, humanas e de saúde pública. Ampliar a pesquisa, a tomada de decisão de gestores e a participação dos cidadãos sobre as mudanças climáticas e seus impactos na saúde são os seus objetivos. O observatório é uma encomenda do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS), ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), da Fiocruz, e ao Inpe, e conta com o apoio da Organização Pan-americana da Saúde (Opas/OMS).

A primeira oficina de trabalho para realizar um inventário das principais fontes de informação que serão incorporadas ao observatório foi realizada nos dias 19 e 20 de maio, na capital do Distrito Federal. Representantes do IBGE, do Datasus, da Agência Nacional das Águas (Ana), dos ministérios da Saúde (MS), do Meio Ambiente (MMA) e da Ciência & Tecnologia (MCT), entre outros, apresentaram suas contribuições para aprimorar o Observatório e subsidiar a melhoria da saúde ambiental – parte da saúde pública que engloba problemas que o ambiente exerce sobre o homem.

Mudanças climáticas, tais como o aquecimento das águas marítimas, derretimento das geleiras e ondas de calor – como as que varreram a Europa em 2004, têm se apresentado como um problema global de discussão desde 2000. “Somente em 2007 o setor saúde se integrou ao debate com uma oficina sobre o assunto durante a ExpoEpi”, afirma o coordenador do observatório e pesquisador do Icict, Christovam Barcellos. Na oficina de 2007, foi encaminhada a proposta para construir um observatório de clima e saúde. A incumbência foi dada ao Laboratório de Informações em Saúde (Lis), da Fiocruz, que se juntou ao Inpe para desenvolver o projeto.

A possibilidade de realizar análises de situação e identificar tendências e padrões climáticos, bem como a possibilidade de alertar e acompanhar situações de emergências são alguns dos objetivos do observatório. Ao reunir diversos bancos de dados de instituições de ensino e pesquisa, o projeto também fomentará a pesquisa, o desenvolvimento de tecnologia e a inovação em clima e saúde. Para o especialista do Inpe e também coordenador do projeto, Antônio Miguel Vieira Monteiro, um dos diferenciais do observatório é a possibilidade de o cidadão poder participar ativamente da iniciativa por meio da Base Viva, que permite ao indivíduo inserir informações sobre eventos naturais, clima e condições de saúde sem estar vinculado a nenhuma instituição. A Base Viva será disponibilizada em um espaço diferente das bases de dados institucionais, mas também poderá contribuir para pesquisas futuras.

Apesar de ser a primeira reunião de trabalho para criar o observatório, o grupo já ponderou sobre desenvolver uma versão piloto a ser lançada ainda em 2009. De acordo com Barcellos, a complexidade do tema indica que se trata de um projeto de longo prazo e que exige participação de diferentes setores e instituições. 

The Lancet publica edição sobre mudanças climáticas

Atualmente não faltam evidências de que o setor saúde deve se preocupar com as mudanças climáticas, uma vez que elas podem influenciar na propagação de vetores, na poluição do ar, na qualidade das águas, na produção de alimentos e tantas outras questões. O consultor internacional da Opas/OMS, Dr. Carlos Corvalan, que participou da reunião em Brasília, levou aos participantes a edição de maio de 2009 da Revista The Lancet em que trazia a seguinte chamada de capa: Climate chenge: is the biggest global health threat of 21st century (Mudança climática: a maior ameaça à saúde do século 21). A Lancet é uma das revistas científicas mais conceituadas no mundo. Na opinião do consultor da Opas, a escolha da revista por esse tema reforça a necessidade do discutir e pensar ações para minimizar as mudanças climáticas.

Ao analisar o cenário das mudanças climáticas no mundo, o especialista do Inpe convidado para a oficina, David Mendes, lembrou de alguns eventos naturais que tiveram grande repercussão na sociedade. Mendes comentou sobre o furacão Katrina, na região litorânea do sul dos Estados Unidos, especialmente em torno da região metropolitana de Nova Orleães, em agosto de 2005. O katrina não só causou mortes diretas, fruto de desabamentos etc, como também trouxe agravos à saúde da população com doenças relacionadas à água devido a enchentes. Catarina foi outro furacão que atingiu os estados brasileiros de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em março de 2005, causando mortes diretas, perdas na agricultura e agravos por doenças relacionadas. Além dos furacões, Mendes pontuou a seca da Amazônia de 2005 como a mais grave dos últimos cem anos.

Atlas da água é apresentado em Brasília

O Atlas Água Brasil, desenvolvido pela equipe do Laboratório de Informações em Saúde do Icict, foi apresentado durante a oficina para criar o Observatório Clima e Saúde. O Atlas, que reúne informações sobre a qualidade da água, saneamento e saúde, atingiu números significativos de acesso via Internet – cerca de mil só no mês de abril. Além do Brasil, Japão, Holanda e Angola tiveram acesso à ferramenta, que reúne bases de dados, indicadores, legislação e um glossário para dar suporte ao internauta. Para a pesquisadora do Icict, Renata Gracie, uma das vantagens conquistadas com o Atlas foi a sensibilização dos profissionais das secretarias com relação ao registro dos dados.

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