">
Entre o centro e a periferia: contextos, mediações e produção de sentidos foi o tema abordado pela pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde e membro do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces), Inesita Soares de Araújo, durante a sua apresentação no 2° dia do Colóquio Mediações e Usos de Saberes e da Informação: um diálogo França-Brasil. A pesquisadora afirmou que a comunicação é o processo de produção, circulação e apropriação de bens simbólicos, baseada na interlocução e na negociação de sentidos. “A comunicação opera como um mercado, no qual, comunidades discursivas negociam bens simbólicos. (...) Este enfoque desfaz a polaridade produção-recepção dos modelos informacionais e põe em xeque a possibilidade da transferência de significados”, alertou Inesita.
De acordo com a pesquisadora, ao invés de um processo linear, bipolar e que centraliza a palavra, a comunicação deve ser vista como um processo em rede, multipolar e que faz uma distribuição mais eqüitativa do direito a fala. “Nós procuramos potencializar a aplicação metodológica de conceitos que traduzam esse modo de pensar”, concluiu Inesita.
“Comunicação é mais uma questão de mediações do que de meios, questão de cultura e, portanto, não só de conhecimento, mas de reconhecimento”, Barbero
As pesquisadoras do Icict e chefe do Laces, Kátia Lerner e Janine Cardoso, abordaram os resultados de uma pesquisa que analisou o modo que os jovens dos bairros cariocas de Curicica e Lins de Vasconcelos lidam com as situações de risco relacionadas à Aids. “Houve muito desejo da comunidade em participar da pesquisa. O tema gerou muito interesse”, destacou Kátia. Elas estudaram como os adolescentes atribuem sentidos, fazem circular e convertem em prática as medidas de prevenção que lhes são propostas.
“Quando fizemos a entrevista com os jovens, notamos que todos eles sabiam da prevenção e tinham um discurso correto sobre o assunto. Alguns deles tinham até uma letra de funk (Melo do HIV) sobre o assunto, apesar de não ser politicamente correta. Porém, a namorada de um deles engravidou tempos depois”, salientou Kátia. De acordo com a pesquisadora, esse caso prova que há muita informação disponível sobre Aids, mas as estratégias de divulgação das instituições governamentais e não-governamentais são genéricas e não consideram os contextos locais.
Melô do HIV
Quem falou que bonde e funk só fala besteira
nós viemos com um assunto que não é de brincadeira
nós somos o téka-téka e vamos te alertar
sobre várias doenças que você pode pegar
na hora do rala e rola você diz ta muito bom
mas tem que usar camisinha pra fazer a proteção
se tu quer morrer só depende de você
é só transar sem camisinha que tu pega HIV
e essa doença não tem remédio nem cura
se pegar essa doença muito tempo tu não dura
cuidado com a Aids que a Aids te pega
é só prevenir camisinha usar.
Retirado de Araújo, I. et al. “Promoção da Saúde e Prevenção do HIV Aids no Rio de Janeiro: uma metodologia de avaliação para as políticas públicas e estratégias de comunicação”. Relatório de Pesquisa, Rio de Janeiro, Icict, Fiocruz, 2003.
Franceses e brasileiros debatem construção e organização de saberes
A interdisciplinaridade e as relações de significação na construção dos saberes foi tema da apresentação de Maria de Fátima Tálamo, que abriu o segundo dia do evento. A pesquisadora da USP afirmou que os limites entre sistema e contexto na sociedade contemporânea não são facilmente definíveis, o que torna necessária uma disciplinarização maior na dinâmica de produção e transmissão dos saberes, com maior lógica dos currículos escolares e de organização das universidades.
“O principal problema é o conflito entre produção e organização do conhecimento científico no interior da própria instituição que os integra e o papel restritivo da universidade na articulação entre espaços formais e informais de produção dos saberes”, afirmou Maria de Fátima.
A exposição Antropologia dos Saberes: um projeto interdisciplinar para as Ciências da Informação e da Comunicação, realizada pela pesquisadora da Université Lille, Annette Béguin-Verbrugge, salientou que a informação muda facilmente de suporte com as novas mídias, onde as formas documentárias se hibridizam e os repertórios culturais se misturam.
De acordo com a pesquisadora, para se inteirar da dinâmica que transforma nossa sociedade e nossa relação com o conhecimento, é necessário entender que a difusão dos instrumentos de software facilita as transferências entre mídias e as práticas da reescrita. “O objetivo para o futuro é ultrapassar a análise dos objetos para tomar consciência das dinâmicas culturais, informacionais e do jogo social no qual elas se inscrevem”, concluiu Annette.
Organização do saber e mediação documentária: exemplo do tratamento de periódicos de história em duas bibliotecas universitárias foi o assunto abordado por Josiane Senie-Demeurisse. A pesquisadora francesa discursou sobre a tendência de multiplicação dos recursos eletrônicos nas instituições e afirmou que as práticas profissionais de tratamento da informação e os usos tradicionais serão subvertidos. “Este primeiro estudo permitiu aproximar as práticas profissionais dos documentalistas em seu papel de mediação dos periódicos, qualquer que seja seu formato”, afirmou a pesquisadora em seu estudo.
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668
Este site é regido pela Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, que busca garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de toda obra intelectual produzida pela Fiocruz.
O conteúdo deste portal pode ser utilizado para todos os fins não comerciais, respeitados e reservados os direitos morais dos autores.
Comentar