Resumo: Esta tese analisa a questão da autodeterminação em saúde em relação às pessoas gagas. Para tanto será utilizado o método de análise da cartografia digital (Deleuze; Guattari, 1995), segundo a técnica geográfica de desenvolvimento crítico (Santos, 2021, 2023), associada ao esmiuçamento da análise de conteúdo (Moraes, 1999) das postagens presentes no perfil do Instagram @gagofonia, onde se promove interações comunicacionais e produção de subjetividades dissidentes. Examinamos como essas pessoas produzem outras epistemologias e outras maneiras de legitimar suas vozes, quando se inclinam a debater questões de saúde nos espaços virtualizados, utilizando-se de tecnologias digitais de informação e comunicação.
Nossa hipótese é que, embora estejamos localizados num ambiente hostil e capitalista, a dissidência ressoa como forma de indicar outros caminhos de existências, combatendo o mascaramento embranquecido social imposto (Fanon, 2008; Kilomba, 2019) e a obliteração algorítmica, que atua silenciando expressões disfluentes. Desse modo, analisaremos a possibilidade dessa conjuntura digital particularizada tornar-se uma “escrevivência digital” (Evaristo, 2020), enquanto prática de escrevivência contrafluente, conciliada à tecnogagueira como força estética e política, uma vez que envolve o processo de se expressar através da vivência da escrita, quando a disfluência da fala é questionada pelo constructo fonocêntrico.
Assim sendo, averiguamos se o ambiente digital e virtual, lócus das redes sociais ocidentais, é um território capaz de disseminar o conceito de “tecnodiversidade” (Yuk, 2020), articulado à fricção produtiva entre corpos gagos e dispositivos cosmotécnicos. Por conseguinte, discutimos até que ponto uma experiência local tecnológica possibilita verificar as problemáticas quanto à “colonialidade digital” e quanto ao “racismo algorítmico” (Faustino; Lippold, 2023). Diante disso, debatemos a plausibilidade de eleger caminhos de “contracolonialidade” (Bispo dos Santos, 2023) de maneira cibernética, mediante a ativação de práticas de fonodissidência e fonoressonância, que são conceitos que desenvolvemos e propomos com essa tese, como instrumentos críticos de escuta implicada e subversão dos regimes de fluência.
Para isso, lançamos mão dos graduadores de escala, dispositivos metodológicos que agem como pontos de curto-circuito no sistema elétrico da sociedade fonocêntrica. Assim, nos ancoramos em três fusíveis conceituais que: a escrevivência contrafluente, a obliteração algorítmica e a tecnogagueira, manejados como operadores críticos frente à normatividade comunicacional. Além disso, tomamos o SUS como um disjuntor, isto é, como instância de interrupção dos fluxos excludentes do sistema de saúde, operando como espaço ético e institucional de acolhimento à disfluência e proteção das multiplicidades comunicativas.
Título: Ainda sobre máscaras brancas: gagueira, tecnodiversidade, fonodissidência, contracolonialidade e racismo algorítmico em ambientes virtualizados
Aluna: Maria Clara Conrado de Niemeyer Soares Carneiro Chaves
Orientador: André de Faria Pereira Neto (PPGICS/Icict/Fiocruz)
Banca:
Titulares
• Drª Daniela Muzi (PPGICS/Icict/Fiocruz)
• Drª Irene Rocha Kalil (PPGICS/Icict/Fiocruz)
• Dr. Sergio Dias Guimarães Junior (UFRJ)
• Drª Cláudia Freire Vaz (UNIFESO)
Suplentes
• Dr. Sandro Torres de Azevedo (PPGICS/Icict/Fiocruz)
• Dr. Rafael Haddock-Lobo (PPGF /UFRJ)