
A quarta-feira (16/7) foi agitada na 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). A programação começou com a conferência do ministro da Educação, Camilo Santana, que contou com as presenças da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, da vice-governadora de Pernambuco, Priscila Krause, e do Prefeito do Recife, João Campos. Na ocasião, foram apresentados dados sobre a educação superior brasileira, além de avanços e investimentos em pesquisa e ciência. “Investir em ciência, pesquisa e tecnologia é garantir soberania nacional, fortalecimento da economia, equidade de oportunidades e justiça social”, destacou o ministro.
No estande da Fiocruz a movimentação também foi grande durante o dia e o ponto alto foi a visita da ministra Luciana Santos. Ela foi recebida pela coordenadora da área de Divulgação Científica da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic), Cristina Araripe, e conheceu as iniciativas que a Fundação está apresentando no espaço na SBPC Jovem.
Na programação científica do dia, a Fiocruz abriu espaço para a discussão sobre as mudanças climáticas. Pela manhã, houve a conferência Emergência climática e saúde, ministrada pelo coordenador do Observatório do Clima e Saúde da Fiocruz, vinculado ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict), Christovam Barcellos, e apresentada pelo vice-presidente da SBPC, Paulo Artaxo.
Durante a apresentação, o geógrafo ressaltou que, diante do colapso climático, as populações vulnerabilizadas, especialmente comunidades periféricas, indígenas, ribeirinhas e quilombolas, são as que sofrem os impactos com mais intensidade e o papel do SUS nesse contexto. “Uma discussão bastante incompleta que temos nesse diálogo entre clima e saúde é ‘quem são os vulneráveis? São os idosos, os quilombolas?’. E o SUS tem muito o que ensinar para a gente, porque são essas pessoas que são atendidas ou desatendidas dentro do SUS que podemos considerar vulneráveis”, explicou Christovam.
Ele destacou ainda a necessidade de medidas preventivas para evitar que a sociedade permaneça apenas contabilizando danos. “A ciência é muito importante para identificar exatamente o que está acontecendo com a saúde da população e a gente ter pistas para uma adaptação a essas mudanças de clima”, afirmou.
Nota pública: O Observatório do Clima e Saúde da Fiocruz divulgou, na última quinta-feira (17/7), uma nota pública, manifestando profunda preocupação sobre a aprovação do PL 2.159/21 no Congresso. Acesse aqui.
Sobre como essa adaptação impactaria na vida do cidadão comum, o pesquisador afirmou: “Recebemos muitos relatórios internacionais com base na Física, Química e Biologia, por exemplo. Nossa tarefa agora é traduzir o impacto desses dados em cada território. Às vezes, são crises de seca, em outras, inundações, perdas agrícolas, insegurança alimentar. Nós, pesquisadores, temos que traduzir isso para a população, para que as pessoas possam se entender dentro desse processo e procurar estratégias de adaptação mais adequadas para as suas vidas, como a melhoria das condições de habitação, saneamento e alimentação, entre outras”.
Trazendo o debate para o contexto ainda mais atual, Paulo Artaxo, falou sobre as possíveis contribuições da COP30, que acontecerá em novembro, em Belém, para o tema. “Estamos tendo reuniões com o Embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP, nas quais essas questões voltaram a ser debatidas de uma forma muito mais integrada. Ainda existe uma resistência, mas estamos tentando quebrar isso. A integração da questão de saúde com as diretrizes em relação à mitigação e, principalmente, adaptação climática é um caminho inevitável. Nós vamos precisar, urgentemente, de estratégias de adaptação climática”, afirmou o vice-presidente da SBPC.
O clima também foi o assunto abordado durante a mesa-redonda “Desinformação climática: existe uma versão brasileira da desinformação em mudanças climáticas?”, coordenada pela pesquisadora e coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública em Ciência e Tecnologia da Fiocruz, Luisa Massarani. O encontro teve como palestrantes Ana Regina Barros Rêgo Leal, professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI); Vanessa Oliveira Fagundes, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig); e Fábio Henrique Pereira, da Universidade de Brasília (UnB).
“Estamos fazendo uma série de estudos para tentar entender como se dá a desinformação climática nas diferentes redes sociais e um dos principais resultados aponta que, dependendo da rede social, essa desinformação se caracteriza de maneira diferente. O ponto principal é a gente entender melhor a desinformação em cada uma das redes para poder desenvolver ações de enfrentamento mais especificamente desenhadas”, explicou Luisa Massarani.
Já Vanessa Oliveira falou sobre os prejuízos que a desinformação pode trazer no tocante ao enfrentamento das questões climáticas e deu dicas de como enfrentar o problema. “A questão das emoções é um problema muito crítico quando tratamos da desinformação climática, porque, normalmente, os conteúdos apelam para emoções básicas, como o medo, principalmente. Isso é muito ruim, pois tira a possibilidade de ação das pessoas. Acho que trabalhar de uma forma melhor a informação desse tipo de conteúdo é uma saída. Sem apelar para o alarmismo ou negacionismo, mostrando o que podemos fazer e como podemos atuar”, pontuou. A participação institucional da Fiocruz na SBPC é organizada pela Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz (Vpeic).
*Foto: Leticia Ferreira