Poliomielite, sarampo e outras doenças evitáveis ameaçam crianças brasileiras

por
Bel Levy (Observatório de Saúde na Infância - Observa Infância)
,
09/06/2022

Crédito: Campanha de vacinação | Fiocruz pra Você 2014 | Ascom/Icict/Fiocruz

Doenças como poliomielite e sarampo, que já foram erradicadas do Brasil, além de difteria, tétano, coqueluche e formas graves de tuberculose, que também podem ser evitadas por vacinas, voltam a ameaçar as crianças brasileiras. O alerta é feito pelo Observatório de Saúde na Infância - Observa Infância na semana do Dia Nacional da Imunização (9 de junho). Dados levantados pela iniciativa apontam que as primeiras vacinas infantis do Programa Nacional de Imunização (PNI) estão chegando a cada vez menos crianças brasileiras. 

“Ao longo da última década, a cobertura vacinal tem caído para os quatro imunizantes que inauguraram o calendário básico no Brasil, em 1977: as vacinas que protegem contra sarampo, poliomielite, formas graves de tuberculose (BCG) e difteria, tétano e coqueluche (DTP). A última vez que o país alcançou a meta de 90% de bebês menores de um ano vacinados com a BCG foi em 2018” informa a pesquisadora Patricia Boccolini, coordenadora do Observa Infância e responsável pelo VAX*SIM, estudo que monitora e analisa a cobertura vacinal das crianças brasileiras. 

Para a vacina contra a poliomielite, a queda começou antes. Desde 2016, o Brasil não atinge a meta de 95% das crianças menores de 1 ano vacinadas contra a doença, que foi oficialmente eliminada no país em 1994, graças à vacinação em massa. “Em 2021, a cobertura vacinal contra a poliomielite foi a menor dos últimos 25 anos: somente 75% da população-alvo recebeu o imunizante”, alerta Patricia.

Já a DTP, vacina tríplice bacteriana que protege contra difteria, tétano e coqueluche, não chega a 95% das crianças menores de um ano desde 2013. Em 2021, a cobertura da DTP nessa faixa etária foi de apenas 75%.  “A DTP é considerada um indicador de acesso a serviços de saúde, uma vez que é uma das primeiras vacinas aplicadas fora da maternidade, por volta dos dois meses de idade. A situação é preocupante”, avalia a pesquisadora.

Sarampo

Em 2019, o Brasil perdeu o Certificado de País Livre do Sarampo, concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) em 2016. A última vez que atingimos a meta de 95% das crianças menores de um ano completamente vacinadas contra o sarampo foi em 2012, há 10 anos.  O imunizante é aplicado em duas doses: a primeira por volta do aniversário de um ano e a segunda por volta de 1 ano e 3 meses de vida da criança. 

Em 2021, pouco mais da metade das crianças que deveriam ser imunizadas contra o sarampo retornaram aos postos de saúde para completar o esquema vacinal. “Foi a menor taxa de cobertura vacinal das últimas duas décadas, o que torna a população infantil mais vulnerável a surtos e formas graves da doença”, aponta Patricia. Entre 2018 e 2021, 26 crianças de até cinco anos morreram de sarampo no Brasil. Entre 2000 e 2017, o país havia registrado uma morte pela doença, no ano de 2013. 

Sobre o VAX*SIM

O objetivo do VAX*SIM é compreender e analisar os determinantes da cobertura vacinal no território brasileiro utilizando um modelo teórico-conceitual para avaliar sua associação com fatores socioeconômicos, cobertura da atenção primária em saúde (APS) e do Programa Bolsa Família (PBF), além da influência dos padrões de disseminação de conteúdos sobre imunização nas mídias sociais.

O estudo é parte do Observatório de Saúde na Infância - Observa Infância, uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos. O objetivo é ampliar o acesso à informação qualificada e facilitar a compreensão sobre dados obtidos junto aos sistemas nacionais de informação. As evidências científicas trabalhadas são resultado de investigações desenvolvidas pelos pesquisadores Patricia e Cristiano Boccolini no âmbito do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP), do Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.

Patricia Boccolini é pesquisadora do Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão Social (NIPPIS), fruto de acordo de colaboração entre o Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). É professora adjunta da Faculdade de Medicina de Petrópolis, da Unifase, e pesquisadora colaboradora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). É graduada em Ciências Sociais (2002) e História (2007) pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ). Desenvolve pesquisas e estudos sobre avaliação de políticas públicas em saúde e sistemas de informação em saúde. 

 

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